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Como cometa, Sérgio Mamberti viveu, renasceu e se fez presente sempre que houve falta

O artista viveu ativamente a utopia dos governos populares de seu amigo metalúrgico em vários cargos em que, mais uma vez, se desdobrava em faltas para operar milagres
Julinho Bittencourt
Revista Fórum
São Paulo (SP)

Tradução:

Sérgio Mamberti foi um gigante. Na arte, na vida, na luta política. Onde houvesse falta, havia a sua presença. Foi ator, autor, artista plástico e militante, tanto da cultura quanto da política e dos amores.

Nascido em Santos, na nossa Santos de Plínio Marcos e Bete Mendes, lutou contra a ditadura e os desmandos. Certa vez nos viu de longe, em Pirenópolis, e veio correndo na nossa direção: “oi, gente de Santos”. Sorrimos e comemoramos aqueles dias de tanta esperança dos governos Lula.

Sérgio foi fundador do PT e, sobretudo, um dos maiores elos de ligação entre a dureza da política e o encanto da cultura. Mesmo aí, onde historicamente tudo sempre falta, Sérgio fazia das tripas coração para que as coisas se mantivessem vivas. 

Sua casa era um abrigo de artistas em trânsito, de gente dos espetáculos que precisava de abrigo. Entre seus hóspedes estiveram os Novos Baianos, Asdrúbal Trouxe o Trombone e The Living Theatre.

O artista viveu ativamente a utopia dos governos populares de seu amigo metalúrgico em vários cargos em que, mais uma vez, se desdobrava em faltas para operar milagres

Fundação Perseu Abramo
Sérgio Mamberti foi um gigante. Na arte, na vida, na luta política.

Ele estava lá, naquele inesquecível vídeo de 1989, quando diversos artistas cantavam o jingle “Lula Lá”, de Hilton Acioly.

Estava também, 32 anos depois, no ato do teatro Oficina pela liberdade de Lula, onde não conteve as lágrimas em texto emocionado. Entre os dois momentos, viveu ativamente a utopia dos governos populares de seu amigo metalúrgico em vários cargos em que, mais uma vez, se desdobrava em faltas para operar milagres.

Mamberti foi o querido Dr. Victor das minhas filhas, no lindo programa Castelo Rá-tim-bum, que nos redimiu do lixo infantil televisivo das décadas de 1980 e 90. Foi diretor e ator em vários papéis inesquecíveis no teatro, cinema e televisão. Em vários momentos de nossas vidas parecia onipresente, estava em toda a parte.

Resolveu revelar sua vida pessoal, repleta de amores, apenas agora, quando, sem saber, já se aproximava do fim. Contou publicamente que era bissexual e que teve dois grandes amores. Sua ex-esposa Vivian Mehr, com quem teve três filhos, e Ednaldo Torquato, com quem adotou uma filha.

Os dois se foram antes dele. “Sei que nunca vou me recuperar dessas duas perdas, mas a vida exige coragem e esperança para seguir em frente”, disse em declaração plena de beleza.

Sérgio Mamberti foi um cometa, uma ave rara que iluminou e irradiou nossas vidas com seu voo livre e pleno de riscos. Num setembro triste e já tão repleto de perdas e desilusões eles nos deixa, com sua missão mais do que plenamente cumprida.

Nunca esmoreceu, nem nos piores momentos. Dentro do hospital, renasceu através de cartas e depoimentos de amigos queridos. Impedido de sair por conta da pandemia, fez espetáculos virtuais no final da vida. Lutou, lutou até não poder mais. Se foi em paz como quem diz: “agora é com vocês”.

E assim será.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Julinho Bittencourt

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