No passado se costumava dizer: “Mambrú foi à guerra, não sei quando virá…”. Mutatis Mutandi, bem poderia assegurar-se hoje que Donald Trump foi à guerra, e que ninguém sabe quando haverá de voltar.
Agora, anda entretido, procurando desfazer um problema da política ianque; O Impeachment proposto contra ele pelas Câmaras Legislativas dos Estados Unidos e que poderia elevá-lo à categoria de primeiro presidente do país das listras e estrelas derrubado no século XXI. Antes, um fenômeno algo similar ocorreu com Richard Nixon, em pleno século XX, por ter mentido flagrantemente no exercício de sua função, e ordenado atividades incompatíveis com a dignidade de seu cargo.
Como se recorda, a canção de Mambrú foi uma criação francesa tomada como rítmica melodia pelas crianças. Mas aludiu a um episódio real: após a batalha de Malplaquet – em 1709 – os franceses juraram que seu adversário, o inglês John Churchill, Duque de Marlborough, tinha morrido, mas isso não ocorreu. “Afrancesaram” então o título nobiliário de seu rival e com sorna e sentido de humor, disseram que havia se perdido na guerra.
Algo similar poderia ocorrer ao atual Presidente dos Estados Unidos da América do Norte, empenhado como ninguém em declarar a guerra a todos os países que não se submetam à férula de Washington e contrariem os afãs imperiais da Casa Branca. Possuído por um irrefreável espírito bélico aparece hoje como o enviado do Deus Marte sobre nosso planeta. Bem que poderia se perder no tempestuoso mar de suas guerras.
Depois do Afeganistão, do Iraque, da Líbia, da Síria e do Oriente Médio para esmagar o povo palestino, a administração norte-americana – sob o influxo do Mambrú de nosso tempo – busca voltar os olhos ao nosso continente porque se sente inseguro.
Já não tem confiança em seu sistema de gestão. É consciente que o capitalismo atravessa uma crise irreversível; mas não está disposto a dar o braço a torcer. Quisera ser um gladiador, mas o ânimo não lhe dá para isso. Apenas a intenção, que usa para proclamar aos quatro ventos sua vontade guerreira. Ela o induz a pretender trasladar o cenário de conflito do Oriente Médio para a América Latina, como um modo de proteger o que Mike Pompeo tem denominado de “Quintal” dos Estados Unidos, reeditando as gastas expressões da “guerra fria”.
Twitter / Reprodução
O Presidente Donald Trump
Como assinalou recentemente a Chancelaria Cubana, o presidente Donald Trump “proclama a vigência da Doutrina Monroe e apela ao Macartismo para preservar a dominação imperialista sobre os recursos naturais da região, impedir o exercício da soberania nacional e as aspirações de integração e cooperação regional; tratar de restabelecer sua hegemonia unipolar em escala mundial e hemisférica; eliminar os modelos progressistas, revolucionários e alternativos ao capitalismo selvagem; reverter as conquistas políticas e sociais e impor modelos neoliberais, sem lhe importar o Direito Internacional, as regras de jogo da democracia representativa nem o bem-estar dos povos”.
Em outras palavras, acode à insubstancial verborreia do passado para sustentar afãs belicistas, e se ergue como o árbitro supremo do planeta.
Assume, então, a tarefa de avaliar e classificar um a um os governos de nosso continente para decidir quais merecem o apoio ianque e quais não. Pelo momento, assegura que Bolsonaro, Piñera, Añez, Moreno e Duque são “governos democráticos” embora disparem à queima roupa contra crianças e mulheres, violem e torturem sem piedade. Aqueles que os questionam – assegura – são “rebeldes” passíveis do repúdio categórico de Washington.
Pelo contrário, assinala que países como Cuba, Nicarágua, Venezuela e Argentina, não merecem a confiança dos Estados Unidos e devem ser combatidos. Aqueles que o façam – pelo método que queiram – terão armas e dinheiro procedentes das altas esferas imperiais. Serão considerados “destacamentos democráticos em luta contra uma ditadura totalitária”. O ouro e tudo o mais para eles.
Não está descartada a possibilidade que a acusação constitucional proposta pelo Partido Democrata seja finalmente admitida por um Senado decisório que conta com maioria Republicana. Isso já aconteceu antes e poderia voltar a acontecer. E é que as acusações levantadas contra o precário inquilino da Casa Branca vão além do que se costuma permitir a um Chefe de Estado ianque. Por esta vez, o burro poderia vencer o elefante e até ser mais inteligente.
Que um presidente dos EUA envie tropas a outro confim do mundo para matar milhares de pessoas é tolerado nas altas esferas de Washington. Mas que combine com um mandatário estrangeiro para prejudicar outro político norte-americano, isso já não é permissível.
Quando este Mambrú apareça, bem poderia haver perdido a cabeça.
*Gustavo Espinoza M. colaborador de Diálogos do Sul desde Lima.
**Tradução: Beatriz Cannabrava
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