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A destruição do outro nos jogos digitais: Violência é brinquedo para crianças?

Transitar por esse universo do qual só conhecemos uma ínfima porção, possui o imenso poder de seduzir com sua infinita oferta de fantasia
Carolina Vásquez Araya
Diálogos do Sul Global
Cidade da Guatemala

Tradução:

Me resulta chocante o modo como se desenvolvem os mal chamados jogos digitais, porque são, na realidade, todo um sistema de fantasia criado por mentes retorcidas para ensinar crianças e adolescentes a afinar a pontaria, a identificar as armas mais letais, a perseguir as vítimas escolhidas – as quais se eliminarão da maneira mais sangrenta possível – e a marcar diferenças de gênero nas quais a masculinidade representa força e poder, enquanto a feminilidade é ilustrada com os códigos machistas de costume. Os jogos virtuais nos representam nesta etapa histórica de extremo subdesenvolvimento social e nos regozijamos com isso.

Não deixo de pensar no afortunada que fui ao ter uma filha para a qual isso nunca existiu enquanto crescia. Me custa imaginar o impacto visual e psicológico dessas imagens para um infante que nem sequer aprendeu ainda a amarrar os sapatos. É, sem dúvida, bastante inquietante observar mães e pais orgulhosos de ver seus filhos de mamadeira sustentar um aparelho tão complexo como um telefone inteligente para “entreter-se” descobrindo seus segredos. Um hábito que permanecerá ao longo da infância, substituindo atividades cujo potencial de desenvolver sua criatividade, sua capacidade motora, sua fantasia e seu contato com a natureza lhe brindaria acesso a um mundo cheio de possibilidades.

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Quem quer que esteja em contato com o mundo virtual, teve em seu monitor abundantes ofertas de jogos cada qual mais violento; em geral, com muito sangue e uma esmagadora seleção de técnicas e armas para eliminar outros seres humanos. Talvez isso que nos repugna a quem conhecemos de perto. Até onde é capaz de chegar a mente humana em seu afã por destruir. Não parece ser suficiente a sombra trágica da guerra, a fome e a perda de valores, há que a pôr ao alcance da infância com o desenho mais realista para acercá-la, como um brinquedo mais, à sua vida cotidiana.

Transitar por esse universo do qual só conhecemos uma ínfima porção, possui o imenso poder de seduzir com sua infinita oferta de fantasia

Captura de Tela | Throneful – YouTube
A criatividade também tem viés negativo, especialmente quando se dirige à infância

A dedicação daqueles que agem atrás desses sistemas virtuais para eliminar conteúdos de caráter político ou sexual, parece frear quanto ao que se refere ao assassinato e à tortura. É como se no fundo existisse uma estratégia perversa para imprimir na mente das novas gerações um filtro anestésico diante da destruição dos outros. Transitar por esses corredores onde se cruza com toda classe de material, esse universo do qual só conhecemos uma ínfima porção, possui o imenso poder de seduzir com sua infinita oferta de fantasia. Se para os adultos transitar por esses sites ricos em informação é uma tentação, é fácil deduzir a forma como impactam a mente menos experiente e muito menos crítica de uma criança ou de um adolescente.

A falta de cuidado ao colocar estes dispositivos em mãos de um ser, incapaz de discriminar entre o positivo ou potencialmente perigoso, constitui um enorme risco no processo de desenvolvimento educativo e social durante os primeiros anos de vida. A violência não é um brinquedo para crianças. Mas aí é onde se requer uma grande capacidade de reflexão para compreender nosso papel na construção de um sistema de valores, na inserção positiva da infância em sociedades cada vez mais complexas e na visão correta de nosso espaço no mundo que nos rodeia.

A criatividade também tem viés negativo, especialmente quando se dirige à infância.

Carolina Vásquez Araya é colaboradora da Diálogos do Sul na Cidade da Guatemala.
Tradução de Beatriz Cannabrava.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Carolina Vásquez Araya Jornalista e editora com mais de 30 anos de experiência. Tem como temas centrais de suas reflexões cultura e educação, direitos humanos, justiça, meio ambiente, mulheres e infância

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