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Crianças e adolescentes indígenas têm o dobro de risco de morrer de Covid no Brasil, aponta estudo

Pesquisadores da UFMG traçaram perfil de 11 mil meninas e meninos hospitalizados. Pacientes das regiões Nordeste e Norte tiveram maior risco de desfecho adverso, na comparação com os da região Sudeste
Mariana Franco Ramos
De Olho Nos Ruralistas
São Paulo (SP)

Tradução:

Crianças e adolescentes indígenas apresentam ao menos o dobro de risco de morte por Covid-19 em relação às de outras etnias no Brasil. A conclusão é de um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), publicado no dia 10 na revista The Lancet Child and Adolescent Health. Os pesquisadores traçaram o perfil de 82.055 meninas e meninos hospitalizados, dos quais 11.613 tiveram comprovação da doença.

As informações foram extraídas do Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe). Os dados são referentes ao período de 16 de fevereiro de 2020 a 09 de janeiro de 2021 e incluem internações em hospitais públicos e privados de todo o país.

Além da etnia, são fatores de risco a idade e a macrorregião geográfica de origem. A mortalidade foi maior entre menores de dois anos e em adolescentes (12 a 19 anos). Pacientes das regiões Nordeste e Norte tiveram maior risco de desfecho adverso, na comparação com os da região Sudeste.

Pesquisadores da UFMG traçaram perfil de 11 mil meninas e meninos hospitalizados. Pacientes das regiões Nordeste e Norte tiveram maior risco de desfecho adverso, na comparação com os da região Sudeste

Reprodução
Comunidades Waphuta e Kataroa registraram mortes em janeiro

Outro aspecto observado foi o aumento progressivo da incidência de mortes com base no número de comorbidades, ou seja, doenças pré-existentes. Questões como vulnerabilidade social e acesso reduzido à saúde também pesaram para o pior prognóstico dos pacientes brasileiros na comparação com levantamentos feitos em outras partes do mundo.

O Brasil ultrapassou a marca de 505 mil mortes por Covid-19, fruto da necropolítica de Jair Bolsonaro. Entre as vítimas estão ao menos nove crianças de 1 a 5 anos que morreram em janeiro nas comunidades Waputha e Kataroa, em Roraima, conforme o Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana (Condisi YY).

De Olho nos Ruralistas homenageia cada uma dessas vítimas. Mas clama por uma cultura da memória.

Assista ao vídeo:

Faltam UTIs pediátricas

No grupo de pacientes com diagnóstico comprovado para o novo coronavírus, 886 (7,6%) morreram no hospital (em média seis dias após a admissão na unidade), 10.041 (86,5%) receberam alta, 369 (3,2%) estavam internados no momento da análise, e não havia informações sobre o desfecho em 317 casos (2,7%).Desigualdades impactam desfechos da doença em crianças brasileiras. (Foto: Arquivo/EBC) 

A probabilidade estimada de morte foi de 4,8% durante os primeiros 10 dias após a internação, 6,7% nos primeiros 20 dias e 8,1% ao fim do estudo.

Das crianças e dos adolescentes que foram a óbito, 214 (28,9%) eram brancos, 493 (66,5%) negros (pretos ou pardos, no critério utilizado), 8 (1,1%) asiáticos e 26 (3,5%) eram indígenas.

De acordo com o Censo de 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população brasileira é 47,5% branca, 43,4% parda, 7,5% preta, 1,1% amarela e apenas 0,4% indígena.

Enquanto no Reino Unido a análise indicou mortalidade de 1% (todas com comorbidades), no estudo feito com dados do Brasil esse índice foi de 7,6%. Na avaliação dos pesquisadores, os poucos recursos disponíveis para a assistência à saúde, incluindo a pequena disponibilidade de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) pediátricas, podem ter impactado o quadro.

A pesquisa foi financiada com recursos da Fapemig e do CNPq. Segundo a UFMG, nenhum outro levantamento sobre o tema valeu-se de uma população pediátrica tão grande.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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