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Comunicação: Estados têm que discutir estatização de redes sociais como Facebook, WhatsApp e Youtube

Uma das principais bandeiras de luta dos países não alinhados, tem sido por uma Nova Ordem da Comunicação e Informação. Pois bem, o mundo está em transição para uma nova ordem, com substituição de hegemonias
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

O governo pauta a mídia, a mídia pauta a mídia e forma-se o círculo vicioso da mediocridade, da falta de ética. Esse é o jornalismo que temos, com a agravante de que os militares que ocupam o governo são especialistas em técnicas de diversionismo. Pautam a mídia todos os dias.

É impressionante o comportamento da mídia hegemônica diante dos escândalos que a cada dia ocupam suas manchetes. Perderam o sentido crítico, ou melhor, quando criticam é para exigir o cumprimento de promessas de campanha: querem mais desregulamentação, mais desestatização, mais privatização, mais estrangeirização do capital. Romper com a institucionalidade, nem pensar. Ou é contra ou é cúmplice, como diria ex-primeiro-ministro português José Sócrates, na sua lógica cartesiana.  

Deveriam mostrar certa vergonha diante de tanta corrupção, pelo menos isso. Já até admitem que seria bom o impeachment de Jair Bolsonaro, sabendo, claro, que não sai da gaveta do presidente da Câmara de Deputados.

Assista na TV Diálogos do Sul:

Comunicação como instrumento de libertação

Comunicação é intercâmbio, é dialógica, horizontal, inserida no processo social como indutor da sociabilidade. Mais além das questões simbólicas, tratadas por vários teóricos, a comunicação é, concretamente, instrumento de poder. Foi transformada em arma de guerra, que se pode denominar como guerra cultural, guerra comunicacional, guerra cibernética. A palavra tornou-se a mais poderosa das armas.

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O desafio é construir o reverso. Colocar a comunicação como instrumento de libertação.  Assim como Paulo Freire viu e fez da educação uma ação libertadora, Augusto Boal fez do teatro, os comunicadores devem se imbuir dessa consciência libertadora.

Libertadora de todo tipo de opressão; libertar-se da servidão intelectual. Platão socraticamente já havia dito que essa é a pior das servidões, porque é voluntária.

Uma das principais bandeiras de luta dos países não alinhados, tem sido por uma Nova Ordem da Comunicação e Informação. Pois bem, o mundo está em transição para uma nova ordem, com substituição de hegemonias

Montagem Diálogos do Sul
As redes sociais devem ser novamente a grande arma da luta na comunicação

Não houve resposta à implantação de uma cultura de massa que, mais que qualquer outra coisa é uma cultura midiática. A sociedade até tentou, através das discussões que culminaram com a realização da Conferência Nacional de Comunicação — Confecom. Ali estava o caminho para democratizar a mídia e criar um sistema nacional de informação e comunicação. O pouco que sobrou desse sistema está a serviço dos ocupantes do governo.

Comunicação vem de conmunis, comunidade, comum. O ser social é o ser que comunica. Se constrói a cultura e se constrói a história através das mediações sociais, ou seja, comunicando.

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Nesse contexto, o papel dos meios é perverso. Ao descontextualizar a informação, por exemplo, está abstraindo e negando a história. Transformam heróis populares em demônios a serem exorcizados, prejulgam antes de sequer ter sido aberto um processo judicial e promovendo verdadeiro linchamento das pessoas.

Quando propriedade das oligarquias, houve certa liberalidade que permitia independência aos profissionais e pluralismo político. Eu fui repórter político no extinto Correio da Manhã, com absoluta liberdade; igualmente no também extinto jornal Última Hora.

Essa independência e pluralismo vai se extinguindo enquanto os meios vão sendo apropriados por grandes corporações ou ficam a mercê dos bancos e financeiras. O que prevalece é a vontade de poder e a sede de lucro. A ética se prostra diante do deus dinheiro. O que se sobressai é o pensamento único imposto pela ditadura do capital financeiro.

Fazer cumprir a Constituição para acabar com monopólios

Os monopólios nos meios de produção se repetem nos meios de comunicação. Numa perspectiva de classe há que começar com a quebra dos monopólios privados. Não é invenção de comunista. Está na Constituição liberal, capitalista de 1988, em vigor, a proibição de monopólios, notadamente na mídia. Então, deve-se iniciar exigindo o respeito à Constituição. 

Mas a luta de classes parece haver sido transformada em uma luta de frases. Impôs-se o conformismo que neutralizou o movimento sindical e demais entidades de classe, hoje meros coadjuvantes do sistema. 

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A Teologia da Prosperidade, em que cada um pode ganhar os céus através do dinheiro, também se impõe como negação da luta de classes. Enquanto a sabedoria oriental cumprimenta o deus que está no outro, assim se desenvolveram as crenças, para os fundamentalistas, o Deus mora em mim e o diabo no outro. É a ideologia do terror. Homens e mulheres queimados vivos. 

Para mais de uma plêiade de intelectuais e professores universitários, Marx está morto, e é preciso acabar com a Era Vargas. O que vale é o pensamento único imposto pelo capital financeiro. São cúmplices da desmontagem do Estado, da desindustrialização. Acabar com a Era Vargas significa acabar com os direitos trabalhistas, com as demais conquistas sociais e empenhar as riquezas nacionais.

A resistência tem que se dar desde uma perspectiva de classe. Organizar e informar a verdade à população ali no seu lócus.

A apropriação dos meios por entes religiosos constitui uma das maiores contribuições para o retrocesso civilizatório a que está o país submetido, principalmente naquelas denominações religiosas advindas dos Estados Unidos como instrumento de colonização de uma Nova Roma imperial. Cada município deste país tem uma emissora de rádio promovendo alienação. Nas grandes cidades são várias.

As grandes redes (TV, rádio, jornais, revistas, internet) estão nas mãos de oito proprietários, famílias oligarcas ou denominações religiosas. Se não alienam pelo imaginário da sociedade do espetáculo para produzir consumo, alienam através de proselitismo de uma falsa evangelização. Falsa porque estão a serviço da dominação. A verdadeira religião, a verdadeira fé é fundada na liberdade.

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Em vez de se deixar pautar pelo governo, como diz Luís Nassif, tem que se organizar para serem os corregedores do governo. O que significa? É o fiscal (de fiscalizar) máximo sobre todos os organismos da Justiça. O que torna a questão da comunicação superespecial é o fato de a nação estar em surto psicótico, com a agravante de sermos uma nação de um povo que não lê, que perdeu o senso crítico. 

O governo de ocupação, acuado, pode apelar à insurreição. O clima está mais que propício. E quem é que está preparado para enfrentar isso? A mídia tem que despertar para a realidade.

Revolução das TICs apropriadas pelos monopólios

Está em evolução uma nova revolução industrial fundada nas tecnologias de informação e comunicação, inteligência artificial, nanotecnologia e por aí adiante. 

Essa evolução coloca nas mãos de cada um de nós um tremendo poder multimídia. As possibilidades de empreendimentos são infinitas, mas o que está havendo é apropriação pelos monopólios. A anarquia reinante nas TICs favoreceu a formação dos monopólios. É urgente regulamentar. Ter um projeto de sistema de informação e comunicação voltado a promover o desenvolvimento do país, a construir a pátria soberana. 

Monopólios como o do bilionário Marck Zuckeberg, dono do Facebook, Instagram e WhatsApp, principalmente o zap-zap, constitui novidade nos Estados Unidos. Lá, antes da financeirização do sistema, havia um rígido controle sobre a dimensão dos meios, principalmente rádio e televisão.

Os monopólios podem ser socializados ou fragmentados. Em se tratando de serviço público, tem que ser gerido pelo Estado. A pane ocorrida nas redes do Zuckeberg recentemente, deixou evidente tratar-se de um serviço essencial. Essa essencialidade remete ao serviço público.

Numa perspectiva de classe, os meios podem ser públicos ou comunitários.

Comunitários, como se pensou no Peru revolucionário de Velasco Alvarado (1968-1977), ao destinar os meios às organizações da sociedade organizada. 

c. Um mercado comum euroasiático desponta no horizonte.

É hora de construir novos paradigmas. A comunicação tem que ser repensada como conceito e como sistema. De instrumento de poder de uma classe que abdicou do conceito de soberania, para instrumento de libertação, construção da soberania e da dignidade humana.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1957. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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