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COP 26: “Economia verde” está sob assédio dos grandes abutres do capitalismo

A chamada “economia verde” está sob o assédio do grandes abutres do capitalismo mais selvagem e implacável
Armando G. Tejeda
La Jornada
Glasgow

Tradução:

A chamada “economia verde” está sob o assédio dos grandes abutres do capitalismo mais selvagem e implacável, os fundos de pensão, as petroleiras, os bancos privados em sua versão “social e sustentável” ou as fundações dos homens mais ricos do mundo – Rockefeller, Bezos-. 

Algumas das firmas que são mais associadas à destruição do meio ambiente, que são apontadas como as principais responsáveis do desastre atual – Shell, BP, Iberdrola, Stan Chart, Sinopec, PetroChina, Chevron e Gazprom, entre outras- já estão adotando posições para controlar o que muitos apontam como o “negócio do futuro” que moverá trilhões de dólares e manejará os cordões do mundo. 

Precisamente essa é uma das inquietudes que expressaram os movimentos sociais e ambientalistas, e que a imprensa transferiu aos responsáveis da Organização das Nações Unidas (ONU), que se limitaram a apontar que “o mundo está em transição” e todos “aqueles da iniciativa privada que queiram se somar, bem-vindos sejam”.

A chamada “economia verde” está sob o assédio do grandes abutres do capitalismo mais selvagem e implacável

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Evento: COP26 Inovações – 26ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima

A terceira jornada da Cúpula para a Mudança Climática da ONU de Glasgow (COP26) centrou-se em um assunto vital para o futuro, mas também um dos mais perigosos e delicados: o financiamento. 

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Ou seja, como e quem executará e controlará as ingentes quantidades de dinheiro que já estão sendo movimentadas, mas que aumentarão sensivelmente nos próximos anos, com motivo da transformação do mundo em uma economia mais sustentável. À “economia verde”, definitivamente, e à transformação das fontes de energia tradicionais por umas mais limpas e respeitosas com o meio ambiente. 

No COP26, além de líderes indígenas, das delegações dos governos, dos mais de 10 mil observadores – em sua maioria cientistas, ambientalistas, especialistas ou representantes da sociedade civil – também se soma uma comunidade mais silenciosa, que trabalha em reuniões privadas, em encontros concertados e discretos, que são os representantes das grandes corporações financeiras, petroleiras e energéticas do mundo. 

No encontro dos meios de comunicação com a secretária executiva da ONU para a mudança climática, a diplomata mexicana Patricia Espinosa, e o presidente da COP26, Alok Sharma, lhes foi perguntado diretamente: quantos representantes das empresas petroleiras, da energia, dos grandes bancos privados, se encontram credenciados e trabalhando na COP26?” E a resposta foi a seguinte: “Esse dado não o temos nem o podemos dar”. 

Mas estão presentes. E estão trabalhando muito para conseguir os contratos milionários que se avizinham e assim controlar, como o fazem agora, o futuro dessa “economia verde”. 

O bolo é apetitoso: o ponto de partida são os 100 bilhões de dólares que os países mais ricos têm previsto distribuir aos países em via de desenvolvimento, mas a todo esse dinheiro há que agregar os orçamentos locais para grandes obras de infraestrutura, a transformação da forma de vida que vai requerer novos modelos de negócio e que eles pretendem controlar. 

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Uma frase de Boris Johnson, o primeiro-ministro britânico, o sugeriu: “Temos tecnologia, os recursos e agora só falta levá-lo a cabo”. Ele se referia sobretudo aos países mais ricos e avançados tecnologicamente no mundo, que têm o conhecimento e vários anos de vantagem na locomoção elétrica, na geração de energia limpas – como a eólica ou a solar – e até os métodos de classificação, distribuição e destruição dos lixos que geramos como sociedade. Tudo é um negócio. E é o futuro.

Os bancos privados selam uma aliança

Um sinal decisivo que demonstra o afã das grandes corporações do mundo por controlar a “economia verde” é a histórica aliança que foi criada por 450 grandes firmas financeiras do mundo – incluindo bancos, fundos de pensões, empresas de seguros, consultoras em investimento de risco, a maioria procedente dos 20 países mais ricos do mundo para mobilizar 130 trilhões de dólares no clima nos próximos 28 anos. E que servirão para que os países em vias de desenvolvimento, seus governos e seu aparato produtivo financiem precisamente a transformação para uma economia mais sustentável, para o que também deverão comprar na maioria dos casos a tecnologia que foi desenvolvida pelos países mais ricos do mundo. Este conglomerado se autodenominou Aliança Financeira de Glasgow para as Zero Emissões Netas e foi criado em abril passado, precisamente para ser apresentado oficialmente em Glasgow e começar a operar a partir de agora. 

O governador do Banco da Inglaterra e enviado da ONU para o clima, Mark Carney, é um dos defensores desta aliança, ao sustentar que graças a esses fundos será mais rápida a “descarbonização” do planeta. “O dinheiro está aqui, mas esse dinheiro necessita projetos alinhados com o zero neto, assim que há uma maneira de converter isto em um círculo virtuoso muito, muito poderoso, e esse é o desafio”, disse para justificar o plano. 

Ao interesses por essa nova “economia verde” que será o negócio do futuro e portanto a que vai controlar o mundo, também se somaram as fundações de dois dos homens mais ricos do mundo, Jeff Bezos, fundador da Amazon, que anunciou um investimento de mais de dois bilhões de dólares, e a Fundação Rockefeller, que também informou que centralizará seus esforços em conseguir financiamento para a transição energética dos países mais pobres. 

A secretária Espinosa e o presidente da COP26, o britânico Sharma, foram interpelados pelos meios de comunicação precisamente sobre este tema e da inquietude que há na sociedade civil e nos movimentos conservacionistas de que sejam os mesmos que destruíram o planeta com suas explorações sem limites dos recursos naturais, os que agora controlem a nova economia sustentável: “o mundo está em transição para um novo modelo de desenvolvimento, mais limpo, mais sustentável e mais respeitosos com o  meio ambiente. Todos os que queiram somar-se a esta mudança, incluída a iniciativa privada, são bem-vindos”, respondeu Sharma. 

A China e a Rússia refutam críticas de Biden sobre seu compromisso climático

A China e a Rússia, primeiro e quinto maiores emissores mundiais de gases de efeito estufa, afirmaram tomar em sério a emergência climática, respondendo a críticas do presidente estadunidense Joe Biden na COP26, que entrou de cheio em suas complexas negociações. 

“Não estamos de acordo” com as acusações dos Estados Unidos, afirmou desde Moscou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov. E assegurou que a Rússia está desenvolvendo ações contra a mudança climática “coerentes, refletidas e sérias”. Tampouco viajou a Glasgow o líder chinês Xi Jinping, ao que Biden acusou de “dar as costas” ao “gigantesco” problema de um aquecimento global que ameaça escapar a todo controle. “Os atos falam mais que as palavras” respondeu desde Pequim um porta-voz da diplomacia chinesa, Wang Wenbin.

A maioria dos países presentes em Glasgow aceitam como objetivo um limite ao aquecimento global de +1,5ºC, e apresentaram novos recortes de emissões de gases para consegui-lo. 

Mas ontem o negociador chinês para o clima, Xie Xhenhua, recordou que esse era um objetivo desejável mas não obrigatório do Acordo de Paris de 2015. “Se nos centramos só em +1,5ºC, isso significa destruir o consenso entre todas as parte”, disse a jornalistas. “E talvez os países pedirão uma reabertura de negociações”. 


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Armando G. Tejeda Mestre em Jornalismo pela Jornalismo na Universidade Autónoma de Madrid, foi colaborador do jornal El País, na seção Economia e Sociedade. Atualmente é correspondente do La Jornada na Espanha e membro do conselho editorial da revista Babab.

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