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ToggleEsta segunda-feira (2 de março) marcou o 55º aniversário do início da Operação Rolling Thunder, a campanha de bombardeios lançados pelas Força Aérea e Naval dos EUA sobre o Vietnã do Norte. Uma ação militar que ainda hoje continua sendo considerada como a maior campanha de bombardeios militares realizada em toda a história da humanidade.
Iniciada no dia 2 de março de 1965, a operação prevista para durar apenas oito semanas só se encerrou no dia 31 de outubro de 1968, ou seja, 44 meses depois de seu início.
Durante a campanha, os aviões e navios estadunidenses efetuaram cerca de 304.000 bombardeios sobre o Vietnã do Norte, lançando cerca de um milhão de toneladas de explosivos e produtos químicos letais, ou seja, uma média de cerca de 800 toneladas por dia.
Cerca de outras seis milhões de toneladas de bombas seriam ainda lançadas contra outros países e povos da Indochina antes que derrotados, os EUA decidissem se retirar da região em 1975.
A título de mera comparação com o terror e letalidade das ações praticadas durante este período pelas forças armadas estadunidenses, registre-se que as forças aéreas dos países Aliados lançaram sobre as potências do Eixo entre 1939 e 1945. um total de “apenas” 3,4 milhões de toneladas de bombas
Administração Nacional de Arquivos e Registros / Domínio Público
Lt.Col. Cecil J. Poss, USAF, em um Voodoo McDonnell RF-101C do 20º Esquadrão de Reconhecimento Tático
Apoio soviético
O coronel Igor Permyakov, chefe dos Arquivos Centrais do Ministério da Defesa russo, sugere que o verdadeiro objetivo da Operação Rolling Thunder era “realmente uma tentativa de basicamente destruir o Vietnã do Norte”. Ao mesmo tempo, disse ele, os norte-vietnamitas conseguiram evitar perdas catastróficas graças a uma elaborada rede de abrigos e comunicações.
“Claro que sem a ajuda da União Soviética o Vietnã do Norte não teria sido capaz de resistir a essa agressão. Moscou forneceu ao país um grande número de sistemas de mísseis antiaéreos e radares modernos. Esses sistemas eram efetivamente controlados por especialistas soviéticos”, enfatizou Permyakov.
“Eles infligiram grandes perdas à aviação dos EUA. Os estadunidenses perderam um total de 938 aeronaves e 1084 pilotos foram mortos, capturados ou são até hoje considerados como desaparecidos. Isto ajudou a provocar protestos em massa dentro dos próprios EUA e acabou por forçar o governo dos EUA a parar a operação”, comentou.
De fato, se nas fases iniciais da guerra os norte-vietnamitas pareciam quase indefesos contra as operações aéreas de grande altitude dos EUA, o transporte clandestino pelos soviéticos de defesas antiaéreas avançadas para o país alterou gradualmente o equilíbrio, forçando o Pentágono a mudar de rumo.
Como exemplo, quando Moscou entregou o sistema de defesa aérea S-75 Dvina de alta altitude ao Vietnã do Norte, os bombardeiros estratégicos B-52 Stratofortress dos EUA não estavam mais seguros acima das nuvens e foram forçados a descer abaixo de altitudes de 3 quilômetros, ficando em risco de ser atingidos por outras defesas antiaéreas vietnamitas, incluindo as baterias antiaéreas tradicionais.
O Vietnã havia reunido grandes quantidades dessas armas desde os tempos da Segunda Guerra Mundial, em que lutou contra o Japão, e a sua campanha dos anos 50 contra os franceses.
Eficácia da defesa antiaérea do Vietnã do Norte
Dois anos após a Operação Rolling Thunder, o Vietnã do Norte acumulou cerca de 150 lançadores de mísseis terra-ar organizados em 25 batalhões, juntamente com mais de 200 locais de radares de alerta precoce por todo o país, o que não só ajudava a alertar para os ataques iminentes dos EUA, como coordenava a rede de defesa antiaérea do país.
Em 1967, nem um centímetro quadrado do Vietnã do Norte ficou indefeso. Além disso, tal como na Coreia uma década e meia antes, Hanói foi armada por Moscou com caças MiG-17 e com os novos MiG-21. Utilizados em operações combinadas para realizar investidas de ataque e fuga, estes aviões se transformaram em um sério desafio não só para os B-52, mas também para os mais rápidos caças-bombardeiros F-105 Thunderchief e F-4 Phantom que os poderiam acompanhar.
Durante a Operação Rolling Thunder, os pilotos vietnamitas realizaram um total de 268 grandes batalhas aéreas, durante as quais reivindicaram a destruição de mais de 240 aviões estadunidenses e de forças aliadas, ao mesmo tempo que perderam 85 MiGs.
Tudo somado, entre 1965 e 1975, a Força Aérea dos EUA perdeu em suas operações no Vietnã do Norte, Vietnã do Sul, Laos e Camboja cerca de 2251 aeronaves, incluindo 31 aviões B-52, 445 Phantom II, 243 Super Sabres e 382 Thunderchiefs, entre outros. Enquanto isso, a Marinha dos EUA perdeu mais 532 aviões de asas fixas. As perdas de helicópteros dos EUA foram ainda mais graves, chegando a mais de 5100 helicópteros perdidos até o final da guerra.
Derrota estratégica
Apesar destas vitórias aéreas, que acabaram por obrigar os EUA a admitir a derrota no Sudeste Asiático, a campanha de bombardeios estratégicos teve um impacto devastador no Vietnã e seus vizinhos. Cerca de 182 000 civis do Vietnã do Norte foram mortos durante a Operação Rolling Thunder. Além disso, o uso do Agente Laranja (um herbicida) pelo Pentágono levaria ao desmatamento de cerca de 18% de toda a área florestal do Vietnã.
Até hoje, agricultores vietnamitas continuam a encontrar munições não explodidas dos EUA, enquanto centenas de milhares de vietnamitas e milhares de veteranos dos EUA enfrentaram cânceres, defeitos congênitos em crianças e outras doenças associadas à exposição a produtos químicos. Infelizmente, embora os veteranos dos EUA tenho sido alçados a situação de elegíveis para compensação por seus ferimentos, o Vietnã ainda não foi compensado de nenhuma forma.
Redação Sputnik News
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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