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Comboio ultradireitista na fronteira do Texas acende alerta para ataques contra imigrantes

Segundo mídia estadunidense, convocatória de apoio ao governador Greg Abbott nas redes sociais inclui mensagens como “estamos armados e prontos”
Jim Cason
La Jornada
Nova York

Tradução:

Legisladores federais democratas do Texas, defensores de direitos de imigrantes e analistas do extremismo direitista advertiram, na semana passada, que uma série de comícios convocados na fronteira estadunidense com o México, em apoio ao governador do Texas, Greg Abbott, têm o potencial para detonar violência política e crimes de ódio contra comunidades imigrantes e latinas.

“Meios ultradireitistas difundiram o anúncio para vir a comícios em três pontos da fronteira, algo que está fazendo eco e foi magnificado por líderes políticos”, explicou Vanessa Cárdenas, diretora-executiva da Americas Voice – organização de defesa de direitos de imigrantes. “Não sabemos se haverá violência, espero que não seja o caso. Mas o que sabemos é que, quando há esse tipo de ação encabeçada por extremistas, há potencial para a violência, como no 6 de Janeiro (o assalto ao Capitólio) ou o que ocorreu em El Paso, em 2019, quando um homem supremacista branco e anti-imigrantes assassinou 23 pessoas”. 

Em um boletim de imprensa sobre os comícios direitistas convocados em Eagle Pass, Texas, Yuma, Arizona e San Ysidro, na Califórnia, os organizadores da iniciativa chamada “Retome nossa fronteira” convocam “pessoal de segurança pública e militar ativo e jubilado, veteranos, rancheiros, choferes e motociclistas” a acudir à fronteira para apoiar o governador do Texas em seu desafio às ordens do governo federal, e a uma decisão da Suprema Corte, que permitem que forças federais removam o alambrado de arame farpado no rio Bravo, instalado por Abbott, que fere e em uns casos mata migrantes que tentam cruzar. 

Os organizadores, alguns dos quais se autonomeiam “o exército de Deus”, insistem que são comícios não violentos e atos de oração em apoio ao governador texano. Mas o que preocupa legisladores é que estes encontros estão atraindo muitos elementos da ultradireita. “Estamos armados e prontos”, diz uma mensagem nas redes sociais em resposta à convocatória, informou a NBC News. Outras mensagens em sites ultradireitistas apelam à violência e até à “guerra civil”. Inclusive, um deles declara que isto será parte da “batalha final para os estadunidenses”. 

“Estou participando nesse apelo não como democrata ou como um político, mas como alguém preocupado com a segurança das pessoas no Texas e nas comunidades fronteiriças – e peço àqueles que estão nutrindo temor, ressentimento e ódio para que se detenham”, declarou o deputado federal democrata Joaquín Castro em conferência telefônica com jornalistas na quinta-feira (1). “As pessoas em Eagle Pass e outras comunidades fronteiriças são gente muito trabalhadora que merece viver pacificamente sem que suas vidas sejam enredadas neste caos político. O extremismo direitista – ou qualquer tipo de extremismo – não tem lugar em nosso país, não tem lugar no Texas”. 

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Segundo mídia estadunidense, convocatória de apoio ao governador Greg Abbott nas redes sociais inclui mensagens como “estamos armados e prontos”

Imagem: Captura de tela / Redes sociais
"Abbott deseja criar caos, criar temor e culpar os imigrantes por nossos problemas", afirma o deputado democrata pelo Texas, Greg Casar

Analistas de extremismo político advertem que o confronto entre o governador do Texas e o governo federal – inclusive depois que a Suprema Corte decidiu a favor do governo de Biden na disputa de quem tem a autoridade final sobre o manejo da fronteira internacional – “se tornou um ímã para o vigilantismo ultradireitista”. O comboio do Retome Nossa Fronteira, que estava prosseguindo até o conflito em Eagle Pass neste último fim de semana, é um exemplo deste fenômeno, explicou Devin Burghart, diretor do Institute for Research and Education on Human Rights. “Do comitê executivo do comboio até posições mais baixas, este protesto é formado por elementos perigosos: membros de milícias, pessoas que rechaçam os resultados das eleições, conspiracionistas da QAnon, pessoas que negam a covid-19 e outros direitistas”. 

Embora o tabloide conservador New York Post tenha sugerido que poderiam chegar até 700 mil aos três comícios de sábado, vídeos das caravanas nas redes sociais só mostram algumas centenas de pessoas em várias localizações. O deputado federal republicano texano Keith Self esteve promovendo a convocatória em suas redes sociais e diz que chegaria ao evento em Eagle Pass no sábado. 

De fato, o ex-presidente Donald Trump, o presidente da Câmara, Mike Johnson, e mais de 24 governadores republicanos de todo o país, publicamente declararam apoio ao governador Abbott por desafiar a Suprema Corte e o governo federal. “Tudo o que o governador Abbott precisa fazer é chamar os cidadãos, e estamos armados e prontos”, declarou um dos participantes do Retome Nossa Fronteira em suas redes sociais, segundo a NBC.

Por sua vez, o governador anti-imigrantes da Flórida, Ron DeSantis, anunciou na quinta-feira (1) que enviará mil tropas da Guarda Nacional da Flórida ao Texas. “Os estados têm todo o direito de defender sua soberania e é ótimo somar nosso apoio ao Texas enquanto o estado da Estrela Solitária trabalha para frear a invasão através da fronteira”, declarou DeSantis. “Nossos reforços ajudarão o Texas a agregar mais barreiras, incluindo arame farpado na fronteira. Não temos país se não temos fronteira”, enfatizou. 

O deputado federal democrata pelo Texas, Greg Casar, afirmou também na quinta-feira que Abbott está desafiando uma decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos, e tentando criar outro confronto com o governo federal, porque deseja criar caos, criar temor e culpar os imigrantes por nossos problemas que, na verdade, são os problemas que o governador não atendeu desde que chegou ao seu posto”.

David Brooks e Jim Cason | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.

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