Pesquisar
Pesquisar

Conheça o ex assessor da Casa Branca que aparece nas listas da Odebrecht no Equador

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

Esta pode ser a descoberta mais importante que as listas de propinas da Odebrecht poderia apresentar. No Equador, este caso de corrupção vai além do envolvimento de históricos líderes social-cristãos, como por exemplo, o atual prefeito de Guayaquil, Jaime Nebot, apelidado de“Matraca”. A nova descoberta é de importância tanto para o Equador como para EUA, já que se trata da possível implicação do consultor político estadunidense Mario Jesus Elgarresta, atual assessor da campanha presidencial da também social-cristã Cyntya Viteri.

Amauri Chamorro*
Jaime Nebot, alias “Matraca” 1Em outras palavras, Viteri é atualmente assessorada por um suposto membro da lista de corruptos da construtora brasileira. Até agora no Equador, todos os caminhos do caso Odebrecht conduzem aos social-cristãos. O nome de Elgarresta apareceria na lista de propinas como “Mario Agaresta”, apelidado de “Segredo 3”. Segundo fonte que não quis ser identificada, o nome está “mal impresso” mas se confirma sua identidade. O documento original apresenta erros tipográficos frequentes.
Os documentos que implicam a Elgarresta nascem da declaração da ex funcionária Conceição Andrade e se referem ao pagamento de Caixa 2 durante o período de 1987 a 1992.
O nome de Elgarresta aparece  vinculado à construção da transposição do Santa Elena iniciado em 1987, sob a presidência de León Febres-Cordeiro. Elgarresta trabalhou desde 1984 com Febres-Cordero durante o segundo turno da campanha que o elegeu presidente.
Leia também: Contra corrupção, quebram a Odebrecht, mas protegem as estrangeiras
Antes de estar envolvido nas campanhas eleitorais equatorianas, Elgarresta tinha sido assessor da campanha de Ronald Reagan em 1978 e em 1980 fez parte da equipe de transição do governo Republicano. A relação entre ambos pode ser verificada no sítio pessoal, onde inclusive conta uma carta de George Bush pai, agradecendo a dedicação e apoio ao vencedor da campanha presidencial. O fato de que um possível beneficiado pela corrupção seja um importantíssimo assessor de presidentes de EUA, já há quatro décadas, daria uma volta inesperada na história desse escândalo.
foto22-1024x611
Apesar dessas provas, este ex assessor dos presidentes Reagan e Bush não está sendo investigado pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos. Isto aumenta a percepção da parcialidade dos governos estadunidenses a favor de corruptos que atuam em seu benefício. São intocáveis pela justiça estadunidense.
Leia também: Odebrecht e os ratos peruanos
Mario Elgarresta é atualmente presidente do think tank Centro Político, com sede em Miami, que funciona como matriz do pensamento para a desestabilização dos governos progressistas na América Latina, através de estratégias políticas de guerra suja, seguindo o manual de golpe suave de Gene Sharp. Outros membros dessa organização são J.J. Rendón, Carlos Escalante, Giovanna Peñaflor e Ralph Murphine, com ampla atuação em assessorias a governos latinos. Um dos principais objetivos do Centro Político é a capacitação de consultores latino-americanos, funcionando como uma espécie de “Escola das Américas” para civis.

Conhecendo mais a Elgarresta

elgarresta-reagan-viejoElgarresta tem uma larga trajetória tanto nos Estados Unidos como em vários países da América Latina. Foi escolhido para formar um grupo de cubanos residentes em Miami que lideraram uma alta esfera econômica cujo objetivo era “elevar a imagem do presidente Reagan ante a comunidade latina e dos exilados cubanos”. Membros das comunidades cubana e latino-americana em Miami são amplamente reconhecidos como os operadores de processos de desestabilização em todo o continente, inclusive de atentados terroristas, como o perpetrado contra a delegação Olímpica Cubana, em outubro de 1976, que causou a morte de 73 pessoas. O responsável pelo atentado, pese ter assumido publicamente o ato terrorista e declarar não ter arrependimento, foi declarado inocente pela justiça estadunidense.
Depois de ter integrado a equipe de campanha de Reagan, Elgarresta chegou ao Equador em 1984 para dirigir a campanha presidencial de León Febres-Cordeiro, que venceu o social democrata Rodrigo Borja. Graças ao êxito de seu trabalho, o consultor externo se converteu em um dos homens de confiança do Partido Social Cristão. Casado com uma equatoriana, tornou-se membro da classe alta de Guayaquil.
Embora Elgarresta estivesse metido na vida social-cristã, também integrou a assessoria de Sixto Durán-Ballén e seu vice presidente, Alberto Dahik. Isto ocorreu logo depois que Elgarresta tive uma discrepância com o íntimo amigo de Jaime Nebot, Carlos “Charlie” Pareja Cordero, o “Segredo 2”, que atuou como líder da trama de corrupção de Petroecuador e atualmente está foragido da justiça. Devido a um problema interno entre ambos, “Secreto 2” e “Secreto 3”, Elgarresta não assessorou Nebot durante sua campanha presidencial e foi Capaco a encarregada e perdeu.
Mario Elgarresta conheceu a Carlos Vera, que era diretor de Comunicação da candidatura de Sixto Durán-Ballén, consolidando assim sua amizade até a atualidade. Em 2002, ambos editaram “capacitações informais” sobre campanhas eleitorais. Por essa razão, Elgarresta o citou como colaborador dentro de seu livro: “Conhecimentos práticos para ganhar eleições”.
Um ano depois de eleger como presidente do Equador a Sixto Durán-Ballén (1992), Elgarresta fundou no Equador o Instituto Latino-americano de Política Aplicada (Ilpa) junto com Alberto Dahik, Jamil Mahuad, Ana Lucía ARmijos, Henry Raad, Raúl Vallejo e Ralph Murphine. E desde então também se tornou amigo de Enrique Ayala Mora, atual candidato para o legislativo pela oposição ao governo do presidente Rafael Correa.

Vínculos com o caso Gastos Reservados

Depois de fundar o Ilpa, Alberto Dahik, como vice-presidente da República, fez pagamentos por mais de 60 milhões de sucres a Mario Elgarresta. Esse dinheiro provinha dos Fundos Reservados do Estado. Esse tipo de operação financeiro provocou a destituição de Dahik, como vice-presidente do Equador. O caso ficou conhecido como Gastos Reservados e significou a malversação de mais de 19 bilhões de sucres. Depois da fuga de Dahik a Costa Rica, nesse mesmo ano foi publicada uma lista em que figuram 287 contas para as quais haviam cheques de valores muito altos.
Mario Elgarresta não foi o único beneficiário dos Gastos Reservados. Também figuravam na lista outros destacadas funcionários como o então deputado conservador Freddy Bravo, o presidente do Banco Central do Equador, Augusto de la Torre, o ministro da Indústria, José Vicente Maldonado, o ex chanceler Diego Paredes e o ex secretário de Comunicação Enrique Proaño.

A inércia da Justiça com Elgarresta

Não é comum que um assessor das administrações Reagan e Bush estivesse implicado diretamente em dois casos de corrupção no Equador. Ademais não há nenhum pedido de investigação contra ele que atuam livremente no país colaborando para que uma social-cristã volte à presidência do Equador. Essa evidência teria implicações internacionais posto que Elgarresta já assessorou oito presidentes eleitos na América Latina e dois nos Estados Unidos.
A imprensa norte-americana e a Justiça dos Estados Unidos não consideraram se a trama corrupta da Odebrecht chega à Casa Branca. Descuido ou encobrimento? América Latina espera que neste episódio o Departamento de Justiça inclua essa figura tão nefasta para o continente em sua próxima coletiva à imprensa quando tornarão públicos os nomes dos implicados no caso Odebrecht.
*Colaborador de Diálogos do Sul, de Quito, Equador.
 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

LEIA tAMBÉM

Hugo_Chávez_Venezuela (1)
70 anos de Hugo Chávez: a homenagem venezuelana e a emancipação da Pátria de Bolívar
Maduro_Venezuela (2)
Maduro encerra campanha com “mar de gente” e anúncio de diálogo nacional para 29/07
Inácio_da_Costa_atentado_Venezuela (2)
Deputado da oposição Inácio da Costa escapa por pouco de atentado mortal na Venezuela
Yamandú_Orsi_Pepe_Mujica_Uruguai
Esquerda caminha para retomar progressismo no Uruguai após desmonte de Lacalle Pou