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Dedicação total aos pacientes: Vietnã e o "milagre" das zero morte por Covid-19

O Vietnã reportava até 18 de junho 335 doentes de Covid-19, e deles 325 já livres do mal. Tais números indicam que o país tem a doença praticamente contida
Alberto Salazar Gutiérrez
Prensa Latina
Hanói

Tradução:

Provavelmente em nenhuma parte do mundo se fez mais por um doente de Covid-19 que no Vietnã, onde recém foi declarado fora de perigo um paciente britânico que durante muitos dias esteve à beira da morte. 

Escocês de nascimento, de 43 anos, chamado Stephen Cameron e contratado como piloto pela Vietnam Airlines, o homem teve resultado positivo em um teste de detecção no dia 18 de março. 

Praticamente desde então até 27 de maio esteve em coma, pois sua saúde começou a se deteriorar aceleradamente enquanto estava hospitalizado. 

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Identificado nos círculos médicos como o Paciente 91, Cameron foi internado no Hospital de Doenças Tropicais da Cidade Ho Chi Minh, onde logo determinaram que tinha todas as condições, ou quase todas, para perder a batalha contra o novo coronavírus.

Para começar, padecia de obesidade, a pressão arterial descompensou e sofria de um transtorno de coagulação do sangue e de uma síndrome de tormenta de citocinas, uma resposta imunológica tão intensa, que em vez de defender o corpo, age contra ele. 

Invadidos pelo SARS-Cov-2, seus pulmões praticamente deixaram de funcionar e tiveram que conectá-lo a uma máquina de oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO), que bombeia o sangue para fora do corpo e com a ajuda de outra de tipo coração-pulmão, elimina o dióxido de carbono e devolve ao corpo sangue oxigenado.

O Vietnã reportava até 18 de junho 335 doentes de Covid-19, e deles 325 já livres do mal. Tais números indicam que o país tem a doença praticamente contida

Prensa Latina
Hospital de Doenças Tropicais da Cidade Ho Chi Minh

Quando era assistido pela ECMO foi necessário que lhe administrassem um anticoagulante chamado heparina, de uso comum no Vietnã, perto o rechaçou e foi preciso esperar 10 dias para que chegasse um sucedâneo mandado buscar na Alemanha.

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Se fosse pouco, as infecções minavam seu organismo e seu coração, fígado, pâncreas, rins e outros órgãos vitais foram gravemente afetados pela ação do vírus. 

Mas os insones cuidados dos médicos que o tratavam lhe foram tirando desse estado e em 22 de maio, depois de testar negativamente a várias provas de detecção do vírus, foi transferido do Hospital de Doenças Tropicais ao Cho Ray (o maior do país, também na Cidade Ho Chi Minh).

Em determinado momento, a equipe que o atendia nessa instituição considerou a possibilidade de lhe realizar um transplante de pulmões, pois eles mal funcionavam a 10%, pelo qual a ECMO continuava sendo indispensável. Mais de 30 vietnamitas, seja dito de passagem, se ofereceram como doadores. 

No entanto, com o correr dos dias Cameron começou a respirar melhor e dar sinais de recuperação. Os médicos não só descartaram o transplante, mas começaram a desconectá-lo progressivamente da ECMO e em 12 de junho já prescindiram da máquina. 

Atualmente os pulmões do Paciente 91 funcionam 90%, suas funções renais e hepáticas voltaram à normalidade, a pressão arterial e a temperatura estão em valores normais, as funções motoras estão aumentando e o estado geral dá tanta esperança, que os especialistas encarregados dizem que se trata de um milagre. 

Deve ser uma forma de expressar seu contentamento, porque para dizer a verdade, os médicos vietnamitas realizaram mais que um milagre. A eles, em grande medida, se deve que este seja um dos poucos países em todo o mundo que, com mais de 300 casos de Covid-19, não lamenta perdas humanas.

O paciente britânico foi o que por mais tempo foi atendido, mas não o único resgatado das garras da síndrome respiratória aguda severa.

Casos semelhantes

Outro caso muito acompanhado pela imprensa e pela cidadania foi o de uma mulher de 64 anos cuja vida esteve em perigo mais de uma vez. 

Ela também teve que ser assistida com a ECMO e no processo sofreu três paradas cardíacas, pelo que os médicos e as enfermeiras que a cuidavam tiveram que trabalhar muito duramente para salvar sua vida. Em uma dessas ocasiões, seu coração parou de bater por 40 minutos. 

Ao cabo de dois meses de tratamento, teve alta em 27 de maio. 

Também muito complexo foi o caso de outra mulher cujos pulmões estiveram piores que os do Cameron. Além disso, uma hemorragia intracraneal paralisou um lado de seu corpo e teve sangramentos vaginais. 

Situado junto à China, epicentro da pandemia, e partilhando uma longa fronteira e intensos intercâmbios comerciais e turísticos com o gigante asiático, o Vietnã reportava até 18 de junho 335 doentes de Covid-19, e deles 325 já livres do mal. 

Dos 10 ainda hospitalizados, quatro testaram negativo, por isso o país tem a doença praticamente contida.

Esse foi outro de seus “milagres”. 

Alberto Salazar, Correspondente da Prensa Latina no Vietnã.

Prensa Latina, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava /Ana Corbusier


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Alberto Salazar Gutiérrez

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