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Consolida-se mudança de geração no governo cubano

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

Ivet González*

O primeiro vice-presidente de Cuba, Miguel Díaz Canel, participa do ato em comemoração ao 60º aniversário do assalto ao quartel Moncada, em Santiago de Cuba. Foto: Jorge Luis Baños/IPS
O primeiro vice-presidente de Cuba, Miguel Díaz Canel, participa do ato em comemoração ao 60º aniversário do assalto ao quartel Moncada, em Santiago de Cuba. Foto: Jorge Luis Baños/IPS

Rostos mais jovens aparecem em altos cargos do governo e do Partido Comunista de Cuba (PCC), único legal no país, e mostram que se consolida a substituição da geração que liderou a Revolução no governo cubano. “A alta política deve assumir uma necessária troca de gerações, mas, salvo exceções, não há neste país uma liderança juvenil reconhecida”, disse à IPS o especialista político Hiram Hernández. Trata-se de uma “contradição publicamente reconhecida”, acrescentou.

O próprio presidente Raúl Castro indicou a importância de atualizar e redirecionar a chamada “política de quadros”, isto é, o processo de preparação de dirigentes, como parte das reformas lançadas em 2008. “Está em marcha o processo de transferência paulatina e ordenada para as novas gerações das principais responsabilidades de direção na nação”, reiterou Castro no discurso do dia 26, Dia da Rebeldia Nacional.

Essa passagem ocorre “com tranquilidade e serena confiança”, afirmou Castro no ato central dos 60 anos da tentativa de um grupo de jovens, liderados por Fidel Castro, de tomar os quartéis de Moncada, em Santiago de Cuba, e Carlos Manuel de Céspedes, em Bayamo, para iniciar pela região oriental a luta contra o ditador Fulgêncio Batista (1901-1973).

Cada 26 de julho se realiza um ato para lembrar esse feito, do qual, desta vez, participaram governantes de vários países da América Latina e do Caribe: os presidentes Evo Morales, da Bolívia, Daniel Ortega, da Nicarágua, José Mujica, do Uruguai, e Nicolás Maduro, da Venezuela, e os primeiros-ministros Roosevelt Skerrit, de Dominica, e Winston Baldwwin Spencer, de Antiga e Barbuda. “Mais de 70% dos cubanos nasceram depois do triunfo da Revolução”, em 1º de janeiro de 1959, recordou Raúl Castro.

Desde o começo deste mês as substituições foram mais evidentes, quando o Comitê Central do PCC acordou a saída de integrantes veteranos, como Ricardo Alarcón , de 76 anos, que presidiu o parlamento, até fevereiro, José Miguel Miyar Barruecos, de 80, e Orlando Lugo, de 78, entre outros. Chegaram à direção partidária 11 políticos, com idades entre 35 e 50 anos, com Félix González Viego, presidente da Associação de Pequenos Agricultores, Gladys Martínez Verdecia, a presidente do PCC na província de Pinar del Rio, e Rogelio Polanco Fuentes, embaixador de Cuba na Venezuela.

A mais jovem aquisição do Comitê Central foi Yuniasky Crespo Barquero, de 35 anos, que é primeira secretária da União de Jovens Comunistas. As últimas eleições gerais de fevereiro permitiram formar um parlamento rejuvenescido, pois 14,5% de seus integrantes têm entre 17 e 35 anos. Com isto e mais a entrada de representantes da geração intermediária, a idade média desse órgão caiu para 48 anos. Porém, a incorporação à vida política da população entre 17 e 35 anos continua sendo um desafio para a troca de gerações na direção.

“Os jovens foram considerados por décadas como apenas massa útil para executar o decidido em instâncias alheias e eles. Por diversas razões não foram criados os mecanismos políticos e institucionais para a necessária renovação”, observou Hernández, de 39 anos. Para ele, “uma boa parte dos problemas que o país enfrenta agora tem relação com esse déficit sistêmico”. “A despolitização, a frivolidade e o individualismo são valores hegemônicos muito difíceis de subverter”, pontuou, em referência a fatores de freiam a participação política juvenil.

No entanto, diante da ideia de que a juventude atual é mais apolítica, María Isabel Domínguez, do estatal Centro de Pesquisas Psicológicas e Sociológicas (CIPS), revela que esta faixa etária aposta “em formas de participação e práticas políticas” mais diversas das tradicionais. Organizações não governamentais, projetos comunitários e grupos informais e não estruturados com interesses culturais e recreativos atraem os mais jovens em Cuba, apontou Domínguez, no artigo Juventude, Participação e Práticas Políticas na América Latina.

“Temos oura maneira de ver a vida, nos expressarmos e agir, que muitas vezes não é considerada”, disse uma profissional de 25 anos que não quis ser identificada. “Os jovens não participam mais porque não nos sentimos representados”, disse esta professora que não milita em organizações políticas.

No final de 2010, os menores de 35 anos representavam 26,2% dos 11,2 milhões de habitantes de Cuba, segundo o Informe de Cuba para o Exame Periódico Universal do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, apresentado em abril. Este panorama se repete na América Latina e no Caribe, onde mais de 26% da população tem entre 15 e 29 anos, segundo o Programa para o Desenvolvimento das Nações Unidas (Pnud).

Um estudo feito em 2012 pela pesquisadora colombiana Liliana Galindo mostra que, nas cidades de Bogotá e São Paulo, este setor da população se integra a “formas de ação juvenil coletiva que não se inscrevem em nenhuma estrutura formalmente reconhecida”, como organizações não governamentais e outras instituições. O ativismo e a mobilização por meio das redes sociais e da internet é uma prática frequente da faixa jovem, mas há brechas no acesso às novas tecnologias, segundo a pesquisa Política, Juventude e Internet: Transformações e Perspectivas de Compreensão na América Latina.

*IPS de La Habana para Diálogos do Sul

 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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