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ToggleNada pode atenuar o fruto da inépcia de um ocupante do Palácio do Planalto que ofende os próprios governadores em pleno café da manhã, tropical, diante da imprensa internacional. Em pleno Palácio (20/7/19). “Daqueles governadores de paraíbas o pior é o do Maranhão. Não tem de ter nada pra ele” cochichou ele, sem notar microfone ‘on’ embaixo do próprio queixo. A resposta dos nordestinos foi antes, flash back 14 março. Na ilha de São Luiz (MA), no lançamento do ‘Consórcio de Governadores’ da região.
“Enfim o mecanismo de gestão capaz de integrar a administração regional” dizem os governadores. A menina dos olhos deles é gerar eficácia na gestão e economia no gasto público.
Flávio Dino (Maranhão) e Rui Costa, (BA) são as estrelas da constelação dos atuais gestores nordestinos. O maranhense, por exemplo, não cansa de repetir: “buscamos um salto cooperativo na integração federativa entre os estados do Nordeste. Esse ideário vai permitir que, juridicamente, atuemos em torno de determinados pontos como se fossem um só”.
Com a missão de estreitar cooperação política, econômica e social para turbinar o crescimento regional, o grupo faz sua pregação Brasil a fora. A convite da revista Carta Capital, os governadores do NE vieram a São Paulo falar sobre como pretendem integrar saúde, educação segurança e administração pública de forma compartilhada em seus estados. E mostrar os benefícios de atacar as carências da região de forma solidária.
Governo do Maranhão
Governadores dos Estados do Nordeste
Mídia Messalina
Mino Carta, mentor e diretor de redação da revista, mesmo sentado, roncou grosso: “Somos todos paraíbas”, disparou seu verbo, ao abrir o evento “Diálogos Capitais”.
Convidados já na arena: Camilo Santana (PT-CE), Fátima Bezerra (PT-RN), Flávio Dino (PCdoB-MA) e Wellington Dias (PT-PI). Antes de se dirigir à plateia, Mino Carta ainda ressaltou: “a revista sempre entendeu que o Nordeste, a partir das eleições, mostrou claramente ser um rincão especial, um lugar muito diferente do resto do país”.
Rui Costa, o presidente do grupo não veio por complicações na agenda. Mas sobraram exposições e pautas relevantes. Assim como gestores dispostos a encarar com audácia o descalabro político/social do pais na atual gestão. Se ao presidente eleito falta tato no trato com ossos e benesses do ofício, com a “paraibada”, abunda. Pena é que, com tanto esquerdista – PT e PCdoB – a fim de mostrar projetos de políticas sociais e socializantes, a mídia hegemônica praticamente ignorou o evento. Consumidores de notícia(?) não notam a “omissão” da cobertura com repórteres. Muito menos de opinólogos, como Mirian Leitão, Renato Sardenberg, entre outras cobras e lagarto.
Terra e Andrômeda
Será que pesquisas do IBGE podem ter o mesmo fim que o monitoramento do INPE na Floresta Amazônica? Por enquanto, dados oficiais de 2014, pelo menos, estão a salvo. Eles mostram, por exemplo, que as maiores variações reais do PIB – acima da média brasileira – foram no Piauí, 5,3%; Alagoas, 4,8%; Ceará, 4,2%; Maranhão, 3,9%; Paraíba, 2,9%; Bahia, 2,3%; Pernambuco, 1,9% e Rio Grande do Norte, 1,6%. Só Sergipe teve crescimento abaixo da média do país: 0,4%. Na coletiva do Consórcio, a única representante da mídia hegemônica que notei foi uma repórter da Rádio Bandeirantes, (cada vez pior do que antes). A ‘entourage’ do anfitrião diz que também apareceu gente da CBN (a Rádio que troca notícias) e ainda do DCI.
Os governadores fizeram sua parte com ardor. Se posicionaram sobre temas nacionais, como exige a situação. E não cansaram de bater na tecla do estreitamento da cooperação política, econômica e social como forma de impulsionar o desenvolvimento regional. Flavio Dino, fluente, desponta como estrela-guia. Sério pré-candidato à sucessão d’O Mulo, ele ainda terá de convencer o diretório paulista do PT que tem chances. Hoje isso parece mais distante do que a Terra de Andrômeda. De qualquer forma, sua cotação sobe dia a dia. Ele fala como poucos políticos atualmente. A cada pergunta, ele arrumava um jeito de citar a Constituição Federal:
Poder absoluto degenera
Dino diz que no artigo 60, parágrafo 4 da Constituição da República, temos as cláusulas pétreas, que são:
- Voto direto universal, secreto e periódico;
- Separação de poderes;
- Garantias individuais;
- Forma federativa de Estado.
“Por isso nosso Consórcio defende a Federação como mecanismo de limitação do poder. ‘Todo o poder absoluto degenera’”, entoa Dino como mantra.
“O grupo é afinado estritamente com a democracia, o pluralismo e com a limitação do poder”, diz, placidamente, o homem que já passou à história por derrubar a família Sarney ‘Dinossauro’ do Maranhão.
“Não somos necessariamente oposição. Por isso, defendemos a reforma tributária. Mas nunca uma reforma que aniquile a Federação – como é o caso da enganação do IVA (Imposto Valor Agregado). Ou o IBS (Bens e Serviços). Eles servem bem para hiperconcentrar receitas na união e escravizar estados e municípios.
Marx
O Consórcio NE atua nesta dimensão: “Em defesa do Estado Democrático e de direito dos estados. Não como abstração, mas sim como encarnação dos direitos de parcelas de todos os segmentos da sociedade brasileira”, professa Dino, alto e bom som, assim como os demais governadores.
“Aderimos de corpo e alma à ideia de que o mercado não pode tudo. Ele é incapaz de resolver tudo. Acreditamos que, para termos o país autenticamente unido, é preciso combater todas as desigualdades sociais regionais”, disse, para completar que tal ação deve ocorrer “numa perspectiva distributiva – portanto popular – na qual os estados procuram cumprir aquilo que os socialistas utópicos, pré Marx, já diziam ser o ‘papel indissociável do governo’”.
Mas, adverte ainda o governador, “a urna corrige o mercado. Ou seja, não cabe ao Estrado açambarcar todas as tarefas. Mas fazer aquilo que só a ele cabe: políticas distributivas, políticas sociais, perspectivas para os mais pobres. Lutamos em defesa do Estado Democrático e de Direito”.
Instância pública forte
Representar esta perspectiva democrática não significa antinomia ou oposição, mas sim diferença, segue Dino. Na perspectiva nacional, junto com seus pares, ele acredita e aposta no desenvolvimento. Tal desenvolvimento não viria por geração espontânea. Muito menos com este “Anarquismo Neoliberal”: “Sabemos que, para se desenvolver em todos os países do mundo – o Brasil ainda faz parte – é preciso que haja uma instância pública forte. Apta a fazer o cotejo de múltiplos interesses que aparecem no dia a dia da administração”.
* Amaro Dornelles é jornalista e colaborador da Diálogos do Sul
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