Com o desnudamento da farsa da Lava Jato e dos crimes perpetrados contra o ex-presidente Lula pelo então juiz Sergio Moro e sua gangue integrada por comparsas do MP, da PF e do judiciário, a cúpula militar se deparou com um obstáculo praticamente intransponível para a continuidade do seu projeto de poder.
Esta cúpula militar que transformou as Forças Armadas numa milícia partidária acreditava que, como desta vez tomou o poder “pela via democrática-eleitoral” [sic], conseguiria permanecer no comando do país por muitos anos. No entanto, a restituição dos direitos políticos do ex-presidente Lula, em março de 2021, causou um abalo sísmico nessas pretensões.
A popularidade do governo militar já estava fortemente desgastada pelo desastre econômico, corrupção, disparada da inflação, desemprego, miséria, isolamento internacional e também devido à atuação irresponsável e criminosa na pandemia. Com Lula no cenário, o desgaste do governo aumentou enormemente e o horizonte de poder dos militares ficou comprometido.
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O projeto de poder dos militares não tem viabilidade em contextos democráticos e de estabilidade político-institucional
O projeto de poder dos militares não tem viabilidade em contextos democráticos e de estabilidade político-institucional. Para se reproduzir e se manter, precisa de um “ecossistema” conturbado, tumultuado e plasmado por mentiras, truculência e confusões.
Por isso produzem uma hibridização da política entre a distopia e a realidade. Com jogos diversionistas, encenações e táticas de dissimulação, convertem a arena da política em teatro de operações de guerra.
A cúpula militar, em especial o Alto Comando do Exército, arquitetou a eleição do Bolsonaro em 2018 num contexto com estas características de guerra híbrida. E desde 1º de janeiro de 2019 vem desgovernando o país num ambiente de sobressaltos, incertezas e ameaças permanentes.
É falsa a ideia de uma “crise institucional”, de um conflito real entre os poderes de Estado. O que existe, na realidade, é tensão e desestabilização constante provocada unilateralmente por Bolsonaro e dirigentes fardados.
Os poderes da República não estão se digladiando nos termos em que eles tentam aparentar. O que ocorre, na realidade, são investidas unilaterais, metódicas e sistemáticas do Bolsonaro e dos generais contra o STF e o TSE. Com este padrão, geram impasses e deixam o país permanentemente em suspenso e em pânico.
Esse diversionismo é estratégico, além de conveniente. Desse modo, desviam a atenção do desastre governamental e da trágica realidade do país. E, ainda mais importante: criando um clima de guerra, de instabilidade e caos, buscam se legitimar como garantidores da democracia e da ordem em razão da “desordem” causada por eles mesmos “ver aqui: Crise institucional ou caos programado?“.
A intensificação dos ataques ao STF e ao TSE nas últimas semanas, assim como a retomada das ameaças de tumultuarem a eleição, fazem parte deste método/plano.
Com a tendência de vitória eleitoral do ex-presidente Lula em outubro, Bolsonaro e os militares passam a ter como única opção promoverem a guerra política, o caos e a balbúrdia. Porque as condições para conseguirem emplacar uma ruptura institucional já foram menos dificultosas que são hoje.
Bolsonaro e os militares não têm absolutamente nenhum compromisso com a democracia, com o país e com a população brasileira. Diante da derrota, deixarão para trás um rastro de destruição e uma terra arrasada. Apostam no caos.
A impunidade de Donald Trump e dos autores intelectuais do atentado terrorista ao Capitólio, o Congresso dos EUA, é um exemplo estimulante para as pretensões presentes e futuras da extrema-direita brasileira.
Trump hoje exerce uma influência crescente, domina o Partido Republicano – classificado por muitos autores como um partido que ameaça a democracia –, e tem chances consideráveis de se eleger novamente à presidência dos EUA em 2024.
Bolsonaro aposta que repetindo a fórmula trumpista de guerra permanente se cacifa para liderar, a partir de 1º de janeiro de 2023, a oposição mais encarniçada e mais truculenta jamais vista na história do Brasil. Para isso, não faltarão as milícias clandestinas e as “milícias institucionais” – ambas fortemente armadas.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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