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Democracia dos EUA precisa escolher: ignorar crimes de Trump ou enfrentar trumpismo

Especialistas alertam que julgar ex-presidente republicano poderia levar a graves episódios de violência no país; quais os danos da impunidade?
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

O ex-presidente, golpista, violador e candidato presidencial favorito republicano está muito ocupado competindo pela Casa Branca enquanto se defende em pelo menos quatro julgamentos e um total de 91 acusações criminais e civis nos próximos meses. Ao mesmo tempo, um senador democrata que se sente juiz internacional ao condenar governos que repudiam o modelo imperial de Washington acusando-os de “corruptos” e “antidemocráticos” agora está acusado – pela segunda vez – de corrupção política.

E só uns dias depois que se foram de Nova York os últimos mandatários dos países do mundo que chegaram para participar no debate anual na Assembleia Geral da ONU, onde quase todos fingiram expressar sua grande preocupação pela mudança climática, a cidade se inundou para comprovar o ato criminoso de não se ter feito mais que falar bonito durante anos – o que deveria ser um crime contra a humanidade

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A democracia no país que insiste em ser “líder democrático do mundo” se degradou a tal ponto que um dos principais candidatos para, neste caso, retornar à Casa Branca para, disse ele, resgatar o país das garras da “esquerda radical” e salvar a “democracia”, enfrenta processos judiciais nos quais está acusado de, em essência, destroçar a ordem constitucional democrática com um a tentativa de golpe, pôr em risco a segurança nacional do país, armar uma conspiração para cometer fraude eleitoral a seu favor e também de cometer uma grande fraude empresarial.

Especialistas alertam que julgar ex-presidente republicano poderia levar a graves episódios de violência no país; quais os danos da impunidade?

Twitter | Reprodução
Livrar Trump daria luz verde a outros poderosos de que podem violar a lei e manter-se impunes




Argumentos trumpistas

Alguns argumentaram, incluindo o próprio acusado, que estas acusações contra Trump são politicamente motivadas para descarrilar sua candidatura presidencial; outros assinalaram que milhões de seus seguidores perceberão os juízos como “ilegítimos” e que – também algo que promoveu o acusado – comprovam que o sistema de justiça está pervertido.

Outros mais alertam que poderia ocorrer provocar a maior violência política pelos fanáticos de Trump – o próprio ex-presidente se apresentou numa armaria na semana passada onde pareceu comprar uma pistola Glock (sua equipe insistiu depois que o ex-mandatário não adquiriu a arma) brincando com a mensagem de que todos, inclusive ele, deveriam armar-se para proteger-se dos que não estão de acordo. 

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Mas é óbvio que não submeter o ex-presidente em julgamento com a esmagadora evidência que fundamenta as acusações contra ele seria até mais nocivo à democracia, já que implicaria que, por razões políticas e seu poder, se está permitindo que cometa delitos graves – e com isso se anula o princípio de que ante a lei, todos são iguais. Mais ainda, daria luz verde a outros poderosos que podem violar a lei e manter-se impunes.


A corrupção é bipartidária

Enquanto isso, a acusação formal de corrupção por promotores federais contra o poderoso senador democrata Robert Menendez comprova o que todos sabem, a corrupção é bipartidária, e enquanto as eleições se ganham em grande medida por Dom Dinheiro, isto não mudará. 

Mas ninguém tem o monopólio sobre a hipocrisia política. Quantos dos mandatários que desfilaram ante o pódio da ONU onde reconheceram o consenso científico mundial de que se tinha que parar o mais rápido possível a produção e uso dos combustíveis fósseis, regressaram a suas capitais para fazer justamente o oposto? 

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Durante a grande tormenta quase bíblica em Nova York há poucos dias, Sally, uma leão marinho, logrou sair de seu recinto no zoológico do Central Park para dar uma volta por aí, mas regressou pouco depois aparentemente concluindo que não há como escapar dos efeitos de tanta delinquência, deterioro e impunidade política.

Necessita-se buscar a maneira de liberar as Sallys e montar em seu lugar em um grande zoológico de políticos delinquentes e todos os responsáveis por crises existenciais anunciadas. 

Se não, todos só estaremos esperando Noé.

David Brooks | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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