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Cúpulas política e econômica dos Estados Unidos se preparam para era pós-Trump

O republicano se recusa a aceitar a derrota, mas a cada dia isso tem menos peso na liderança política do país
David Brooks
La Jornada
São Paulo (SP)

Tradução:

O presidente se recusa a aceitar a derrota, mas a cada dia isso tem menos peso na cúpula política e econômica do país que já avança rapidamente para a era pós Trump – onde não o querem nem em sua própria casa – marcada por prosperidade para os mais ricos e desastre para todos os demais. 

Depois do líder da maioria do Senado, o republicano Mitch McConnell, ter reconhecido na terça-feira o democrata Joe Biden como presidente eleito – abrindo assim a porta para que outros legisladores republicamos fizessem o mesmo – Trump aguentou até à uma da manhã de quarta-feira para tuitar uma resposta, uma vez mais se recusando a ceder diante da realidade: “Mitch, 75.000.000 de Votos, um recorde para um presidente ativo (por muito). Demasiado cedo para render-nos. O Partido Republicano finalmente tem que aprender a lutar. As pessoas estão enojadas”. 

Trump não mencionou que Biden teve mais de 81 milhões de votos, e que seu oponente ganhou por uma ampla margem também no Colégio Eleitoral. Alguns interpretaram que a resposta de Trump ao seu até recentemente fiel aliado McConnell representa uma crescente rachadora dentro do Partido Republicano, com a cúpula legislativa advertindo que já chegou o momento para superar e deixar para trás a pugna eleitoral presidencial. 

Ao mesmo tempo, vizinhos de Trump em Plan Beach, Florida, enviaram uma mensagem em que dizem que preferem não ser vizinhos de quem será logo ex-presidente. Entregaram uma carta formal às autoridades da cidade e do Serviço Secreto argumentando que Trump perdeu seu direito de viver em seu luxuoso clube privado Mar-a-Lago por um acordo que ele mesmo assinou nos anos noventa ao mudar esse propriedade de residência para clube privado. Segundo isso, não pode ser sua residência e moradia.  

Falando de ricos, para as maiores empresas do país este ano não foi nada mau. Desde março até hoje, enquanto quase 8 milhões se somaram às filas dos pobres, 45 das 50 maiores empresas do país registraram lucros substanciais, reporta o Washington Post.  

E ainda mais, 27 destas 50 empresas despediram mais de 100 mil de seus trabalhadores nesse período. O incremento na pobreza registrado em 2020 é o salto mais algo em apenas um ano em quase 60 anos. 

Na contínua análise oferecida pelo projeto Inequality.org do Institute for Policy Studies y Americans for Tax Fairness, decomentou-se que os 651 multimilionários mais ricos incrementaram suas fortunas coletivas por mais de um trilhão de dólares desde março – ou seja, o início da crise da pandemia – até hoje.  

O republicano se recusa a aceitar a derrota, mas a cada dia isso tem menos peso na liderança política do país

White House
Donald Trump tem espalhado fake news por não assumir sua derrota eleitoral.

Esse incremento supera o total da assistência federal que está sendo negociada para responder à crise detonada pela pandemia.

Com 20 milhões de trabalhadores recebendo salário desemprego no setor formal, milhões mais estão em perigo de ser expulsos de suas moradias ao ser concluída a moratória para evitar atirar na rua as pessoas que não podem pagar seus aluguéis. 

“Essa transferência de riqueza à classe multimilionária é perturbadora em momentos em que milhões enfrentam o despejo, a destituição e perdas”. afirmou Chuck Collins do Institute for Policy Studies.

Enquanto isso, continua a tendência mais que documentada da devastação na saúde dos setores mais vulneráveis durante a pior crise de saúde pública em um século. Entre as cifras dos mais de 15 milhões de contagiados se encontram aqueles que literalmente não podem escapar da pandemia, com pelo menos 250 mil réus infectados em prisões e centro de detenção de imigrantes neste, o país mais encarcerado do mundo, segundo o Marshall Project.

Foram reportadas mais de 100 ações de protesto por estas condições em 39 estados, incluindo greves de fome em prisões, cárceres e centros de detenção de imigrantes, segundo um informe de Perilous Chronicle. Esta semana estão sendo realizadas mais ações de protesto e solidariedade em várias partes do país.

Ao mesmo tempo, outro integrante do círculo do presidente está em quarentena por possível contágio de Covid-19. O secretário de Estado Mike Pompeo informou que se manterá isolado e sob observação médica depois de ser informado de que esteve presente com outro indivíduo que resultou positivo. Mais de 40 pessoas da Casa Branca, da campanha e assessores próximos a Trump – incluindo o próprio presidente – foram contagiados desde fins de setembro, muitos deles em eventos oficiais na Casa Branca onde frequentemente não são empregadas medidas básicas de mitigação como o uso de máscaras. 

O uso de máscaras tornou-se tema político, com Trump e seus fiéis recusando o consenso científico e declarando que todo regulamento obrigando o seu uso é um atentados contra “a liberdade” no país líder em contágios e mortes por Covid. A prefeita de Dodge City em Kansas, Joyce Warshaw, ex-diretora de uma escola primária, com 69 anos de idade, renunciou na terça-feira depois de ter sido repetidamente ameaçada de morte ao aprovar-se um mandato nessa entidade obrigando o uso de máscaras em lugares públicos. 

Não é a única. Prefeitos, legisladores, funcionários e diretores de departamentos de saúde locais em várias partes do país foram ameaçados por causa de regulamentos sobre o uso de máscaras e outras medidas de mitigação. 

Tudo enquanto o Congresso ainda não conseguiu aprovar o próximo pacote de resgate econômico- incluindo fundos para desemprego, estímulo e apoio a governos municipais e estaduais – durante a últimas semanas em um país que está padecendo de crise de saúde, econômica e política sem precedentes provocadas em grande medida pelo presidente e a liderança legislativa de ambos os partidos. 

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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