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Dellagnol, Dória, Flávio Rocha e o mercado brasileiro

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

nassif_img1“Já dizia Nelson Rodrigues que o subdesenvolvimento é um trabalho de gerações, e a elite brasileira parece ter assumido essa máxima. O impeachment de Dilma, apoiado por muitos setores desse grupo, acabou criando as condições para um desmonte não somente das políticas sociais promovidas pelo Estado, como também do seu papel como indutor da cadeia produtiva.”

Luís Nassif*

Um exemplo para entendermos como o mercado brasileiro vem se articulando, nesses últimos tempos, é a formulação do quadro de palestrantes da Expert 2017, feira organizada pela XP Investimentos e que irá reunir entre seus palestrantes Deltan Dellagnol, João Dória, Armínio Fraga, Luiz Fux e, até mesmo, Paulo Hartung, o governador do Espírito Santo que quebrou o estado após aplicar uma política de forte contenção de recursos, culminando na greve de funcionários públicos que levou a uma crise de segurança sem precedentes na história capixaba.

Assista o vídeo e depois continue a leitura:

Falta no clube de milionários brasileiros alguém com uma visão mais sofisticada de país, como houve em outros momentos na história. Nos anos 50, por exemplo, conservadores como Roberto Campos e Octávio Gouveia de Bulhões tinham visões muito claras de modernização das instituições públicas, mesmo que dentro da ótica deles. Foram autores de reformas trabalhistas, que ajudaram a flexibilizar o mercado de trabalho, montaram o Banco Central, a Receita Federal e modernizaram o mercado de capitais, além de criarem mecanismos de minidesvalorizações que preservaram a competitividade das exportações brasileiras.

Muitas das modernizações que tocaram foram feitas com base em estudos que já eram discutidos em décadas anteriores como a que desenvolveu o Estatuto da Terra, que só não foi implementado no governo João Goulart por conta do cerco que impuseram sobre ele e que terminou com o golpe de 1964.

A estratégia dos liberais brasileiros hoje é, na verdade, uma ante estratégia, é desmontar todo o estado brasileiro, esperando que desse quadro surja uma nação melhor. O resultado final disso será o que aconteceu com o Espírito Santo de Paulo Hartung.

Daí percebemos que, a visão ideológica que atrapalha parte da esquerda, é também fatal na direita. Esta, perece por falta de formuladores que tem demonstrado ter, na realidade, uma visão ideológica de um liberalismo estreito e pobre, como a defesa de que o Estado não deveria entrar como investidor. Esse olhar obtuso impede a formulação de propostas minimamente adequadas para o país.

É claro que houve abusos quando o pêndulo veio no sentido de tornar o Estado mais forte, porém incapazes de justificar a liquidação de toda a forma de financiamento público.

Em todo o país, minimamente racional, o mercado interno é um ativo nacional que tem que ser barganhado com o exterior para trazer empresas que se instalem no território para criar centros de produção, gerar emprego, gerar tecnologia e cadeia produtiva.

O desafio hoje no Brasil é a essa incapacidade de a elite gerar uma proposta que sintetize todos os interesses nacionais, reunindo as pontas. Em todo o conjunto de ideias apresentados por esse grupo falta pontos básicos e centrais que possam garantir a construção de um país, como fizeram as elites políticas e econômicas no Inglaterra, Estados Unidos, Alemanha e Japão.

Mas aqui, a sina do subdesenvolvimento é essa, ficar apegado aos bordões que são reprisados pela mídia, repetidos à exaustão, criando-se afinidades ideológicas com Ministério Público e Lava Jato.

Original: Opinião do Nassif: Dellagnoll, Doria, Flávio Rocha & o arco da superficialidade liberal


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Revista Diálogos do Sul

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