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Nos EUA, indocumentados chegam a trabalhar 16h por dia e sequer veem a luz do sol

Essa é a rotina de Begoña, que há 14 anos aguarda para rever os filhos que ficaram em Honduras
Ilka Oliva Corado
Diálogos do Sul

Tradução:

Begoña se envolve em um cobertor que pega na poltrona da sala e desce as escadas do edifício, mora no terceiro andar. Liga o carro e volta ao seu apartamento, põe quatro colheradas de café na cafeteira e duas xícaras de água. Quando o café está pronto, vai banhar-se com água fria para terminar de despertar, o relógio marca as 3h15 da madrugada. É sábado, começo de primavera, no restaurante a esperam às 4h em ponto.

Prende o cabelo ainda molhado em um rabo de cavalo, veste o uniforme correndo, põe o café em um copo, pega a sua bolsa e abre a porta do apartamento com cuidado para não despertar os vizinhos, tranca a porta em silêncio e desce as escadas do edifício, sente o ar frio da madrugada na artrite das mãos, entra no carro e vai. No caminho, ajeita uma toalha enrugada que coloca em um buraco na frente por onde entra o vento frio que dá nos seus pés.

Imigrantes indocumentados: da violência na terra natal à exploração trabalhista nos EUA

Entra no edifício onde trabalha, desce ao porão onde passa as próximas 16 horas junto a outros indocumentados picando verduras e empacotando comida, sai às 8 da noite. Perdeu o primeiro dia de sol da primavera e perderá os do verão e do outono, como perdeu os últimos 14 anos de sua vida desde que chegou aos Estados Unidos.

14 anos nos que seus três filhos a esperam em sua cidade natal, Santa Ana de Yusguare, Choluteca, Honduras. 

24 de abril de 2022

Ilka Oliva-Corado | Colaboradora da Diálogos do Sul em território estadunidense.
Tradução: Beatriz Cannabrava.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Ilka Oliva Corado Nasceu em Comapa, Jutiapa, Guatemala. É imigrante indocumentada em Chicago com mestrado em discriminação e racismo, é escritora e poetisa

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