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Depois da guerra contra a droga, os EUA inauguram a luta contra os livros

Sucedem-se, nos Estados Unidos da América (EUA), casos arcaicos de queima de livros. Centenas de obras estão proibidas nas escolas e os professores são ameaçados com multas e processos.
Redação AbrilAbril
AbrilAbril
Lisboa

Tradução:

Maus, uma novela gráfica da autoria de Art Spiegelman sobre a experiência dos seus pais no campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, exibe ‘pessoas enforcadas, mostra-os [soldados nazis] a matar crianças. Porque é que o sistema educativo tem de promover este tipo de coisas? Não é nem saudável, nem sensato’, afirmou um dos membros da direção da escola do Tennessee, que baniu o livro do currículo escolar.

O número de obras literárias impedidas de serem lidas num contexto escolar disparou nos últimos anos, com particular incidência em 2021. Só nos últimos três meses do ano passado, 330 livros foram sinalizados enquanto impróprios para crianças por escolas nos EUA, denuncia a Associação de Bibliotecas Americanas. Mais do dobro do que em todo o ano de 2020 (165 casos).

No presente ano letivo, já foram apresentados 75 pedidos formais no Texas para remover livros de bibliotecas públicas e escolares. Algo que só se tinha verificado uma vez em 2020/21.

Matt Krause, um político republicano eleito na Câmara dos Representantes do Texas, entregou uma lista de 850 livros à Agência de Educação do seu estado. Segundo este republicano, estes livros seriam nocivos e impróprios para crianças e jovens.

Uma análise feita à lista por uma editora local mostrou que mais de 60% dos livros se centravam em questões LGBT+, enquanto os restantes tratavam de temas como o racismo, educação sexual, aborto e gravidez, expondo-se, assim, o propósito reaccionário e conservador dos proponentes.

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No total, são já 36 os estados norte-americanos que aprovaram legislação que limita o ensino, e a utilização de material literário, que explore as questões do racismo sistémico. Um dos casos de aplicação destas leis foi a proibição do livro O Olho Mais Azul, da escritora Toni Morrison, galardoada com o Nobel da Literatura.

Sucedem-se, nos Estados Unidos da América (EUA), casos arcaicos de queima de livros. Centenas de obras estão proibidas nas escolas e os professores são ameaçados com multas e processos.

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Dezenas de pessoas participaram, em Fevereiro de 2022, numa queima de livros dinamizada por uma igreja protestante de Nashville, Tennessee,

A terra da liberdade declarou guerra ao pensamento

Este processo não está apenas a ser dinamizado por parte de direções escolares e grupos de pais conservadores. A 16 de Dezembro de 2021, Rob Standridge, senador estadual republicano na Assembleia Legislativa do Oklahoma, apresentou uma proposta de lei contra a ‘doutrinação nas escolas’ do estado.

De acordo com o projecto, qualquer encarregado de educação pode exigir a remoção de um livro num prazo de 30 dias. O não cumprimento   daria início a um processo de despedimento dos funcionários escolares e o pagamento de uma coima de dez mil dólares por cada dia em que o livro continuasse à disposição dos alunos.

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‘O sistema educativo não é o local para ensinar lições morais às crianças, isso é uma competência dos pais e das famílias. Infelizmente, mais e mais escolas estão a tentar doutrinar os estudantes, expondo-os a um currículo e cursos sobre género e identidade sexual e racial’, diz Standridge, justificando o injustificável.

Outra lei apresentada, a semana passada, pelo mesmo senador, permitiria, se aprovada, que os encarregados de educação processassem os professores se aqueles leccionarem visões opostas às crenças religiosas dos pais. Por exemplo, os professores correriam o risco de sofrerem coimas muito elevadas por ensinarem a teoria da evolução ou o big bang.

Foi neste contexto que, na quarta-feira, um pastor protestante da cidade de Nashville, no Tennessee, organizou uma enorme queima de livros, na qual participaram dezenas de pessoas, incluindo crianças.

‘Temos o direito constitucional, e bíblico, de fazer aquilo que estamos a fazer’, afirmou o pastor, que pediu para as pessoas trazerem livros do Harry Potter e outros do género, por promoverem a ‘feitiçaria’.

Há quase 80 anos começaram as queimas de livros na Alemanha, dinamizadas pelo partido Nazi. Os livros queimados eram de uma enorme variedade, da literatura de Franz Kafka às obras de Marx e Engels, chegando mesmo ao trabalho de Albert Einstein.

Redação Abril Abril


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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