Há dez anos, o Qatar festejou a escolha para país anfitrião do Mundial de 2022 e lançou uma série de megaprojetos de construção. Além dos sete estádios de futebol, conta-se um novo aeroporto, muitas infraestruturas rodoviárias, e até uma nova cidade para acolher a final da competição.
Para construir essas obras foram recrutados muitos milhares de imigrantes. Segundo uma reportagem do The Guardian, ascende já a 6.500 o número de imigrantes mortos neste período, com dados apenas revelados quando aos originários da Índia, Nepal, Bangladesh e Sri Lanka. Os números não incluem dados de outros países de onde chegam ao Qatar milhares de imigrantes, como as Filipinas ou o Quênia.
Os dados disponíveis desde 2011 não discriminam os óbitos por setor de atividade, mas Nick McGeehan, diretor do grupo FairSquare Projects, que acompanha a questão dos direitos laborais no Qatar, não tem dúvidas de que “uma proporção muito significativa dos trabalhadores migrantes que morreram desde 2011 só estavam no país porque o Qatar ganhou o direito a acolher o Mundial de Futebol”.
Foto OIT/Apex Image. 2011/Flickr
Construção para a Copa do Mundo em Doha, no Qatar.
May Romanos, investigadora da Amnistia Internacional, contesta a “falta de clareza em torno destas mortes”. Só uma pequena percentagem destes óbitos são declarados como acidentes de trabalho. Entre os migrantes indianos, 80% dos óbitos foram declarados como “mortes naturais”, o mesmo acontecendo a quase metade dos nepaleses, apesar de na sua maioria serem trabalhadores jovens. A percentagem de suicídios nas causas de morte é elevada entre estes trabalhadores – 6% no caso dos nepaleses, 10% nos indianos.
O calor intenso também já foi apontado como um fator presente em muitas mortes de trabalhadores, com a própria Organização Internacional do Trabalho a sublinhar que pelo menos durante quatro meses do ano os trabalhadores ao ar livre estão sujeitos a um stress de calor significativo.
“Apelamos ao Qatar para alterar a sua lei das autópsias, de forma a exigir investigação forense a todas as mortes súbitas ou inexplicadas, e a aprovar legislação que exija referência à causa clínica da morte em todas as certidões de óbito”, diz por seu lado Hiba Zayadin, investigadora da Human Rights Watch, também citada pelo diário britânico.
Por seu lado, um porta-voz do governo do Qatar procurou desdramatizar o fenômeno da morte de imigrantes, afirmando ao The Guardian que “a taxa de mortalidade nestas comunidades está em linha com o tamanho e a demografia da população. Contudo, cada vida perdida é uma tragédia e não se poupam esforços para prevenir cada morte no nosso país”.
Redação Esquerda.Net
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
Assista na Tv Diálogos do Sul
Se você chegou até aqui é porque valoriza o conteúdo jornalístico e de qualidade.
A Diálogos do Sul é herdeira virtual da Revista Cadernos do Terceiro Mundo. Como defensores deste legado, todos os nossos conteúdos se pautam pela mesma ética e qualidade de produção jornalística.
Você pode apoiar a revista Diálogos do Sul de diversas formas. Veja como:
- Cartão de crédito no Catarse: acesse aqui
- Boleto: acesse aqui
- Assinatura pelo Paypal: acesse aqui
- Transferência bancária
Nova Sociedade
Banco Itaú
Agência – 0713
Conta Corrente – 24192-5
CNPJ: 58726829/0001-56
Por favor, enviar o comprovante para o e-mail: assinaturas@websul.org.br - Receba nossa newsletter semanal com o resumo da semana: acesse aqui
- Acompanhe nossas redes sociais:
YouTube
Twitter
Facebook
Instagram
WhatsApp
Telegram