Com popularidade abaixo dos 40% e uma oposição que se resiste a negociar, Sebastián Piñera buscará levar adiante seu programa direitista no segundo e decisivo ano de mandato.
Após um primeiro ano que o próprio Piñera qualificou de exitoso, critério que as forças de oposição qualificaram pelo menos de triunfalismo excessivo, a declinante aprovação popular à sua gestão indicada pelas pesquisas parece confirmar que as promessas de ‘tempos melhores’ não estão se concretizando.
Pelo governo, e pela coalisão de partidos de direita que o apoia, o ano que começa é considerado fundamental para materializar o ‘legado’ do mandatário e, de passagem, afiançar as bases para buscar mais direita no poder nas próximas eleições presidenciais.
Isso porque em 2020 serão as eleições municipais e regionais, e no ano seguinte as presidenciais, eventos para os quais serão dirigidos todos os esforços.
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Por isso a estratégia para este 2019 está baseada em impulsionar sua política denominada ‘Chile em marcha’, centrando-se em três eixos definidos por Piñera: a agenda econômica, a segurança cidadã, e no plano social, investir maciçamente em supostos benefícios para a classe média.
Tudo indica que não será fácil, pois no aspecto econômico o prato forte será uma reforma tributária que que é rechaçada pelos partidos de esquerda e pelos sindicatos, entre outros setores.
Estes consideram que esse projeto, em vez de buscar maior equidade na distribuição de riqueza, o que poderia ajudar a impulsionar programas de saúde, educação e outros benefícios sociais, a longo prazo pretende que os mais ricos paguem menos e enriquecer ainda mais as grandes corporações.
Logo de entrada, a Central Unitária de Trabalhadores (CUT) e a Associação de Fiscalizadores de Impostos internos (Afiich) lançaram a campanha ‘Que não te passem gato por lebre’, para esclarecer a cidadania sobre as possíveis consequências da reforma tributária que, segundo as entidades, reduzirá o ônus dos grandes empresários e facilitará a sonegação de impostos.
Diante de tal rechaço, deputados de oposição consideraram inclusive a possibilidade de não legislar sobre o tema, o que implicaria em dizer adeus a um dos projetos de Piñera, que foi apresentado pelo Ministério da Fazenda em agosto de 2018 à Câmara de Deputados, e cuja discussão deverá ter prosseguimento em março na Comissão correspondente.
Piñera não duvida em qualificar de ‘obstrucionistas’ seus opositores, que por sua vez criticam o mandatário por pretender criminalizar aqueles que têm uma posição contrária à sua.
Outro projeto que está no ar, neste caso para a educação, é o dominado Admissão Justa, que o governo apresenta como uma forma de ‘premiar o mérito e o esforço’ enquanto políticos e pedagogos o qualificam como um retrocesso em relação à legislação vigente e um instrumento discriminatório.
Desde o palácio de La Moneda transcendeu que o presidente lançará seus ministros em peregrinação pelo interior do país para que promovam sua agenda nas regiões e, especialmente, buscar apoios para a aprovação da reforma tributária.
Em sua ofensiva, o Presidente tem previstas também reuniões com ‘Chile Vamos’ a coalizão de partidos de direita que o secundam e com seus ministros, para perfilar melhor a estratégia no empenho de conseguir levar adiante os seus projetos.
Inclusive, no mais recente comitê político, foi discutida a ideia de acudir à via administrativa, ou seja, governar por decreto, caso a oposição, que é majoritária, decida recusar os projetos, o que poderia complicar ainda mais nos próximos meses o ambiente político no país.
*Correspondente de Prensa Latina no Chile.