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Colômbia: a justa causa da paz e da unidade

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

Entrevista com Piedad Córdoba

Javier Calderón Castillo*
Colômbia a justa causa da paz e da unidadePiedad Córdoba é uma das mulheres mais destacadas da política colombiana. Em meio a sua agitada agenda encontrou tempo para conversar sobre muitos temas da atualidade. Mais que uma entrevista foi um diálogo reflexivo e com o cuidado que o momento político requer. A ex senadora e lutadora pela paz falou sobre suas perspectivas sobre os tempos futuros na Colômbia. Nesta conversação, amenizada por um café da manhã portenho, ela discorreu sobre muitos temas e inquietações, que reproduzimos em forma sintética para os leitores.
Piedad expressa de maneira clara e precisa suas reflexões sobre o Tratado de Paz entre o Estado e as FARC-EP. Com realismo anuncia os riscos que visualiza para impedir sua implementação; envia mensagens para que se siga avançando com as transformações na atual conjuntura de América Latina e começa a projetar o cenário possível para a construção de uma alternativa política no futuro. Para finalizar responde ao que muita gente está perguntando: Será candidata à presidência em 2018?
Piedad, como conhecedora do processo de paz desde seu início e em meio às mudanças regressivas que afetam a região,  como vê o contexto internacional para a implementação dos acordos de paz assinado em 26 de setembro?

Piedad Córdoba – Embora tenham ocorrido nos últimos anos mudanças significativas na região decorrentes de avanços das forças de direita, ainda sobrevivem os projetos alternativos como do Equador, Venezuela, Bolívia, países que tiveram muito que ver com o processo de paz e que sempre advogaram por uma saída política ao conflito colombiano. O papel que desempenharão na implementação será crucial, porque, como ficou combinado, a Celac fará parte da comissão de verificação da entrega das armas e posterior reincorporação das FARC. Além disso, muitas organizações de esquerda desses países expressaram sua disponibilidade para garantir que os acordos sejam cumpridos. Isto quer dizer que o movimento social e popular colombiano contará com esse apoio nas lutas posteriores a assinatura. Assim, creio que o contexto internacional e os projetos alternativos serão chaves para a implementação e ao mesmo tempo alguns aspectos da implementação ajudarão a fortalecer a unidade latino-americana, pois o conflito armado colombiano tem sido plataforma estratégica para os planos de desestabilização de governos alternativos na região.

Quais os riscos para a implementação dos acordos? Que papel poderiam ter  os processos de mudança na América Latina diante desses eventuais riscos?

Piedad Córdoba – Entre os riscos que podem afetar a implementação, considera que um dos mais graves é o fenômeno dos paramilitares, pois com o antecedente do extermínio da União Patriótica, sabemos quanto pode custar e retroceder um processo de paz. Se o Estado não tomar medidas políticas para se contrapor ao avanço do fortalecimento deste fenômeno, o ponto três sobre o fim do conflito estará em evidente perigo e por conseguinte os outros pontos acordados também. Outro perigo nefasto para a implementação é que o substancial do Acordo Final não seja cumprido pelo estado colombiano. Se isso chegar a ocorrer, o papel da esquerda latino-americana está na solidariedade para fortalecer a luta do movimento social e popular colombiano e exigir o cumprimento dos acordos.

Há vozes no mundo que vêm como menor o acordo alcançado. São vozes de alguns setores da esquerda colombiana e internacional que estão a minimizar os alcances do tratado de La Habana. Qual sua opinião sobre a importância do acordo de paz para Colômbia e para os projetos transformadores latino-americanos?

Piedad Córdoba – Se comparamos as causas e efeitos do conflito armado colombiano com os acordos firmados em La Habana, constatamos que são algo tímidos diante dessa magnitude. Não obstante, temos que reconhecer que o Acordo Final é o ponto de partida para a construção da Paz no país e que, depois de tantos anos de guerra, isto é histórico. Como consequência este Acordo dá ao país ferramentas necessárias para realizar as mudanças necessárias. Há um aspecto do Acordo Final que me parece dos mais importantes para os projetos latino-americanos alternativos que é a transformação das FARC em partido ou movimento político, o que, além de ampliar o espectro político do país, dará um impulso ao movimento social e popular colombiano, e estará em condições de ser uma força política com possibilidades de ser poder e governo. Isto, sem dúvida, contribuiria à unidade latino-americana e ao fortalecimento dos projetos alternativos existentes.

O ELN emitiu um comunicado público diferenciando-se dos acordos de paz com as FARC, o que leva a perceber como muito distante o desenvolvimento do processo de paz Governo-ELN, pactuado para ter início em 30 de março. Como acha que se possa avançar ou destravar esse processo de paz com o ELN? O que ocorrerá se não se inicia esse processo?

Piedad Córdoba – Crio que o cenário de implementação do Acordo Final pode ser uma grande oportunidade para que o governo e o ELN estabeleçam uma mesa de negociação. Caso isso não ocorra, pode se transformar num obstáculo para implementação do acordado em La Habana, pois o confronto militar entre esses dois atores poderia por em perigo as Zonas de Veredas de Normalização, lugares em que se realizará a entrega de armas para a reincorporação das FARC. Oxalá o governo e o ELN entendam isto e somem suas vontades para continuar avançando em direção à Paz.

Com o cenário de paz que se aproxima: Qual  projeto político alternativo se poderá construir na Colômbia? Como pensa que as FARC poderão ajudar num processo alternativo amplo?

Piedad Córdoba – Com a reincorporação das FARC as possibilidades para o fortalecimento do movimento social e popular colombiano são múltiplas, pois não se pode esquecer que a origem dessa insurgência é política e o que conseguiu acumular nesses anos de luta dará uma outra cara ao cenário político, para conquistar não só a exigência da implementação do Acordo, mas também as reformas que não foram discutidas nos acordos e que são urgentes para a consolidação da paz no país.

Em 2017 tem início a campanha presidencial para a sucessão de Santos e há muita gente perguntando: Como vê esse cenário, e, será candidata presidencial?

Piedad Córdoba – O cenário eleitoral de 2018 terá um caleidoscópio de expressão políticas e mesmo que  consigamos divisar algumas delas, esse cenário agora é incerto. Não obstante, considero que houe mais que nunca a esquerda deve forjar uma verdadeira unidade, já que está em jogo a consolidação da paz e nesse sentido, devemos insistir naquilo que nos une e esquecer os assuntos que nos separam. Assim, minha candidatura dependerá das discussões e dos espaços que as forças de esquerda consigam para tomar a decisão mais favorável sobre nosso futuro, a Paz.

*Original de CELAG – http://www.celag.org/la-causa-justa-de-la-paz-y-la-unidad-entrevista-con-piedad-cordoba/


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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