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Decreto confirma que desigualdade de gênero aumentará ainda mais no Brasil

A arma dentro de casa para proteger a propriedade, resultará em mais machismo e feminicídios, pois para eles a mulher também é uma propriedade
Kelly Tavares
Esquerda Online
Fortaleza

Tradução:

O presidente empossado há 15 dias não está tardando em pôr em prática as promessas que foram carro-chefe de sua campanha suja. Uma das propostas mais discutidas e que polarizou mais ainda o debate – a facilitação da posse de arma de fogo para “cidadãos de bem” defenderem suas casas e famílias – teve seu decreto assinado nesta terça-fira (15).

Insistimos em dizer que facilitar o acesso a armas de fogo para supostamente aumentar a segurança, é um equívoco. Em nenhum país onde houve medidas de liberação da posse de armas, o número de homicídios foi reduzido.

O nosso debate vai no sentido de alertar que a medida anunciada por Bolsonaro pode ser muito prejudicial para os setores mais vulneráveis da sociedade. E que a bala tem uma classe e cor bem definida para atingir em nosso país.

Jair Bolsonaro (PSL), com o decreto, associa a liberação simplificada da posse de armas de fogo para quem reside em área urbana ou rural, podendo manter até quatro armas em casa. O que parece “empoderamento” na segurança, poderá detonar uma escalada ainda maior de violência, inclusive violência de gênero.

Os casos de feminicídio no Brasil, seja por arma de fogo ou facas, dispararam. Só nos primeiros 11 dias do presente ano, estamos com uma média de cinco feminicídios a cada 24 horas.

A arma dentro de casa para proteger a propriedade, resultará em mais machismo e feminicídios, pois para eles a mulher também é uma propriedade

EBC
As mulheres serão as mais prejudicadas, pois a partir de agora conviverão com armas legalizadas dentro das casas, prontas para matar

O estado do Ceará teve, em média, dez mulheres assassinadas por semana só em 2018. Muitos desses casos não foram registrados como feminicídios, como o de uma professora assassinada a tiros pelo ex-companheiro em praça pública, na hora da missa, no Crato, Sul do estado. Ess caso está registrado pela SSPDS como homicídio doloso.

Nesta terça-feira (15), L. Gomes da Silva, 22 anos, que trabalhava como vendedora em um shopping em Maracanaú, na Região metropolitana de Fortaleza, e vinha recebendo ameaças do ex-namorado, foi assassinada com quatro tiros dentro da loja por seu ex-namorado, Alighiery Silva, de 25 anos, funcionário terceirizado de delegacia distrital. Silva suicidou-se após cometer o feminicídio.

Essa sequência de notícias seria o mais clássico efeito dominó, só que muito mais desastroso, e ainda nos traz mais uma discussão: o aumento do feminicídio com a simplificação da posse.

O decreto não permite que o cidadão ande com a arma na rua ou no carro, por exemplo, a permissão se refere apenas ao uso doméstico, ou em comércio. “A arma é para proteger propriedade”, dizem eles, só que para eles mulher também é propriedade. Ora, a maioria dos feminicídios ocorrem após violência doméstica. A posse de arma de fogo, agora liberada em casa, poderá aumentar ainda mais os casos de feminicídios.

E mais uma vez, nós mulheres seremos as mais prejudicadas. Agora teremos dentro da nossa própria casa a arma legalizada que poderá nos matar.

A arma dentro de casa será mais uma forma de domínio masculino. Nossas mortes serão os números que alimentarão e justificarão a simplificação do armamento, levando a mais feminicídios na esfera doméstica.

A figura dos Bolsonaros e suas falas e práticas machistas, reforçadas com as da ministra Damares Alves, para quem “feminismo é sobre mulheres feias que odeiam homens”, não só colaboram com o fortalecimento da cultura machista no Brasil, como servem para tentar criar repulsa social a todo e qualquer debate em torno do assunto.

A palavra do ano de 2019 é resistência. Temos que, além de resistir, fortalecer a  defesa permanente dos direitos das mulheres e o combate à desigualdade de gênero. O próximo 8 de março deve ser um momento de estar na rua e lutar por um projeto feminista e popular.

Esse, sem dúvida, é um dos contextos mais difíceis para ser mulher trabalhadora no Brasil, pois, conforme o conservadorismo se aprofunda, nossos direitos, conquistados há muito tempo, passam a ser questionados .

Não podemos esquecer jamais que ainda vivemos em um país que, como disse Mc Carol: “mulher apanha se não fizer comida”.

Nossa resposta será a luta. Avante!

Foto: EBC


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Kelly Tavares

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