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Longe de ser o fracasso anunciado pela mídia, a Cúpula das Américas de Cartagena de Índias, Colômbia, representou uma derrota para os Estados Unidos e uma vitória para os povos de Nossa América e do Caribe.
Paulo Cannabrava*
Como não houve consenso, não houve Declaração Conjunta e por isso a mídia conservadora marcou o feito como um fracasso. Contudo, a realidade é que o dissenso foi de uma única voz, dos Estados Unidos, que se fez acompanhar pelo Canadá numa das questões polêmicas. Para os 32 países sim houve consenso: unanimidade em condenar os Estados Unidos pelo bloqueio imposto a Cuba e sua exclusão do sistema interamericano e, unanimidade em apoiar a soberania da Argentina sobre o arquipélago das Malvinas.
O que foi anunciado como fracasso pode ser visto como demonstração da solidariedade entre os governos latino-americanos e caribenhos, o que é um grande avanço. No passado recente essa solidariedade só era manifesta pelos povos e por muito poucos governos. Esse entendimento é também uma demonstração do acerto do projeto da Unasul, que abrirá o caminho a seguir por nações com história e destino comuns assim como um histórico inimigo comum.
José Mujica, presidente do Uruguai, expressou o que é sentimento comum entre os povos de Nossa América quando disse que “o apoio as Malvinas se dá por um sentido de pertencimento, não por intenção de agredir a Grã Bretanha”. De fato, não faz sentido a presença colonial em território de Nossa América em pleno século XXI. Agressão é a presença da armada britânica em águas territoriais americanas, uma ameaça concreta a paz.
Sobre essa questão, que não concerne somente à Argentina mas a toda humanidade, está na hora de se desencadear um movimento para fazer com que as Nações Unidas declarem o Atlântico Sul um Lago de Paz. Um lago cercado de países que lutaram por sua independência e soberania e que querem viver em paz. A segurança no Atlântico Sul reside precisamente na ausência de frotas armadas por uma intenção colonialista ou de um novo espaço imperial.
Estados Unidos ficou sozinho. O apoio que teve do Canadá não pode ser considerado menos que circunstancial já que, na realidade, o Canadá desde há muito tempo tem relações harmoniosas com Cuba, não só comerciais como de cooperação em projetos de desenvolvimento. Explica-se o fato de Canadá evitar manifestar-se em apoiar a soberania argentina sobre as Malvinas, pois o país pertence a OTAN, que segue as ordens dos EUA e do Reino Unido.
Além de isolados os Estados Unidos saíram desmoralizados. Não só por insistir num anacronismo mas também pelo fato de sua guarda pessoal ter se envolvido num escândalo com prostitutas em Cartagena. Assim que estourou o escândalo eles regressaram aos EUA e não se falou mais nisso.
Cuba ausente estava presente nas manifestações de todos os delegados, inclusive dos EUA. É válido, portanto, recolher algo da Declaração oficial do governo de Cuba sobre a reunião: “em Cartagena de Índias ficou demonstrado que há um abismo crescente entre ‘Nossa América’ martiana e o ‘Norte tumultuado e brutal que nos despreza’. Ali se produziu uma rebelião da América Latina e do Caribe contra a imposição de ‘um governo e meio’ que exercia um veto imperial aos parágrafos do projeto de Declaração Final da chamada Cúpula das Américas que reclamava o fim do bloqueio e a exclusão de Cuba dos eventos hemisféricos”.
* Paulo Cannabrava Filho é jornalista e membro da executiva dos Diálogos do Sul