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COP26: Jovens ativistas alertam que economia neocolonial fomenta desigualdade e morte da natureza

O consenso científico claro e contundente é que proceder com a exploração levará ao suicídio coletivo da humanidade e outros seres viventes
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

“A generosidade real para o futuro reside em dar tudo ao presente”, escreveu Albert Camus.  

Por isso, haveria que dizer obrigado ao magnífico coro de jovens de todas as esquinas do mundo que se juntaram para expressar seu amor a esta terra e com isso para todos nós, ao marchar pelas ruas de Glasgow e várias outras cidades para denunciar o “bla bla bla” de quase toda a cúpula político e econômica mundial e por seu convite a resgatar nosso futuro coletivo. 

As palavras, gritos, coros, dança e canto de jovens da África, Ásia, América Latina, América do Norte, Austrália, Oriente Médio, em aliança com representantes indígenas na chamada COP26 em Glasgow são a única coisa que oferece esperança depois de uma semana de discursos de mandatários e das delegações oficiais da maioria dos países do mundo (tudo reportado com excelência nestas páginas por nosso correspondente Armando G. Tejeda). Mas talvez o mais notável seja que a mensagem dos jovens ativistas dos países do sul não só foi escutada por suas contrapartes do norte, mas já foi integrado à narrativa comum: de que esta crise existencial da mudança climática é resultado do modelo econômico neocolonialista que fomenta a desigualdade, a exploração, o colonialismo e “a morte da natureza”. Ou seja, oferecem uma análise sistêmica e até anti-imperialista – algo mais sofisticado do que o que se atrevem a declarar as cúpulas mundiais. 

O consenso científico claro e contundente é que proceder com a exploração levará ao suicídio coletivo da humanidade e outros seres viventes

Winkiemedia
Protestos sobre o clima de jovens em Glasglow na COP 26 pautam os noticiários do mundo todo.

Ninguém pode pretender que não está sabendo das consequências mortais do contínuo uso dos hidrocarbonetos. Tampouco pode negar que Estados Unidos é o líder cumulativo em emissões dos contaminantes que nutrem o aquecimento global, e que junto com os outros países industrializados deve assumir o custo para qualquer transição ecológica necessária nos países do sul.

Mas muitos políticos demonstram seu grande talento ao reconhecer tudo isso e, ao mesmo tempo, recusar aceitar responsabilidade enquanto emitem suas grande proclamações aparentemente pensando que estão convencendo seu público. 

Diante disso, só se pode concluir que as crianças e jovens nas ruas de Glasgow e outras cidades que rechaçam todo esse “bla bla bla” são os verdadeiros adultos neste debate, e os que estão demonstrando, como afirmou Greta Thunberg, “como se vê a liderança real” diante desta crise. 

“Emergência climática é a questão política central da nossa época”, afirma Michael Löwy

Com razão políticos de todo tipo buscam desqualificar esses jovens – “não sabem do que estão falando” – e até se burlam deles. Geram suspeitas de que são uns inocentes manipulados por adultos malévolos afirmando que “não se mexem sozinhos”. Nada tão lamentável e em essência reacionário, ver e escutar progressistas em vários países se somarem a esses argumentos. 

“Por que devo estar na escola se os senhores me roubaram o futuro?” perguntam jovens em seus cartazes e em resposta àqueles “adultos” que dizem que eles deveriam estar na escola e não nas ruas e deixar esses problemas para os especialistas e os políticos. 

Corrida nuclear e mudança climática antecipam apocalipse

O consenso científico claro e contundente é que proceder com a exploração e o uso dos hidrocarbonetos, continuar com as mesmas indústrias extrativas, com os modelos agroindustriais, levam ao suicídio coletivo da humanidade e outros seres viventes. Ponto. 

Quase todo cidadão médio consciente no mundo já sabe disso, e a cada dia os meios e os jornalistas (entre os quais sou cúmplice) reportam cada vez mais histórias de desastres naturais, e novos informes e investigações que não só comprovam que as coisas estão muito mal, mas que prognosticam que as coisas serão cada vez piores. O que fazer diante do dilúvio de tanta notícia literalmente fatal? 

Pois, no mínimo, dizer obrigado aos jovens e, ainda melhor, aceitar seu generoso convite para mudar o curso desta história. Dizer obrigado pelo melhor e o mais nobre que pode fazer a juventude: rechaçar o curso atual desta história ao convidar-nos a um futuro diferente.

Leonard Cohen (a cinco anos de seu falecimeento).  Everybody Knows. 

Leonard Cohen.  Ain’t No Cure for Love. 


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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