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Da indignação à apatia: as repercussões da fala de Guedes sobre empregadas domésticas

Presumo que no mercado financeiro assunto não tenha gerado debate; na classe média tradicional provavelmente tenha havido concordância "sociológica"
Wagner Iglecias
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

Seria interessante ver alguma pesquisa de opinião que tenha mensurado o impacto da fala do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre as empregadas domésticas. 

Nas bolhas de esquerda não se fala de outra coisa desde quinta-feira (13), num sentimento que vai da indignação mais sincera até a perspectiva política  — em meio a esse deserto de ideias que é a esquerda brasileira hoje — de ao menos desgastar um pouco a imagem do governo. 

Presumo que no mercado financeiro assunto não tenha gerado debate; na classe média tradicional provavelmente tenha havido concordância "sociológica"

Reprodução/ Que horas ela Volta?
Val, interpretada por Regina Casé no filme "Que Horas ela Volta", de Anna Muylaert

Presumo, por outro lado, que entre seus pares do mercado financeiro, onde é amplamente apoiado, a fala do ministro não tenha surtido maior efeito. Pelo contrário, as expectativas de recorde de pontos da Bolsa e realização de lucros, talvez inéditos, têm monopolizado a atenção desse pessoal. O desemprego, o subemprego, os moradores de rua e as empregadas domésticas são assuntos que não lhes chamam a atenção.

Na classe média tradicional provavelmente tenha havido concordância com a essência digamos “sociológica” da fala de Guedes, dado o desconforto demonstrado por estes setores com as mudanças nas posições relativas de status ocorridas nos governos do PT, quando os de baixo passaram a almejar algo a mais na vida do que empregos de salários irrisórios e humilhações cotidianas.

No povo, na massa, sabe-se lá como bateu a fala do ministro. Se é que bateu. Na perifa, no subúrbio, na quebrada a preocupação da imensa maioria é comida na mesa, que é batalhada nesse ambiente econômico cada vez mais individualista e selvagem, permeado por crescente dose de fé religiosa e mentalidade empreendedorista.

Se experiência pessoal vale de alguma coisa em debate público, digo que tive o privilégio de viajar algumas vezes aos EUA, país onde o serviço de uma empregada doméstica é caríssimo. De todo modo vi, sim, empregadas domésticas brasileiras por lá, especialmente nos parques da Disney, tanto na Flórida quanto na Califórnia. Todas vestindo uniformes e atuando como babás dos filhos de turistas brasileiros. Estes mesmos que muito provavelmente ajudaram a eleger o governo do qual Guedes faz parte.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Wagner Iglecias

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