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ToggleJoe Biden, ao concluir sua grande reunião cara a cara com Putin na semana passada, comentou à mídia que a Rússia perdeu credibilidade diante do mundo: “Como seria se os Estados Unidos fossem percebidos pelo resto do mundo como interferindo de maneira direta nas eleições de outros países e todos sabiam disso?”.
Ninguém sabia se rir ou chorar. Com uma carreira política de décadas no Senado e inclusive chefe do Comitê de Relações Exteriores, é possível que Biden não soubesse que seu país tem uma longa história de interferência nos assuntos políticos, incluindo eleições, de outros países, incluindo o de Putin?
Se perguntarmos a alguns especialistas sobre política exterior, inclusive a clandestina, concluiremos que é claro que ele sabe, mas justifica isso com essa infantil ideia do “excepcionalismo” de que quando os Estados Unidos o fazem é pelo bem e pela democracia, e quando outros países, como a Rússia, se atrevem, é sempre para fins malignos.
Os Estados Unidos intervieram nas eleições de outros países em pelo menos 81 vezes entre 1946 e 2000, quase todas secretamente, segundo um especialista que tentou fazer uma lista completa.
A primeira grande operação clandestina da recém-criada CIA foi interferir na eleição na Itália, em 1948, para evitar um triunfo dos comunistas e se calcula que mais de 65 milhões de dólares foram investidos pela CIA nesse país desde então até inícios dos anos setenta para estes fins.
Palácio do Planalto
A mão estadunidense interfere em processos políticos e eleitorais em quase todos os continentes
A mão estadunidense interfere em processos políticos e eleitorais em quase todos os continentes. Isto foi feito de várias maneiras, desde investir fundos em partidos e conduzir campanha de propaganda, até medidas mais extremas incluindo assassinatos de líderes políticos, apoio a golpes de estado e intervenções militares diretas para frear o resultado de eleições e de outros processos políticos, incluindo revoluções e lutas de libertação nacional.
A lista é longuíssima e conhecida: Guatemala, Cuba, República Dominicana, Brasil, Bolívia, Guiana, Haiti, como também Irã, Congo, Vietnã, Tailândia, Coreia do Sul, Afeganistão, Grécia e até Austrália, para mencionar só alguns.
Henry Kissinger comentou assim sobre a eleição democrática de Salvador Allende no Chile em 1970: “não vejo por que necessitamos ficar quietos e observar um país tornar-se comunista pela irresponsabilidade de seu próprio povo”. Três anos depois, no primeiro 11 de setembro, a mão estadunidense estava muito presente no golpe militar contra esse governo.
Sob Ronald Reagan foi criado o Fundo Nacional pela Democracia, ou NED, que reparte fundos a partidos políticos, sindicatos, organizações empresariais, publicações e ONGs em vários países para “promover a democracia”. Segundo alguns, faz abertamente o que antes a CIA fazia de maneira secreta.
O governo estadunidense sob Clinton interferiu na eleição de 1996 na Rússia para ajudar a reeleição de Boris Yeltsin, inclusive canalizando fundos do FMI para usos eleitorais, emprestando consultores políticos e encobrindo a fraude eleitoral.
E durante quase seis décadas, tem promovido a mudança de regime em Cuba por meio do bloqueio, como com inumeráveis operações clandestinas.
Noam Chomsky, em 2017, pouco depois que acusações de interferência russa nas eleições estadunidenses de 2016 detonaram fúria e protestos de políticos em Washington, recordou que “a história da política exterior dos Estados Unidos, especialmente depois da Segunda Guerra Mundial, é em grande medida definida pela subversão e derrocamento de regimes estrangeiros, incluindo parlamentares, e o uso da violência para destruir organizações populares que poderiam oferecer à maioria das populações uma oportunidade para participar na arena política”.
Explicou que o ideal democrático na política exterior estadunidense, “é simples: estás livre para fazer o que queiras sempre e quando for o que nós queremos que faças”.
The Clash. Washington Bullets
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