O governo de Tarcísio de Freitas consegue unificar duas tendências. Foi eleito pela extrema-direita, enquanto mistura sua pauta com o Tucanistão Paulista (30 anos no Palácio Bandeirantes sem sair de dentro). Variam os métodos, mas a viseira-foco é o Poder a qualquer custo. Então temos o ataque ao servidor público, nas privatizações. Um governo Bolso-Tucano. Une tudo o que não presta. Bolsonarismo e Tucanistão.
Tanto é que ele intensificou, ampliando e aprofundando, o projeto das privatizações. Tanto é que já anunciaram a privatização da Sabesp, de todas as linhas de Metrô e da CPTM. Tarcísio está instalando mais pedágios no estado de SP e já abriu a consulta para dois pontos nas rodovias Mogi-Bertioga e Dutra e 9 na região da Baixada Santista. Na rodovia Manoel da Nóbrega, vai pegar da Praia Grande até Peruíbe com pedágios eletrônicos. O fato é que ele conta agora com o arsenal da privataria tucana, além do ‘acervo’ dos terroristas do Norte. Nada jamais visto, mesmo em terras desse Tucanistão.
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Entrevistei o professor Carlos Giannazi, deputado estadual do PSOL no salão d’Espelhos da Alerj, e confirmei o que constatei em 1984, quando era vereador do PT liderado pela futura prefeita Luiza Erundina: o cara trabalha com amor no colégio e no Cartório do Palácio Cada vez Pior do Q Antes. Paulistas precisam dele* pra sair dessa areia movediça em que se meteram pelo voto de cabresto.
“Tarcísio vai conseguir ultrapassar o número de privatizações feitas pelo PSDB. A intensidade, não o número absoluto. Isso por si só já é perigoso. Assim como a redução dos direitos dos servidores públicos. O governador anunciou mais uma reforma administrativa. Seu antecessor João Dória fez reforma administrativa. O próprio Tarcísio de Freitas anunciou a ‘Nova Reforma’, que mais uma vez ataca o servidor do estado: professora, enfermeira, médico, servidor da segurança pública, assistente social que atende a população”, alerta Giannazi.
Confira a entrevista a seguir.
Alesp
Giannazi: Tarcísio está destruindo a Educação paulista, prejudicando os professores, que já estão cansados de trabalhar nesse sistema
Amaro Augusto Dornelles: Deputado, ele já passou a mão na verba da Educação, ou ainda está “lapidando” a tunga?
Carlos Giannazi – Ele acaba de anunciar que vai reduzir o orçamento da educação, de 30% para 25% da’arrecadação do estado (milionário do Brasil Falido). Ele vai enviar uma PEC para Alerj para alterar a Constituição estadual.
Alesp segue como cartório de reconhecimento de firma do Palácio Bandeirantes…
Sem dúvida, é cartório – um puxadinho do Palácio. O mesmo que acontece nas administrações do PSDB: ele tem maioria no plenário, controla a pauta de votações, comissões, CPIs…
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A oposição não consegue nem abrir o bico…
Nós somos 26 deputados de oposição entre os 90. Eles tem maioria folgada. Matematicamente falando é difícil. A não ser que haja manifestação popular, algo pressionando a Alesp. Se não houver mobilização, o governo ganha aqui. Esse é o quadro da Assembleia paulista: o puxadinho. Governo privatizante, que reduz o papel do estado. Em síntese, um governo bolso-tucano que defende a pauta bolsonarista. Posso dar como exemplo a homenagem a Erasmo Dias. Foi aprovada nessa casa e Tarcísio sancionou. Ele poderia ter vetado, o projeto demorou na tramitação, mas ele aprovou. Um governador que sanciona lei homenageando quem defendeu a tortura. O regime militar invadiu a PUC…
Minha primeira mulher estava grávida e levou borrachas do gorilas no campus.
Isso é o fim do mundo. Mas se Bolsonaro tinha o Carlos Brilhante (gaúcho) Ustra como objeto de adoração, o atual governador tem o Erasmo Dias como mentor. Ele tentou acabar com a Secretaria da Pessoa com Deficiência, conseguimos barrar. Como teve muita mobilização, a saída foi recuar.
Por outro lado, é um governo fraco, não tem a mesma blindagem na mídia e Tribunal de Contas. Quem tinha isso eram os tucanos. E ninguém conseguia furar o cerco. Na grande mídia empresarial, no TCE, Alesp, de setores do Tribunal de Contas, Justiça e do Ministério Público. Ele não tem isso. Tem maioria na Alesp.
Essa performance toda credencia o ‘Carioco’ a disputar a presidência em 2026?
Todo governador de São Paulo é candidato a presidente do Brasil. É o poder econômico, político. Dificilmente Bolsonaro vai reverter a posição dele no Tribunal Eleitoral. O destino dele tem de ser a cadeia mesmo, inelegível como está. Tarcísio vai tentar se apresentar como candidato, acho que é o nome mais forte…
Até quando a blindagem dele resiste em SP, o maior eleitorado do País?
Ele fica oscilando, faz um jogo duplo: a base de extrema-direita, ele precisa manter, pois foi eleito por ela. Mas também tem de acenar para o público mais liberal, a direita que não é extrema. Então ele fica acenando em busca desse equilíbrio. Como se sabe, São Paulo é um estado muito conservador. Então ele faz essa política, tem o Kassab ao lado, que sabe fazer a coisa bem feita. Acho que ele vai continuar mantendo esse tipo de estrutura: mantendo a base liberal e a base de extrema-direita.
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Em tal contexto, qual avaliação que fazes de Tarcísio Farenheit 451 na Educação do Estado, o mesmo que queria queimar livros dados pelo MEC pra digitalizar tudo?
Ora, o que era ruim com PSDB, ficou ainda pior. As intervenções do PSDB foram desastrosas. O Alckmin e o Dória – que deu o tiro de misericórdia – atiraram pra matar. Nós não imaginávamos que o pior ainda estava por vir, está muito ruim esse governo.
Na política sempre pode aparecer algo pior…
Ulisses Guimarães dizia que o “próximo Congresso vai ser sempre pior”. Mas o Renato Feder, secretário de Educação paulista, é um empresário bem-sucedido. Dono da Multilaser, em contratos milionários com a Secretaria – o que já é o escárnio total, não é nem conflito de interesses. Entrei com ação Popular e derrubei a decisão de não receber os livros do MEC. No começo de setembro, ele foi obrigado a voltar atrás. O secretário vende tablets, computadores Multilaser. Material digital ele iria comprar de outras empresas.
Se isso não é crime hediondo, Justiça dos Homens é conjunto vazio.
Na Ação Popular conseguimos manter o livro didático também para que ele não pudesse comprar o livro digital – o que caracterizaria improbidade administrativa: gastar milhões sem necessidade alguma. Felizmente derrubamos, mas é um governo ruim demais. Eles gostam muito dos aplicativos. Só que a Rede de Ensino não tem nem internet direito. Não tem computador para os alunos. Coisa maluca.
Mas pra cópula, a tecnologia é no estado da arte…
Eles usam muito as plataformas digitais. Tudo eles resolvem com elas. Do ponto de vista pedagógico, é ZERO. Não tem nenhum avanço. Está destruindo a Rede, prejudicando os professores, que já estão cansados de trabalhar nesse sistema. Agora eles são obrigados a usar slides, como os que foram veiculados e cassados devido a diversos e grotescos erros.
Alguns exemplos, professor.
Coisas como São Paulo ter praia, Dom Pedro II ter assinado a Lei Áurea… Isso é gravíssimo. O material ensina que a música “É Proibido Proibir” é de Geraldo Vandré, não de Caetano Veloso. Erros crassos, inaceitáveis. Estamos preocupados com a Educação em si, porque não há qualquer preocupação com o dia a dia da educação. Ele anunciou que vai apresentar projeto de lei para reduzir o orçamento da Educação de 30 para 25%. Esse é o governo do Tarcísio/Feder.
Como anda a mobilização popular nessa altura da guerra?
Nós estamos com a campanha “Fora Feder” e convidamos toda a população a participar. Começamos a campanha logo após a vitória contra a compra do livro digital, no começo de setembro. Ele não tem mais a mínima condição de continuar como secretário. Tem outro aspecto fundamental: a Educação de São Paulo tem orçamento de quase R$ 50 bilhões.
Conta a cabulosa história da versão nazifascista do Vigiar e Punir?
O governador publicou uma portaria que eu classifico como Vigiar e Punir. Ela obriga os diretores a fiscalizar professores dando aula. Professor de história vai entrar em sua aula. Vai fiscalizar, preencher um formulário. Foi uma portaria que baixou. Entrei na Justiça também, estou esperando pra revogar essa portaria. Professores se sentem vigiados, fiscalizados, e assediados. Está dando aula e começam a anotar. Isso não existe, nem a ditadura militar fez isso. Eles colocavam gente do Dops disfarçados. Mas não diretor de escola. Então isso está incomodando bastante. Vigiar e Punir – minha homenagem ao livro de Michael Foucault**.
Tem uma que ele voltou atrás. Era uma resolução que obrigava escolas a expulsar alunos que tivessem 15 dias seguidos de falta. Expulsão em massa da rede. Depois de ficar muito desgastado, o governador recuou.
Tem um decreto que estou denunciando: quer substituir professores com formação especializada em educação especial por entidades terceirizadas. Tais entidades contratam pessoas sem formação. São pessoas só pra cuidar sem formação nenhuma.
Presta alguma coisa nessa Educação?
Por enquanto nada.
Notas
* Antes de assumir o trono, FHC avisou a plebe: “Esqueçam o que Escrevi”.
** “Vigiar e Punir, História da Violência nas Prisões”, de Michael Focault. O livro deve servir como pano de fundo histórico para diversos estudos sobre o poder de normalização e sobre a formação do saber na sociedade moderna.
Amaro Augusto Dornelles | Jornalista e colaborador da Diálogos do Sul
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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