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ToggleUm grupo de ex-comandantes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) anunciou no último dia 29 seu retorno à luta armada. A medida, segundo eles, é uma resposta ao que chamaram de “traição do Estado colombiano aos acordos de paz”, pacto assinado em 2016 entre a então guerrilha e o governo da Colômbia.
O comunicado foi lido pelo ex-número dois das FARC, Iván Márquez, uma das principais lideranças da organização durante as negociações da tratativa que, em tese, encerraria o longo conflito entre a guerrilha e o Estado colombiano. O anúncio também contou com a presença de Seuxis Paucias Hernández, de codinome Jesús Santrich, e Hernán Darío Velásquez, o El Paisa.
Os dissidentes invocaram o direito “a se armarem contra a opressão” por considerarem que o governo colombiano “não cumpriu nem mesmo as mais importantes de suas obrigações, que são garantir a vida de seus cidadãos e, principalmente, evitar assassinatos por razões políticas”.
Entenda o que significa a volta desse setor das FARC à luta armada e seus desdobramentos:
Reprodução /Twitter
Dissidentes invocaram direito “a se armarem contra opressão” por considerarem que governo colombiano não cumpriu acordo de paz
Acordo de Paz
Em dezembro de 2016, após 4 anos de negociações, as FARC e o governo da Colômbia, então liderado pelo ex-presidente Juan Manuel Santos (2010-2018), assinaram um acordo de paz que prometia encerrar mais de meio século de enfrentamento.
Em decorrência da guerra interna, pelo menos 180 mil civis foram assassinados. Além disso, um em cada dez colombianos tiveram que deixar suas casas, somando quase 5 milhões de deslocamentos forçados, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU).
Como parte do acordo, cerca de 7 mil guerrilheiros deixaram suas armas e ingressaram na vida civil. A partir de 2017, a organização passou a se chamar Força Alternativa Revolucionária do Comum, mantendo a sigla “FARC”. Também por conta da tratativa, 10 cadeiras no Congresso Nacional foram garantidas ao agora partido.
O fim do conflito e a garantia de participação política, no entanto, foram apenas dois dos seis eixos pactuados entre a Colômbia e as FARC. O acordo completo possui 324 páginas e prevê iniciativas para a substituição dos cultivos ilícitos, a reforma agrária integral e políticas de reparação para as vítimas do conflito armado.
Descumprimentos
Se, por um lado, o acordo de paz agradou organismos internacionais e rendeu um Prêmio Nobel da Paz ao então presidente Juan Manuel Santos, o caminho para a implementação dos pontos pactuados se mostrou mais complicado.
O governo não cumpriu nem mesmo algumas das promessas relativas ao fornecimento de serviços básicos a algumas das comunidades afastadas, onde moradores são forçados a depender de poços não tratados.
Além disso, a perseguição política contra ex-membros da guerrilha não cessou. Segundo um relatório divulgado pela ONU em novembro de 2018, 71 ex-guerrilheiros foram mortos após a assinatura do acordo. O setor das FARC que decidiu retornar às armas fala em um número maior: 150 assassinados nos últimos dois anos.
Um dos pontos mais críticos envolvendo o descumprimento de direitos assegurados pelo acordo ocorreu em abril de 2018, quando Jesús Santrich, um dos ex-chefes das FARC, foi preso sob a acusação de tentar enviar drogas para os Estados Unidos. O processo correu em um tribunal de Nova York.
Na ocasião, o ex-guerrilheiro afirmou que as acusações fizeram parte de um complô entre a promotoria colombiana e os Estados Unidos. A Justiça estadunidense chegou a pedir sua extradição, mas a Corte Suprema colombiana decidiu por soltá-lo.
Santrich era uma das 10 pessoas ligadas às FARC com direito a uma cadeira no Congresso. No entanto, ele só conseguiu assumir o posto em junho deste ano, após sua soltura.
Outro exemplo do descumprimento do acordo ocorreu após Iván Duque assumir a presidência da Colômbia, em agosto de 2018. Crítico do processo levado à frente por seu antecessor, o mandatário se colocou contra uma série de pontos acordados. Embora o pacto original tenha 324 páginas, Duque tentou reduzi-lo a um documento muito menor, de 32 páginas.
Volta às armas
Além de Márquez e Santrich, o ex-comandante Hernán Dario Velásquez, o El Paisa, também aparece no vídeo que anuncia o retorno de parte das FARC à luta armada.
Durante o anúncio, o grupo afirma que as ofensivas não ocorrerão contra a população, mas contra forças públicas e políticas, qualificadas como “corruptas” pelos guerrilheiros.
Não é possível dizer qual o número de dissidentes, uma vez que, até o momento, a única ação do grupo foi anunciar sua volta às armas em um vídeo de 35 minutos divulgado no Youtube, no qual poucas pessoas aparecem.
Márquez afirmou que buscará uma aliança com os guerrilheiros do Exército de Libertação Nacional (ELN), e com os membros das FARC que se colocaram contra o acordo de paz durante a fase de negociação.
Segundo uma reportagem do site colombiano La Silla Vacia, no entanto, Gentil Duarte, líder do grupo mais numeroso das FARC a se opor ao acordo de 2016, recusou a possibilidade de uma aliança com Márquez. A reportagem afirma que Duarte chegou a tratar Márquez como “traidor” por sua participação no pacto.
Reação do governo
O presidente da Colômbia, Iván Duque, reagiu imediatamente após os dissidentes anunciarem seu retorno à luta armada. O mandatário comunicou que o país oferecerá uma recompensa de 3 bilhões de pesos colombianos (cerca de US$ 860 mil) para informações que levem à captura dos guerrilheiros.
“A Colômbia não aceita ameaças de nenhuma natureza e muito menos do narcotráfico. Para cada um dos delinquentes desse vídeo será fixada uma recompensa de 3 bilhões de pesos por informações que conduzam a sua captura”, afirmou em comunicado.
O anúncio deu início a uma caçada sangrenta. No dia seguinte ao que ordenou a ofensiva, nove guerrilheiros, supostamente parte do grupo de dissidentes ligados a Márquez foram mortos.
“Os criminosos estão avisados: eles que se rendam ou serão derrotados”, disse o ministro da Defesa do país, Guillermo Botero. Segundo as autoridades, os dissidentes teriam sido mortos em áreas rurais de San Vicente del Caguán, no sul do país.
Edição: Rodrigo Chagas
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