A novidade do Governo Bolsonaro em relação aos de FHC, Lula e Dilma, que se articularam com o protagonismo dos bancos nacionais no padrão de acumulação brasileiro, é que Guedes pretende deliberadamente quebrar o sistema financeiro nacional para usar o terror econômico e privatizar radicalmente o Estado brasileiro, liquidando-o, com atenção especial aos bancos públicos.
Para isso sua estratégia é a seguinte:
1) Aprofundar a EC 95 realizando um congelamento de gastos nominais
2) Baixar radicalmente os juros da SELIC
3) Estrangular o investimento público, restringindo radicalmente o crédito e reduzindo o BNDES a um papel decorativo
4) Destruir as reservas brasileiras vendendo dólar para abater o principal da dívida pública, fortalecendo a sua demanda pelos agentes privados, a especulação e a fuga de capitais do país. Com a dolarização da economia brasileira estaria se comprando a adesão dos banqueiros e rentistas nacionais a este processo e compensando a transição para outro modelo.
Agência Brasil
Guedes pretende deliberadamente quebrar o sistema financeiro nacional e usar o terror para privatizar radicalmente o Estado brasileiro
A essa estratégia soma-se agora, para agudizá-la, a crise internacional sistêmica
Com esses ingredientes, redução das taxas de juros, estrangulamento do investimento público e do crédito ao setor privado, liquidação das reservas brasileiras e crise internacional estão colocadas todas as premissas para a quebra do setor financeiro nacional e o uso do terrorismo econômico para sua radical internacionalização e privatização do setor público brasileiro.
Liquidando os bancos públicos, Guedes imporá ainda um muro de contenção para futuras políticas keynesianas, que se tornou o verdadeiro pavor da burguesia nacional pela sua capacidade de gerar empregos e pressões sociais.
Trata-se do capitalismo miliciano e chantagista de uma burguesia dependente que, na defensiva, abre mão do desenvolvimento das forças produtivas e vai se subordinando à liderança de uma lumpenburguesia servil que cobra comissões e vive de oportunidades cambiais para fabricar o seu próprio capital fictício.
Como venho insistindo, neste processo as poupanças das classes médias, que não tem dinamismo e informação para acompanhar essas oscilações, virará água.
A continuar neste diapasão, o nosso futuro será o capitalismo colonial, a superexploração do trabalho, o precarizado, o trabalho escravo, o neofascismo e as distopias.
Continuaremos aceleradamente transformando futuros médicos, engenheiros, assistentes sociais, psicólogos, sociólogos, advogados, dentistas, biólogos em entregadores de pizza no ubereats.
Carlos Eduardo Martins é doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor adjunto e chefe do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), coordenador do Laboratório de Estudos sobre Hegemonia e Contra-Hegemonia (LEHC/UFRJ), coordenador do Grupo de Integração e União Sul-Americana do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso) e pesquisador da Cátedra e Rede Unesco/UNU de Economia Global e Desenvolvimento Sustentável (Reggen).
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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