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Claudia Sheinbaum, recém-eleita presidenta do México (Foto: Facebook)

Deputados de esquerda na Espanha declaram apoio a Sheinbaum: “O rei é um problema”

O rei "poderia ter agido com respeito, mas optou pela arrogância e o desdém", afirmou Gerardo Pisarello, do Sumar, após Sheinbaum não convidar Felipe VI para sua posse
Armando G. Tejeda
La Jornada
Madri

Tradução:

Beatriz Cannabrava

O presidente do governo espanhol, o socialista Pedro Sánchez, qualificou de “inexplicável” e “inaceitável” a postura da futura presidenta do México, Claudia Sheinbaum, que decidiu não convidar à sua posse o Rei Felipe VI. Em uma entrevista coletiva em Nova York, onde participa da Assembleia Geral da ONU, Sánchez utilizou essas duas palavras para se referir à crise diplomática.  E o fez em várias ocasiões, sem dar mais detalhes sobre sua conversa telefônica há alguns dias com Sheinbaum.

Em suas declarações, também atribuiu ao “interesse político” de “alguém” a situação das relações diplomáticas bilaterais: “Pelo interesse político de alguém não podemos ter relações normalizadas”, afirmou sem esclarecer a quem se referia.

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O governo espanhol anunciou sua decisão de não ir à posse de Sheinbaum durante a madrugada espanhola de terça-feira (24), já que tanto o presidente Sánchez como o ministro das Relações Exteriores, José Manuel Albares, se encontram na Assembleia Geral da ONU. O breve comunicado da diplomacia espanhola se limitou a anunciar que não haveria nenhuma representação oficial do governo pela “inaceitável exclusão” do rei Felipe VI.

Reação em cadeia

Pela manhã, depois da sessão de controle ao governo no Congresso dos Deputados, começaram as reações, tanto por parte do Executivo como dos demais grupos parlamentares.

A ministra da Defesa, Margarita Robles, confirmou a postura do governo, ao assinalar que o não-convite ao monarca à posse “é algo que o governo considera inaceitável e, consequentemente, foi decidido não participar da cerimônia em nenhum nível”. Robles acrescentou que o rei Felipe VI “sempre comparece a todas as posses, por isso o governo não pode aceitar que neste caso ele seja excluído. Se o chefe de Estado for excluído, a Espanha não será representada. Lamentamos muito, pois o povo mexicano é um povo irmão”.

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Ante a escalada da crise, o próprio ministro Albares solicitou ao Congresso dos Deputados um comparecimento público para explicar com todos os detalhes os motivos da não presença oficial do governo espanhol na posse. Ele aguarda que seja agendado um dia para seu debate, que previsivelmente será em 4 de outubro, quando está prevista sua presença no Parlamento para explicar a postura da Espanha no conflito aberto com a Venezuela em razão da concessão de asilo político a Edmundo González, o candidato opositor.

Esquerda apoia decisão de Sheinbaum

Uma das pessoas que estava convidada para a posse era a segunda vice-presidenta do governo e líder da coalizão de esquerda Sumar, Yolanda Díaz, que não viajará ao país acatando a decisão adotada pelo presidente Sánchez e pelo ministro das Relações Exteriores. Apesar da postura de Díaz, deputados de seu partido expressaram rejeição à medida e mostraram compreensão com a decisão tomada por Sheinbaum: “A monarquia é uma carga anacrônica que nos dá problemas. Mau exemplo de diplomacia exigir do anfitrião da festa a quem deve convidar à sua casa”, assinalou Enrique de Santiago, deputado do Sumar e líder do Partido Comunista da Espanha (PCPE).

O também deputado do Sumar, Gerardo Pisarello, disse: “Em duas ocasiões o Presidente López Obrador (AMLO) pediu a Felipe VI que pedisse desculpas pelos desmandos cometidos durante a conquista espanhola. A Casa Real poderia ter agido com respeito, mas optou pela arrogância. Poderia ter pedido desculpas como o Papa Francisco e como muitos monarcas europeus que também pediram desculpas. Poderia ter agido como frei Bartolomé de las Casas, que denunciou tais crimes. Mas optou pela arrogância e o desdém. E hoje está pagando um preço por essa enorme torpeza diplomática: é lógico que um Rei que não respeitou não seja respeitado, é lógico que um Rei que desdenhou seja desdenhado. Mas quero deixar claro aqui neste Congresso: somos muitas e muitos que acreditamos que o povo do México não é um povo de súditos, mas de homens e mulheres livres”.

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Desde o Podemos, sua líder, Ione Belarra, entendeu a exclusão do rei Felipe VI: “O rei envergonhou a Espanha na posse de Gustavo Petro e agora não o convidam ao México. Embora os fascistas locais se irritem, o rei é um problema para as relações internacionais baseadas no respeito e nos Direitos Humanos, e não na corrupção”. Gabriel Rufián, do ERC, ao ser perguntado sobre essa questão, limitou-se a destacar: “Viva México, cabrones!”.

Embora ninguém do governo vá comparar, estarão presentes no México os deputados do Sumar e da coalizão independentista basca do EH-Bildu, representados pelo deputado Jon Iñárritu.

A direita espanhola celebrou a decisão do Executivo espanhol. O porta-voz do Partido Popular (PP) no Congresso, Borja Sémper, “exigiu respeito” ao México e classificou como “inaceitável” o fato de o rei Felipe VI não ter sido convidado: “Sua majestade o rei é o representante, logicamente, e se sua majestade o rei não está convidado, a Espanha não está convidada. Respeito à sua majestade o rei e respeito à Espanha”, disse Sémper.

Zapatero chama ao “diálogo” e ao “consenso” na Venezuela

O ex-presidente do governo espanhol José Luis Rodríguez Zapatero finalmente quebrou o silêncio sobre a situação na Venezuela, um país ao qual esteve ligado nos últimos anos e para o qual foi como observador nas últimas eleições presidenciais de 28 de julho.

Em sua primeira mensagem, o líder socialista espanhol chamou ao “diálogo” e ao “consenso” para resolver a crise política e reconheceu que ele próprio participou da saída do país do candidato opositor Edmundo González, que está asilado na Espanha há duas semanas.

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Ao chegar ao Ateneo de Madrid, o político espanhol foi gravemente insultado por cidadãos venezuelanos da direita, que gritaram insultos como “traidor” e “filho da puta”. Rodríguez Zapatero fez seu primeiro ato público em vários meses e participou da apresentação de um livro sobre sua etapa de governo (2004-2011), “A democracia e seus direitos”, escrito por seus colaboradores e coordenado por ele mesmo para analisar os avanços sociais durante sua gestão.

Esta também foi a primeira vez que ele foi visto desde as eleições venezuelanas, nas quais seu nome foi mencionado pela direita e pela extrema-direita espanholas e venezuelanas, que o acusam de “defender” o atual governo de Nicolás Maduro. E ainda mais após sua intervenção nas negociações para a saída do país de Edmundo González, depois de um encontro organizado pelo próprio Rodríguez Zapatero, a partir da China, e um colaborador seu na Venezuela, no qual foi acordada a saída do líder opositor com o consentimento dos irmãos Jorge e Delcy Rodríguez, presidente da Assembleia Nacional da Venezuela e vice-presidenta do governo, respectivamente.

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Ao chegar ao Ateneo de Madrid, dezenas de meios de comunicação perguntaram ao ex-mandatário sobre essa questão, ao que ele respondeu: “Quando alguém media, deve ser extraordinariamente respeitoso. É um direito e um dever manter a discrição e a lealdade às pessoas que permitiram, que quiseram que você facilitasse alguma tarefa”.

Ele acrescentou que “é isso que fazem os facilitadores, manter a confiança porque é um dever de lealdade; devo-me às pessoas que participaram. E também porque no futuro pode ser que eu tenha que realizar uma tarefa na Venezuela. Sempre tentarei que essa seja a atitude para aquele país, pois sei por experiência como se pode ajudar”.

O ex-mandatário espanhol explicou que tem “tentado ajudar há cerca de 10 anos”: “Minha forma de ajudar é dar esperança aos venezuelanos a partir do consenso e do diálogo. Não vou renunciar a essa posição e farei isso com discrição”. Antes de entrar no recinto, cerca de 50 cidadãos venezuelanos o esperavam na rua e o insultaram com gritos como “sem-vergonha”, “traidor corrupto”, “covarde”, “vendido” e “filho da puta”.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Armando G. Tejeda Mestre em Jornalismo pela Jornalismo na Universidade Autónoma de Madrid, foi colaborador do jornal El País, na seção Economia e Sociedade. Atualmente é correspondente do La Jornada na Espanha e membro do conselho editorial da revista Babab.

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