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Com forte apoio dos estadunidenses, EUA preparam sua próxima guerra. O alvo? México

Intervenção militar e outras propostas de republicanos não são efetivas, segundo especialistas, mas são populares entre eleitores que esperam por medidas “fortes”
Jim Cason
La Jornada
Washington

Tradução:

Respondendo às preocupações públicas por mortes ocasionados por fentanil e a crise de drogas nos Estados Unidos, candidatos presidenciais e legisladores republicanos estão apostando cada vez mais em propostos para implantar forças militares estadunidenses na fronteira, impor um bloqueio naval a portos mexicanos e até intervir dentro do México para bombardear organizações de narcotraficantes.

“Novo plano fronteiriço de republicanos: enviar os militares ao México”, foi a manchete de uma reportagem do Wall Street Journal nesta quarta-feira (5) que reúne propostas do ex-presidente Donald Trump e outros candidatos presidenciais republicanos como também de legisladores para enviar tropas ao México. Para explicar este impulso, o rotativo nacional (com aproximadamente 3,7 milhões de leitores), reporta que “há uma razão simples pela qual continua aparecendo a ideia de uma intervenção militar – é popular, e não só com republicanos”.

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O Journal cita uma pesquisa recente da NBC News segundo a qual o envio de tropas estadunidenses à fronteira é “a ideia simples mais preferida entre 11 propostas republicanas, entre eleitores republicanos de primárias”. Outra pesquisa elaborada pelo TIPP-Daily Mail em junho concluiu que “os eleitores, por uma ampla margem, apoiam a presença dos militares ao longo da fronteira para frear os cartéis de droga mexicanos que produzem drogas mortais e que as traficam aos Estados Unidos”. Em ambos os casos, os pesquisadores concluíram que a implantação de militares pelo menos na fronteira conta com o apoio de uma maioria dos entrevistados, muito mais que só os eleitores que se identificaram como republicanos.

O percebido fracasso de líderes políticos tanto em Washington como na Cidade do México em seus esforços para reduzir a demanda e o tráfico de drogas e o fluxo de armas criou um espaço político nos Estados Unidos para propostas que muitos analistas e especialistas consideram não efetivas, mas que são populares com os eleitores só porque parecem ser medidas fortes.  Philip Bump, colunista do Washington Post, explica que “o propósito destas propostas políticas, é claro, não é realmente oferecer soluções efetivas para frear a corrente de mortes por fentanil. Ao invés disso, apela para os eleitores republicanos nas primárias com retórica de linha dura golpeando narcotraficantes, criminosos e os facilitadores chineses” (estes últimos acusados de fornecer os químicos precursores). 

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Por não oferecer soluções efetivas, não tem diminuído o entusiasmo por estas propostas bélicas. As propostas recentes do ex-presidente Trump incluem um bloqueio naval de portos mexicanos e a presença de forças armadas na fronteira (como já reportou o La Jornada: Vale recordar que quando era presidente ordenou ao seu mando militar avaliar a possibilidade de disparar mísseis dentro do território mexicano contra operações de narcotraficantes.

Intervenção militar e outras propostas de republicanos não são efetivas, segundo especialistas, mas são populares entre eleitores que esperam por medidas “fortes”

US Army/Flickr
O governo dos Estados Unidos sequer pode evitar o ingresso de cocaína na Casa Branca

Outros candidatos presidenciais, como o governador do Florida, Ron DeSantis, ofereceram propostas parecidas, enquanto senadores republicanos como Lindsey Graham, John Kennedy e J.D. Vance, e deputados como Dan Crenshaw e Mike Waltz, advogaram por vários tipos de ações militares estadunidenses em território mexicano.

Na próxima semana, na câmara baixa do Congresso, se antecipam votos sobre diversas emendas para algumas dessas propostas dentro do projeto de lei de política militar, incluindo várias que buscam autorizar um uso mais amplo de militares na fronteira com o México. 

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Obviamente não todos estão de acordo. Entre as emendas que estão sendo formuladas, há um projeto de lei sobre política militar promovida pelos deputados democratas Chuy García e Nydia Velázquez que busca proibir explicitamente o uso de força militar não autorizada contra o México.

E comentaristas e alguns especialistas repudiaram as propostas republicanas. “Bombardear o México é uma ideia terrível”, escreveu Daniel DePetris em um artigo de opinião no Tribune na terça-feira (4), e David Frum escreve na revista Atlantic: “Guerra contra o México? Está nas cédulas de 2024, pelo menos se acreditadas na retórica de campanha de mais e mais candidatos republicanos”.

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Frum, um estrategista político republicano e que foi também crítico do Presidente do México, agrega: “Com o giro dos políticos estadunidenses de só culpar o México a expressamente ameaçar o México, o ressentimento só será intensificado”. 

A reportagem do Journal conclui perguntando ao deputado republicano Waltz, o qual se somou a seu colega o deputado Crenshaw em advogar por uma autorização de uso de força militar contra os cartéis de droga, se pensava que uma guerra contra o México ajudaria em algo. 

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Eu me oponho à reação reflexiva e automática de republicanos que querem declarar uma guerra contra a México, ou se estamos falando de uma invasão do México, isso é imaturo… Do que estamos falando é de um enfoque muito mais matizado”. Perguntado se acredita que os Estados Unidos deveriam bombardear os cartéis, o deputado respondeu que “não seria a primeira coisa que faria”.

Ao mesmo tempo, enquanto os políticos que buscam a eleição estão focados em como frear o ingresso de drogas ao país, o governo dos Estados Unidos aparentemente não pode evitar o ingresso de cocaína na Casa Branca. O Serviço Secreto anunciou na terça-feira que está investigando como apareceu um pouco de cocaína dentro de zona acessível ao público perto dos escritórios da presidência.

Jim Cason e David Brooks | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.

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