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“Curuguaty – carnificina para um golpe”

Leonardo Wexell

Tradução:

Livro-reportagem denuncia o golpe no Paraguai e conclama à solidariedade com os camponeses presos políticos será lançado no dia 9 de junho

ComunicaSul*

0d86660db66197ef5a52cf1e1ebdb701O jornalista Leonardo Wexell Severo, colaborador da revista Diálogos do Sul, redator-especial da Hora do Povo, assessor da Secretaria de Relações Internacionais da Central Única dos Trabalhadores (CUT)  e da Confederação Sindical Internacional (CSI), lançará no próximo dia 9 de junho, quinta-feira, na livraria Martins Fontes da avenida Paulista o seu novo livro: “Curuguaty – carnificina para um golpe”. A obra trata dos acontecimentos que levaram à deposição do presidente do Paraguai, Fernando Lugo, da solidariedade aos trabalhadores sem-terra presos políticos do presidente Horacio Cartes e da luta pela liberdade e a justiça no continente. Como Observador Internacional do julgamento dos camponeses de Curuguaty, Severo acompanha o processo de perto no Tribunal de Sentenças de Assunção, tendo mais de 50 artigos publicados sobre o tema no Brasil e no exterior. Leia abaixo a entrevista.

A temática latino-americana tem sido uma constante em seu repertório. Na sua opinião, qual o peso que teve Curuguaty no golpe contra Lugo?

Leonardo Wexell Severo: Nas terras paraguaias de Marina Kue, Curuguaty, foram assassinadas 17 pessoas – seis policiais e 11 camponeses – em 15 de junho de 2012. O “confronto” envolveu 324 policiais, tropas de elite treinadas pela CIA e pelo exército dos Estados Unidos fortemente armadas com fuzis Galil, AR-15, AK47, bombas de gás, capacetes, escudos, cavalos e até helicóptero. Segundo a versão dos agressores, desmentida pelos fatos e pelas provas exibidas ao longo do livro, este verdadeiro exército teria sido vítima de uma “emboscada” por parte de 60 trabalhadores sem-terra, metade deles mulheres, crianças e anciãos com alguns facões, foices e espingardas velhas. O sangue derramado em prol da família de Blas Riquelme – que se advoga “dona” desta terra pública, sem apresentar qualquer título de propriedade – foi vertido para as manchetes dos jornais e emissoras de rádio e televisão, que se alinharam caninamente contra os “vagabundos”, “invasores” e “criminosos”. Desta forma, o interesse do grande capital inundou o noticiário com todo tipo de patifarias, enquanto silenciava sobre os que foram abatidos com tiros à queima-roupa depois de rendidos e esmagados por patas de cavalo. Nada sobre a dor dos filhos que ficaram sem pais nem dos pais sem filhos. Campanha midiática movida contra pessoas com calos nas mãos, fome, sede e sonhos de justiça. Eficientemente manipulada pela oposição parlamentar, a mortandade fazia parte de um plano – bem orquestrado – com objetivo claro: a cassação do presidente Fernando Lugo e a entrega ao vice, o golpista Federico Franco, ocorrida uma semana depois.

É uma denúncia sobre um processo viciado e das injustiças daí decorrentes?

Leonardo Wexell Severo: Mais do que denunciar um processo-farsa que mantém 11 trabalhadores rurais privados de liberdade há quase quatro anos, dou voz aos que foram silenciados pelo tilintar dos cifrões, a fim de contribuir com a imediata libertação dos sem-terra, presos políticos de Horacio Cartes. Publico aqui parte da meia centena de artigos e reportagens que realizei ao longo do julgamento, que acompanho na qualidade de Observador Internacional cadastrado junto ao Tribunal de Sentença, em Assunção. A parceria dos jornais Hora do Povo e Brasil de Fato, das revistas Fórum e Diálogos do Sul, da Agência Carta Maior, da Rede Brasil Atual, do Portal da CUT e do site Ópera Mundi, entre outros, foi decisiva para a popularização do tema. Esta publicação não seria possível sem a valiosa contribuição da Articulação Curuguaty, responsável pela intensa, destemida e dedicada ação de solidariedade, e sem o empenho e abnegação dos advogados Vicente Morales e Guillermo Ferreiro, condutores da causa pela maior parte do tempo. Contei também com contribuições valorosas, como a do companheiro Nicolás Honigesz, da Central de Trabalhadores da Argentina (CTA).

O processo judicial ainda está correndo. De que forma isso impacta na publicação?

Leonardo Wexell Severo: Como o livro foi encerrado com o processo em andamento, é natural que permaneçam lacunas, pelas quais pedimos a compreensão de todos. Também nos deparamos com dificuldades, com fraudes e falsificações feitas pela polícia, como no caso do piloto do helicóptero que sobrevoou o local, Marcos Agüero. Ele teve o seu nome divulgado durante três anos e meio pela polícia como “o piloto que sobrevoou Curuguaty”, o que foi reproduzido pela mídia, sendo jamais contestada a sua presença no local. Marcos morreu em um acidente em agosto de 2015 sem ter sido ouvido, o que levanta muitas suspeitas. Agora, convenientemente, o comando da polícia informa que o piloto era outro, de nome Wilson Agüero, que passa a testemunhar em favor do operativo militar. Assim, ao mesmo tempo em que tenta aplacar as dúvidas sobre a morte de Marcos, coloca uma versão afinada aos desígnios nada confiáveis da promotoria. Feitas pequenas adaptações para que o texto não ficasse redundante, exponho acontecimentos que auxiliam na compreensão das covardes ações de um governo parceiro dos grandes latifundiários – criadores de gado, plantadores de soja transgênica e drogas – e inteiramente submisso aos cartéis transnacionais como Bunge e Cargill.

Qual a sua expectativa deste livro-reportagem?

Leonardo Wexell Severo: Acredito que a leitura será de grande valia para maior entendimento da intensa e crescente disputa política e ideológica que sacode o Paraguai, o Brasil e a América Latina. Diferente do caminho neoliberal do “ajuste fiscal”, com suas privatizações/concessões e desmonte de tudo o que é público, precisamos de juros baixos para fomentar a produção; realizar a reforma agrária, garantindo terra a quem nela mora e trabalha; fortalecer o mercado interno, com valorização dos salários e garantia de direitos; democratizar os meios de comunicação e acelerar a integração dos nossos povos. Na minha avaliação, é preciso libertar os Estados do poder corrupto e corruptor dos capitais monopolistas nacionais e estrangeiros. Minha expectativa é que estas linhas sirvam de estímulo à luta sem trégua pela afirmação da soberania, para virarmos a página de alienação e submissão ao imperialismo, a fim de construirmos, ombro a ombro, a Pátria Grande sonhada por Simón Bolívar.

SERVIÇO

Lançamento “Curuguaty – carnificina para um golpe”

Dia 9 de junho – quinta-feira – Das 18h30 às 21h30

Livraria Martins Fontes – Avenida Paulista, 509

Próximo ao Metrô Brigadeiro

As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
Leonardo Wexell

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