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Com militares disputando eleições em todos os rincões, avança projeto de captura do poder

Jornalões dizem que 1/3 dos paulistanos são antipetistas. O que significa ser anti algo? Puro preconceito formulado para desestabilizar o PT
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

O Rio de Janeiro com 40 graus, em plena primavera, iniciou a campanha eleitoral com catorze candidatos. Fato inédito, a corrida conta com seis mulheres: Benedita da Silva (PT), Clarissa Garotinho (PROS), Glória Heloiza (PSC), Martha Rocha (PDT), Renata Souza (PSOL), Suêd Haidar (PMB)

Concorrem também, Eduardo Bandeira de Mello (Rede), Eduardo Paes (DEM), Fred Luz (Novo), Luiz Lima (PSL), Marcelo Crivella (Republicanos), Paulo Messina (MDB), Cyro Garcia (PSTU) e Henrique Simonard (PCO).

Incrível a situação do Rio. Berço político de Bolsonaro, está, da primeira esposa à última mais os três filhos, a família inteira implicada em falcatruas. 

Marcelo Crivella, o prefeito, livrou-se do impeachment e foi condenado a oito anos inelegível, mas concorre porque recorreu. E pode ganhar, já que é candidato colado no clã Bolsonaro. 

O atual governador, Wilson Witzel, está afastado por ordem judicial e a Assembleia Legislativa aprovou por 69 votos a zero iniciar o processo de impeachment. Aliás, entre os ex-governadores, Moreira Franco, Antony Garotinho, Rosinha Garotinho, Sérgio Cabral, Luiz Fernando Pezão: todos já foram ou estão presos. Dos que ocuparam o Palácio Guanabara só Benedita da Silva e Leonel Brizola não foram nem condenados nem presos.

Em Sampa…

Eu fico imaginando que se em São Paulo o Ministério Público pedisse e o judiciário investigasse os governos tucanos com seriedade, não sobraria ninguém sem ser condenado. Mario Covas com seu Rouba Anel (o Anel Rodoviário), Geraldo Alckmin com o Metrô e Trem o Metropolitano…

Jornalões dizem que 1/3 dos paulistanos são antipetistas. O que significa ser anti algo? Puro preconceito formulado para desestabilizar o PT

Pixabay
Militares são 12% dos candidatos em 2020

Por falar em Metrô, o governo do tucano João Dória acaba de anunciar que vai retomar as obras da linha 6, planejada em 2013 para ser linha das universidades a um custo de R$ 5,3 bi, paralisada desde 2016, custará agora aos cofres públicos R$ 15 bilhões.

Em São Paulo disputam agora as eleições municipais quatorze candidatos, sendo três mulheres: Joice Hasselmann (PSL), Vera Lúcia (PSTU) e Marina Helou (Rede). Além delas, Antonio Carlos (PCO), Andrea Matarazzo (PSD), Arthur do Val (Patriota), Bruno Covas (PSDB), Celso Russomanno (Republicanos), Filipe Sabará (Novo), Guilherme Boulos (PSOL), Jilmar Tatto (PT), Márcio França (PSB),  Orlando Silva (PCdoB), Levy Fidelix (PRTB).

Nesta corrida, Boulos se destaca, tendo como vice a deputada e ex-prefeita da cidade Luiza Erundina.

Antipetismo

Em São Paulo, um terço da população se declarou antipetista, dizem os jornalões. 

É possível ser tucano, votar só em candidatos tucanos, sem ser anti petista. É assim de simples. Um jogo em que tucanos e petistas disputam a preferencia do eleitor. Mas não é assim. Esse anti tem 98% de carga discriminatória. Isso de um lado.

Para Bolivar Lamonier, intelectual tido como um dos gurus dos tucanos, o significado do anti é o rechaço ao “desastre legado por Lula e Dilma”. 

Embora, nos marcos impostos pelo neoliberalismo, Lula tenha feito um governo muito melhor do que o de Fernando Henrique Cardoso — este sim entregou o país quebrado e endividado. Foi Lula quem conseguiu consertar o estrago. Dilma não teve a mesma competência, mas foi deposta não por seus erros. 

Basta ver o que foi o governo de Michel Temer. Fez o que se poderia chamar de limpeza de área. Neutralizou os movimentos sociais, principalmente os sindicatos e suas centrais, e tascou a reforma da Previdência que condena os pobres e favorece os ricos e os militares. Acabou também com os direitos trabalhistas, conquistas de séculos de luta dos trabalhadores.

Lula e Dilma jamais concordariam com isso. Essa é a diferença.

Com relação ao “desastre” que estamos vivendo, este tem como causa o sistema em vigor favorecido a partir do governo de Fernando Henrique, que da teoria à prática, resolveu fazer um país que estava no rumo da independência ser um país extremamente dependente, entreguista. 

Pensamento único

A ditadura do capital financeiro que impôs o pensamento único. Esse é o busílis da questão associado à vergonhosa submissão aos interesses de Washington. 

O país no despenhadeiro. Fernando Henrique escreve no Estadão de domingo (4) que certamente o atual ocupante do Palácio do Planalto “vai se aproveitar da ajuda emergencial aprovada pelo Congresso” para fins eleitorais e constata que por conta disso a questão da dívida vai piorar. 

Evoluiu bastante o professor “príncipe da privataria”. Nesse mesmo artigo ele se dá conta da multiplicação do número de moradores e rua e vaticina: “não vão poder tomar banho no chafariz de águas azuis”. 

Gente, não tem isso de velha política que precisa ser substituída. Substituída pelo quê? Só existe uma política e várias maneiras de exercê-la, principalmente de maneira enganosa. O que importa é conquistar o poder, não o como. O como é determinado pelas circunstâncias.

Captura do poder

Quando, por exemplo, caçaram o poder do Genuíno, Delúbio e José Dirceu, cabeça, tronco e membro do PT, só o PT não se deu conta de tratar-se de uma estratégia de captura do poder que se iniciava com a desmoralização do partido para evoluir à demonização até anular como “inimigo”.

A segunda parte dessa estratégia foi a Operação Lava Jato. Começou com procuradores e juízes recebendo do Departamento de Justiça e da Casa Branca material ilegal recolhido por agências de espionagem. A descarada promiscuidade entre os operadores da Lava Jato com agentes do FBI.

A terceira parte foi a operação de inteligência para a captura do poder através do voto em outubro de 2018. Agora estão na quarta etapa que é a de consolidação do poder conquistado e sua perpetuação…. Querem ficar 40, 50 anos, como o general Alfredo Stroessner, que ficou quase 35 anos no comando do Paraguai.

Conquistar o maior número de prefeituras e assentos nas Câmaras Municipais faz parte dos planos do governo que ocupa o Planalto. Não é por nada que 6.700 militares das forças armadas e das polícias militares disputam prefeitura e edilidade, um recorde de 12%.

Então, é importante que se saiba o que está em jogo nesta eleição. Não é para uma simples troca nas prefeituras. O que está verdadeiramente em jogo é o futuro do país: o enfraquecimento ou o fortalecimento do governo de ocupação e do servilismo aos Estados Unidos.

E a campanha pra reeleição já está a todo vapor. Bolsonaro 22, Bolsonaro presidente 22, Fechados com Bolsonaro, são os mais ativos nas redes com mais de 100 mil seguidores com planos de chegar ao milhão. E nesse vale tudo já tem gente dizendo que a urna é chinesa, não vote. 

Some-se a isso uma mídia imbecilizada, incapaz de enxergar um palmo adiante do nariz e você verá o quanto é urgente o posicionamento e o ativismo de todas as forças democráticas e anti-imperialistas.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1957. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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