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Cristina Kirchner: "Políticas do FMI não deram certo em nenhum país"

"Este dinheiro não devia ter saído. Poderia ter sido evitado”, declarou ainda a vice-presidenta em referência ao empréstimo feito por Macri
Redação Resumen LatinoAmericano
Resumen LatinoAmericano
Buenos Aires

Tradução:

A vicepresidente Cristina Fernández de Kirchner apresentou-se no Teatro Argentino de La Plata por ocasião do lançamento da Escola Justicialista Néstor Kirchner na capital de Buenos Aires, na última quinta-feira (27), onde assegurou que “a inflação não para com a dolarização” e criticou duramente o vínculo entre Javier Milei e Domingo Cavallo. O ato contou com a presença de boa parte da direção da Frente de Todos.

Entre as principais definições, esclareceu que “ninguém diz que não se deve pagar” ao FMI, “ além da discussão das sobretaxas”, embora tenha defendido que “sejam revistas as condicionalidades” do acordo.

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E o clássico elogio ao capitalismo: “Volto a repetir o que já disse em muitas oportunidades: O capitalismo é o modo de produção de bens e serviços mais eficiente”…

Trata-se do primeiro aparecimento público da vice-presidenta depois do anúncio da decisão do presidente Alberto Fernández de não candidatar-se para um próximo mandato nas eleições de outubro, e ocorreu no mesmo dia em que uma equipe de funcionários do ministro da Economia, Sergio Massa, viajou para os Estados Unidos para rediscutir o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

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Na prévia, o ex-ministro de Educação da Nação e titular da UMET, Nicolás Trotta, fez as apresentações da palestra de CFK. Só depois foi apresentado um vídeo promocional do instituto de formação política.

“A Argentina circular: o FMI e sua histórica receita de inflação e recessão. Fragmentação política e concretização econômica”, foi o título da aula magistral dada em um teatro repleto que dizia em coro “Cristina presidente”. Escolheu responder pedindo “que não se façam de rulos”.

"Este dinheiro não devia ter saído. Poderia ter sido evitado”, declarou ainda a vice-presidenta em referência ao empréstimo feito por Macri

Reprodução – Twitter
Cristina Kirchner: “A política não é só em um ato. É quando estamos na escola, na quadra, na rua"




As principais frases do discurso de Cristina em La Plata

“A Argentina está em uma situação em que figuras, ideias e fatos do passado parece que querem vir novamente instalar-se no presente para condicionar-nos e condicionar o futuro”.

“A convertibilidade acabou como começou. Começou com um senhor de olhinhos claros, que agora tem discípulos também de olhinhos claros. O primeiro era careca. A história da convertibilidade é a história da dolarização”.

“O Plano Bonex foi pago recentemente, em 1999, dez anos depois. O senhor de olhinhos claros pôde anunciar a convertibilidade um ano depois. Foi feito com os dólares das privatizações. Começaram a ser destruídas a indústria e os postos de trabalho”.

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“Não há que enamorar-se da Vaca Morta se não temos valor agregado”.

“Convoquemos os jovens para pensar além dos 20 minutos do TikTok. Porque se não sabemos de onde viemos não sabemos para onde vamos”.

“Somos um país industrial, com energia nuclear. Se olharmos o que acontece no Equador, a inflação não para com a dolarização. Como não emite moeda, não há possibilidade de ter uma política monetária, como tivemos com a covid para fazer frente aos gastos com saúde e vacinas. Pensar a dolarização como resposta à inflação… temos que ver o que ocorre no Equador: não para com a dolarização. Como não emite moeda, não tem como ter política monetária e se endivida em divisas”.

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“Quando se emite para os bancos como Lehman Brothers em 2008 parece que isso não produz inflação”.

“Substituamos um pouco os atos pelo corpo a corpo com os cidadãos e cidadãs, travando o debate”.

“Que querem com isso da dolarização? No Infobae, o economista Emilio Ocampo propôs transferir o Fundo de Garantia de Sustentabilidade dos aposentados para o exterior. O FGS tem participação acionária nas principais empresas argentinas (…) Quando foram privatizados os recursos dos trabalhadores nas AFJP foram emprestados às principais companhias. Não era mal, era um mercado de capitais. Mas veio alguma vez algum titular de TN propor que emprestem ações do FGS a empresas argentinas? Não”.

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“Clarín tinha um sócio, um banco norte-americano, que com a desvalorização brutal, ia ficar com tudo. O Parlamento votou leis para protegê-lo. Quando voltam estas teorias que foram muito prejudiciais para a sociedade, a gente diz: será possível que estejamos discutindo o que fracassou e foi por água abaixo há 20 anos? O que acontece conosco, compatriotas? Que não me queiram convencer que temos que voltar atrás para resolver este presente”.

“Temos crescimento com baixos salários. Estamos diante de um novo fenômeno. Trabalhadores em relação de dependência, pobres. O emprego gerado depois da pandemia é informal, com muito monotributo. Não tem nada a ver com o modelo que gerava desindustrialização e desemprego”.

“O Fundo Monetário Internacional é uma presença que nós, como projeto político, expulsamos, o que a partir de 2005 pôde iniciar um ciclo virtuoso em que os trabalhadores puderam participar da distribuição da renda em mais de 50%. Que da oposição nos venham falar dos últimos 20 anos, nos dói.”

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“O acordo com o FMI é inflacionário porque é uma receita enlatada que aplicam em cada país. As políticas do Fundo não deram certo em nenhum país. É necessário rever este acordo”.

“Dizem que no FMI há falcões e pombas. É como na oposição. Só voam os falcões e as pombas. Os pinguins vamos todos juntinhos, de cá para lá. Me custa entender então a lógica. Sozinhos não chegamos a lugar nenhum”.

“Em programas sociais gasta-se 1,9% do PBI. Em isenções e moratórias de dívida, mais de 4%. Eu me queixo mais dos que têm dinheiro e não pagam impostos. Se revisássemos a base tributária, não teríamos déficit fiscal”.

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“Basta do slogan do déficit fiscal. Fazem fila os candidatos para os encontros com empresários para dizer-lhes quanto vão pagar às pessoas, quanto vão ajustar. Não é viável politicamente, o que querem fazer com o país e a sociedade? Temos que fazer uma discussão mas com números claros”.

“Estava vendo um artigo do chefe do Governo portenho (Horacio Rodríguez Larreta) que disse que é preciso fazer uma brutal desregulamentação econômica como a de (Domingo) Cavallo. O que querem fazer com o país e a sociedade?”

“Tivemos um superávit de 45 bilhões de dólares em dezembro de 2019, que se foi em pagamento da dívida de empresas privadas. Este dinheiro não devia ter saído. Quem vai emprestar bilhões de dólares no exterior se não há garantias? Poderia ter sido evitado”.

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“O grau de concentração da economia e frente a estes setores concentrados, é um fenômeno global, uma política, ou seja um Estado cada vez mais fragmentado, mais dividido. Quem os políticos vão convencer hoje de que vão poder controlar o que faz o poder econômico concentrado? Que não me encham mais com estas fantasias”.


“A casta tem medo? Que medo, se nunca te aconteceu nada, irmão?”

A vice-presidenta fez referência às causas jurídicas contra ela e à tentativa de assassinato que sofreu. Voltou a dar indícios de que não vai participar das eleições deste ano.

A vice-presidenta Cristina Fernández de Kirchner afirmou nesta quinta-feira em seu discurso no Teatro Argentino de La Plata que “não é casual que a única dirigente política que foi condenada, proscrita, inabilitada e que tentaram assassinar é uma só”, ainda que não quisesse ser “autorreferente”, e provocou o dirigente libertário Javier Milei ao advertir: “Esses arruaceiros que andam dizendo que a casta tem medo, de que? Se nunca te aconteceu nada, irmão. Caras duras!”.

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“Medo tenho de que meus netos possam crescer em um país tão injusto e tão desigual”, disse e acrescentou: “Eu já vivi, temo pelos jovens”, afirmou.

O discurso de Cristina foi dedicado especialmente a analisar a economia nacional referindo-se aos projetos de dolarização e à participação do FMI, que definiu como “circular” e portador de uma “receita enlatada”.

Em outras passagens de seu discurso, esclareceu que quando convocou a militância a “tomar o bastão de marechal” não era para “dá-lo pela cabeça a outro companheiro”, e sim para “poder ajudar a pensar uma sociedade e um país diferente e ver como podemos contribuir para um futuro melhor”.

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“Não podemos ter a cabeça tão velha para continuar discutindo bobagens”, disse e acrescentou: “As novas gerações merecem que tenhamos a cabeça aberta e que somemos os elementos da tecnologia para poder ajudar a construir um mundo melhor”.

“Temos que saber como manejar o que vai acontecer a partir do gasoduto Néstor Kirchner. Temos que saber que não há salvamentos milagrosos. Não vamos pensar que porque temos Vaca Morta isso vai nos salvar. O que vai nos salvar é o trabalho, a tecnologia, a pesquisa, a redistribuição da renda, uma sociedade mais justa”, completou.

No final do ato, dirigiu-se à porta do Teatro Argentino de La Plata para cumprimentar a militância. Com um microfone, dirigiu-se a elas e eles para agradecer-lhes a presença. “A política não é só em um ato. É quando estamos na escola, na quadra, na rua. É preciso debater, lutar pelas ideias, a pátria, a história e a memória”, disse à multidão entre as bandeiras.

Redação | Resumen Latinoamericano
Tradução: Ana Corbisier


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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