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Chegou a vez dos indocumentados (2)

Ilka Oliva Corado

Tradução:

Na primeira parte deste artigo tratei de detalhar as razões das migrações forçadas de latino-americanos para os Estados Unidos, nas quais os tratados de livre comércio têm, muito a ver, e as constantes renovações do Plano Condor com suas agendas regionais. Mas, o que acontece com os migrantes que logram cruzar as fronteiras da morte e chegar a este país? O que os espera?

Ilka Oliva Corado*
ilka-oliva-corado350Não varia muito o tratamento dado pelo sistema com o que lhes deu seu país de origem, que os obrigou migrar; o pária é pária em todo lado, sem distinção.
Não há diferença alguma entre Obama e Trump; Hillary Clinton ia ser a continuidade das políticas de Obama. Em questão de indocumentados os democratas deportaram mais que os republicanos. Obama foi o que mais deportou na história do país, sim, o  bom Obama que resultou uma vergonha e uma enorme decepção para a comunidade afro descendente nos Estados Unidos e no mundo.
Marcha-_Inmigrantes-_EEUUAqui e agora, em tempo real, o presidente é Trump que em seus pronunciamentos quando era candidato aterrorizou a comunidade indocumentada com seus comentários racistas. Trump conseguiu em alguns meses e repetindo o mesmo discurso xenófobo, homofóbico, misógino e patriarcal desnudar-nos como humanidade, e propriamente nos Estados Unidos nos mostrou quanto estamos divididas as minorias.
Colocou sobre a mesa cada um dos nossos medos e egos, nossas arrogâncias e nossa fragmentação. Porque, saiba você que jamais a comunidade LGBTI se pronunciou pelos indocumentados, tampouco os muçulmanos, nem a comunidade afro e muito menos os gringos pobres. Como tampouco os indocumentados pelos LGBTI, nem pelos muçulmanos nem pelos afros. E assim, vice-versa em tudo. Unidos? Nunca estivemos.
Conseguirá unir-nos Trump? Será o terror que consiga sacudir-nos e fazer-nos reagir? Agora sim? Isso há que ver. Embora eu, em verdade, não creia; tivemos muitas oportunidades para ver além do nosso nariz e não pudemos ou não quisemos. Pois agora chegou a nossa vez. As minorias se viram expostas individualmente e é necessário que se defendam, e oxalá que tenham a capacidade de fazê-lo em conjunto também, pelo puro amor humano e a decência de querer que o outro também tenha os mesmos direitos.
Até o momento líderes de migrantes que há dez anos organizaram as marchas massivas não se pronunciaram; o fizeram apoiando Hillary Clinton, mas depois do terremoto Trump emudeceram e se esfumaram da cena pública. Será por terem perdido os postos de trabalho oferecidos pela candidata? Se em algum momento a administração Trump decidir eliminar o  DAPA e com isso deixar indocumentados novamente os “Sonhadores” eles aprenderiam uma enorme lição: de humanidade, de consciência, de luta, de integridade e ante tudo de solidariedade.
Com o escarmento aprenderiam que as lutas se fazem para todos e não para uns quantos. Saberiam que a integridade não se compra e não se vende. Que era a Reforma Migratória ou nada e não migalhas pelas quais eles se venderam. Saberiam que o DAPA não era apenas para seus papais, também para os milhões que têm seus filhos em seus países de origem e aqui apodrecem trabalhando por esmolas que não chegam ao salário mínimo. Saberiam, claro que sim. Aprenderiam e com dor.
Daqueles “líderes de migrantes” que há dez anos fizeram história, hoje em dia muitos são cônsules em seus países de origem e também em postos de governo na administração Obama, Será que agora que ficam sem trabalho tornarão a  fazer greves de fome, diante da Casa Branca exigindo a Reforma Migratória? Ou são capazes de se pôr aos pés de Trump.
Dizem  que somos 10 milhões de indocumentados. Pois bem, já nos enganaram: jornalistas, religiosos, artistas, políticos, defensores de direitos humanos, defensores de migrantes, e todos conseguiram levar água para seus moinhos. É tempo de que esses milhões se façam sentir e se façam ver. O tempo chegou, devemos levantar a voz, devemos exigir uma Reforma Migratória Integral.
Não é tempo de ter medo, de esconder-nos ainda mais na profundeza das sombras. É tempo, sim, para lutar pelos benefícios trabalhistas, a autorização de trabalho, o acesso ao sistema de saúde e educação. É tempo para exigir um tratamento humano.
Chegaremos a ter coragem para fazê-lo? Porque era para ontem…
*Colaboradora de Diálogos do Sul, desde território dos Estados Unidos.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Ilka Oliva Corado Nasceu em Comapa, Jutiapa, Guatemala. É imigrante indocumentada em Chicago com mestrado em discriminação e racismo, é escritora e poetisa

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