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Combate à corrupção na Guatemala e os tempos melhores que podem vir

João Baptista Pimentel Neto

Tradução:

A fraude estava cantada desde o momento em que os dirigentes da máxima organização do empresariado da Guatemala decidiram colaborar com a campanha da governista Frente de Convergência Nacional (FCN), tendo à frente um ator de terceira categoria, o presidente Jimmy Morales. Desde esse momento, os grandes consórcios entraram no jogo para demonstrar, uma vez mais, que seu inveterado costume de incidir a partir das sombras nos destinos do país buscando apoiar quem lhes garanta a sua já histórica hegemonia, sempre funciona.

Carolina Vásquez Araya *

Não há dúvida de que os empresários envolvidos no financiamento ilícito não esperavam ser investigados e postos em evidência. Por que iam pensar nisso quando sua manipulação das campanhas eleitorais é uma constante? Não é, por acaso, direito consuetudinário dos donos da riqueza cuidar de seus interesses sem importar qual seja o custo para o resto da cidadania? Alguma vez tiveram que pagar pelas fortunas adquiridas à custa de acordos secretos com os novos governantes a cada quatro anos?

A surpresa foi o mea culpa inesperado da cúpula empresarial diante de uma sociedade que não sabe como reagir. Alguns lhes atiram flores e confetes porque, claro, é preciso celebrar o “nobre gesto” de reconhecer seus erros (conste que só reconhecem o mais recente, o mais óbvio). Outros lhes atiram material muito menos aromático por meio das redes sociais em uma verdadeira catarse por este e outros muitos pecados que lhes são atribuídos com maiores ou menores evidências. O que vier depois será, sem dúvida e como muitos desejam, um divisor de águas não apenas para a iniciativa privada, mas também para a classe política e para a cidadania cansada do novelo de intrigas em que se converteu o panorama institucional na Guatemala.

As promessas de campanha, divulgadas em massa em todos os meios graças aos muito generosos aportes dos empresários e outros doadores anônimos, jamais foram cumpridas. Isso porque dada a tradição dos processos políticos no país, não era necessário e provavelmente os financistas nunca mais se fixariam naquilo que lhes cabia em termos de privilégios e isenções. Assim é e assim tem sido sempre durante todas as administrações da mal chamada “era democrática”.

O chefe da Cicig, Iván Velásquez.

O candidato de turno prometeu que viriam “tempos melhores”, mas nunca especificou para quem. De fato, a maneira tão radical de ficar no topo de uma plataforma de excessos o converteu em um símbolo da mediocridade de seu governo e gerou todo tipo de críticas e acusações a partir de investigações reveladoras de seus escassos dotes de administrador dos recursos do Estado. Aqueles que o acompanham na aventura tampouco são as mentes mais brilhantes do cenário político e a única coisa que vão semeando é mais rechaço e acumulando mais vapor na panela de pressão ao avalizar as mentiras e enredos de seu líder.

As ameaças de tirar do meio Iván Velásquez [da Comissão Internacional contra a Corrupção na Guatemala] — como se fosse o responsável pela situação caótica do governo — convertem-se em uma autêntica confissão de culpa e em uma tentativa inútil e perigosa para neutralizar a ação da justiça; isso, com o único propósito de blindar-se e terminar o período sem acabar na prisão, como sucedeu com seu antecessor. O futuro político da Guatemala depende agora de um empresariado limpo, de uma cidadania consciente e de uma mudança radical das regras do jogo, começando pela reforma longamente esperada da Lei Eleitoral e de Partidos Políticos. Se isso não acontecer, de nada servirão as manifestações e as confissões de culpa.

Um empresariado transparente e uma cidadania ativa poderiam propiciar a mudança.

*Colaboradora de Diálogos do Sul , da Cidade da Guatemala.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

João Baptista Pimentel Neto Jornalista e editor da Diálogos Do Sul.

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