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Foto: Craig Piersma / Flickr

Conheça artistas que já usaram Oscar como forma de protesto

Críticas à guerra no Iraque, à repressão contra indígenas nos EUA e à violência sionista na Palestina então entre os temas abordados na cerimônia ao longo da história
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Na cerimônia do Oscar deste ano realizado há uma semana, a expressão mais direta sobre a guerra de Israel contra os palestinos em Gaza e a cumplicidade estadunidense foi do diretor do filme “Zona de Interesse”, Jonathan Glazer, o qual ao ganhar o Oscar por melhor filme estrangeiro, declarou ante a cerimônia que “Agora estamos aqui como homens que refutam que seu judaísmo e o Holocausto sejam sequestrados por uma ocupação que levou ao conflito a tantas pessoas inocentes, sejam as vítimas do 7 de outubro em Israel ou o ataque contínuo sobre Gaza, todas as vítimas, esta desumanização, como resistir?”

Seu filme, que trata da vida “normal” de um oficial nazista que vive com sua família literalmente ao lado do campo de concentração Auschwitz, foi feito, declarou Glazer, com a intenção de “confrontar-nos no presente. Não é para dizer ‘vejam que faziam então’, mas ‘veja o que estamos fazendo hoje’… Nosso filme mostra onde a desumanização leva no pior dos casos…”.

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Foi o único discurso desde o pódio sobre esse tema. Mas o repúdio dessa guerra se manifestou também pelo botão dos “Artistas por um cessar-fogo” que levavam sobre sua roupa várias estrelas, entre eles Mark Ruffalo, a cantautora Billie Eilish, a diretora Ava DuVernay e o ator Mahershala Ali – quase 400 celebridades firmaram o apelo pelo cessar-fogo, incluindo ainda Bradley Cooper, Cate Blanchett e America Ferrera.

Estas expressões dissidentes têm uma longa história no Oscar. Entre as mais famosas está uma sobre o mesmo tema palestino, quando em 1978 Vanessa Redgrave provocou controvérsia e foi vaiada ao aceitar o Oscar por melhor atriz coadjuvante em “Júlia”, quando se atreveu a denunciar “um grupúsculo de vândalos sionistas” que haviam atacado um documentário sobre palestinos. 

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Outro momento dissidente famoso foi em 1973, quando Marlon Brando enviou a atriz indígena estadunidense Sacheen Littlefeather em seu lugar para recusar seu Oscar por melhor ator em “O Poderoso Chefão”. A enviada declarou ante a cerimônia que Brando não podia aceitar em razão “do tratamento dos indígenas americanos pela indústria do cinema e da televisão hoje em dia, como também pela repressão que haviam sofrido recentemente em Wounded Knee“.

Em 2003, o documentarista Michael Moore aceitou um Oscar por seu “Bowling for Columbine”, e usou a ocasião para denunciar a invasão do Iraque pelos Estados Unidos, que havia sido lançada apenas quatro dias antes, declarando-se contra esta guerra: “Sr. Bush. Vergonha”. 

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Quando “Inside Job” ganhou o melhor documentário sobre a crise financeira em 2011, o diretor Charles Ferguson recordou ao público que após “três anos de uma crise financeira horrorosa causada por fraude massiva, nem um só executivo foi à prisão, e isso é ruim”.

Este ano não poderia faltar o ex-presidente que não aguentou não ser mencionado ao longo de toda a noite da cerimônia. Quase ao final, Trump enviou uma mensagem por sua rede social declarando que nunca havia visto um anfitrião pior que Jimmy Kimmel, que é condutor de um programa noturno na ABC. Kimmel decidiu responder, zombando do ex-presidente e concluindo a noite expressando sua surpresa de que o ex-mandatário ainda estivesse acordado: “não passou tua hora de encarceramento?”. 

A mensagem mais sintética brotou do filme mais premiado da noite, quando Cillian Murphy aceitou seu Oscar por melhor ator em Oppenheimer, sobre o físico que desenvolveu a bomba atômica. “Para o bem ou para o mal, todos estamos vivendo no mundo de Oppenheimer. Por isso, gostaria realmente de dedicar isto aos promotores da paz em todas as partes”. 

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La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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