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Como viabilizar a frente política? É hora de sair pra rua ou de ficar vendo a casa cair?

Impeachment tende manter o status quo, político e institucional. Com ele não se modificará nada, pois o governo permanece
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

A frente que vem sendo trabalhada é inviável. Ela só se torna viável se pensada como uma frente de salvação nacional para derrubar o governo, fazer uma transição. Tem que pensar num jogo de dois tempos. O primeiro tempo é esse. Em torno de palavras como soberania nacional, Constituição de 88, democracia, sim podemos unir amplos setores da sociedade, incluindo bolsonaristas arrependidos e as vestais intelectuais que temerão ficar do outro lado perante a história.

O Segundo tempo é o governo de transição chamar novas eleições para Presidente e vice-presidente da República. Aí sim, vamos disputar projetos.

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O senador Tasso Jereissati (Grupo Jereissati, leia-se Iguatemi), ex-governador do Ceará, presidiu o Instituto Theotônio Vilela, órgão de formação do PSDB, partido que por mais tempo ocupou a presidência, entendeu perfeitamente que não há condições de se unir em torno de uma frente pelas divergências com relação à gestão da economia. 

Realmente é difícil vislumbrar entendimento em torno dos temas álgidos como criação de emprego, manutenção de empresas, salvação da economia e a questão fiscal. Não obstante fica claro que o magnata se assustou com o chamado do porta-voz do governo de ocupação para mobilizar e armar a população.

Impeachment tende manter o status quo, político e institucional. Com ele não se modificará nada, pois o governo permanece

Reprodução: Winkiemedia
Um dos caminhos para unificação é o antinazismo e antifascismo presente nas ultimas manifestações populares

Impeachment tende manter o status quo, político e institucional. Com ele não se modificará nada, pois o governo permanece. Ademais, o Centrão não aprova, mas, mesmo se aprovasse, o processo é demorado, traumático, as coisas deixam de funcionar, os especuladores entram em campo, causam a maior agitação na bolsa e no câmbio, além do caos político e institucional numa situação de crise sanitária.

Ciro Gomes, com seu livro de Projeto Nacional está com boas propostas, faz uma crítica correta, apontando os erros e dando soluções.  Está meio perdido com relação ao tempo para as coisas. Ele diz, por exemplo, que sair agora é expor muita gente à contaminação e acha que a hora de sair é agosto ou setembro.

Meu caro Ciro, os gráficos mostram, e os cientistas confirmam que a contaminação com suas mortes não chegou ainda ao pico. Nem aqui nem nos Estados Unidos, país gêmeo na irresponsabilidade de enfrentamento. 

Tal como Fernando Henrique Cardoso, Ciro falha também na percepção do caráter do governo de ocupação ao insistir que o impeachment é a saída que a democracia brasileira infelizmente terá que tentar mais uma vez. Impeachment não é remédio para governo ruim, é punição para presidente criminoso. As condições jurídicas estão evidenciadas nas representações do PDT e de outros partidos. Há crime de responsabilidade quando ele atenta contra o regular funcionamento das instituições, confronta a autonomia da federação, aparelha órgãos públicos.

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É, as condições jurídicas estão de fato evidenciadas. Mais que isso, a conjuntura é de tempestade perfeita. Os militares sabem disso e estão se manifestando para infundir, descrença no Judiciário, assustando juizes, empresários e a sociedade com o fantasma da guerra civil. Reagiram rápido por exemplo às declarações de alguns ministros do Supremo reclamando e denunciando o caráter inconstitucional de declarações de membros da Junta Militar. 

O general da ativa, Luiz Eduardo Ramos, que ocupa a Secretaria do Governo, em pronunciamento descarta o golpe mas acrescenta que o outro lado tem que entender que não devem esticar a corda. 

No dia seguinte, ou melhor, na noite de 13 de junho, capangas dispararam uma chuva de fogos de artifício sobre o STF. Não tinha segurança guardando o prédio? Vão declarar que foguetes são inofensivos, que era festa junina? Não creio que possa ter havido abuso maior que este. E, evidentemente, eles se sentem fortes pela impunidade absoluta. Vejam que quanto mais se sentem seguros da impunidade, aumentam a agressividade e as ameaças. fascismo e nazismo se implantam assim.

Correio Brasiliense desta segunda-feira (15/6/20) dá bem essa ideia de que se julgam acima da lei e da ordem. Claro, a ordem são eles. Agora foi a vez dos oficiais da Força Aérea tirarem as manguinhas de fora e jogar merda encima do Supremo… literalmente a carta (manifesto), datada de 13 de junho, enviada ao STF começa assim: Ao Sr. José Celso de Mello Filho, e termina assim. 

“Nenhum Militar, quando lhe é exigido decidir matéria relevante, o faz de tal modo que mereça ser chamado, por quem o indicou, de general de merda”
Refere-se ao episódio em que a deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) chamou o ministro Celso de Mello de “juiz de merda” por mandar investigá-la no inquérito das fakes news.
Duplamente emerdados e… não passa nada. Essas coisas não são brincadeira de malucos. Trata-se de uma escalada…. eles é que estão esticando a corda até que consigam acabar com as instituições e com o país.

O documento, segundo os signatários, tem a concordância (autorização) do alto comando das três forças e tem a assinatura de oficiais da ativa em sua maioria.
Aeronáutica: 35 coronéis,  3 tenente coronel, 1 tenente brigadeiro, 3 major brigadeiro, 2 tenente brigadeiro, 7 brigadeiro, 1 major.

Exército: 1 tenente, 1 capitão, 6 coronéis, 1 tenente coronel, 3 general de brigada, 1 general de exército, Marinha: 11 capitão de mar e guerra, 2 vice almirante, 1 contra almirante, 1 almirante de esquadra.

O texto tenta provar que tudo o que fazem os militares é dentro do profissionalismo, em obediência a hierarquia e que nenhum Militar deixa de fazer do seu corpo uma trincheira em defesa da Pátria e da Bandeira….. nem atinge o generalato e, nele, o posto mais elevado, se não merecer o reconhecimento dos seus chefes, o respeito dos seus pares e a admiração dos seus subordinados.

E agora? O juízes fizeram a réplica, ao tentar botar juízo na boca dos militares, estes fizeram a tréplica, que está aí firmada por essa gente toda. O que vai haver agora? contra-tréplica? Vamos ficar nessa disputa verborreica até quando? Isso só aumenta a insegurança jurídica, a angústia do povo e…. enquanto isso…. a junta militar simplesmente governa na direção do abismo.

Fascismo e nazismo se implantam assim.

Hoje o capitão que não tem peias na língua, diz, segundo manchete do UOL, que processo no TSE que pode cassar chapa presidencial é ‘começar a esticar a corda’…. o julgamento é ‘inadmissível’ e alimenta uma crise política ‘que não existe’.*

Por essas e por outras, por tudo o que está acontecendo e que inevitavelmente vai acontecer, É hora de acabar com essa farra. Senhores supremos juízes: Vão dormir achincalhados? Eles estão apostando na covardia de vocês, ou, na cumplicidade de vocês. Com qual dessas imagens vocês preferem passar para a história.  É preciso coragem e essa coragem vem do povo nas ruas.  

* Correio Brasiliense desta segunda-feira (15/6/20) 


Paulo Cannabrava Filho, jornalista e editor da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1957. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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