Pesquisar
Pesquisar
Foto: Gustavo Petro / Facebook

Claudia Sheinbaum auxiliou M-19 em tempos de repressão, lembra Petro ao felicitar presidenta

"Desde muito jovem, tem sido uma grande lutadora social, uma mulher da esquerda que hoje está prestes a dirigir uma das maiores nações do mundo", ressaltou Petro
Jorge Enrique Botero
La Jornada
Bogotá

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Nesta segunda-feira (3), o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, saudou o triunfo de Claudia Sheinbaum nas eleições presidenciais do México e qualificou sua vitória como um “triunfo para o povo mexicano e para sua democracia”. Através de várias mensagens em sua conta no X, o chefe de Estado colombiano evocou os anos 70 e 80, quando o M-19 – a guerrilha à qual pertenceu – operava na ilegalidade e lembrou que “Claudia ajudou nos tempos da clandestinidade o M-19 no México”.

Petro felicita

Analistas locais relataram que a irrupção dessa guerrilha na vida política colombiana marcou um antes e um depois no rumo da esquerda nacional, dando início a uma forma de luta armada distante dos dogmas tradicionais do marxismo que gerou uma grande simpatia popular, especialmente entre as camadas médias das grandes cidades. As espetaculares ações do M-19 resultaram em uma feroz repressão contra seus militantes e suas famílias, que tiveram que se exilar em vários países da região, especialmente no México, Venezuela e Cuba.

Leia também | De militante estudantil a presidenta do México: a rica trajetória de Claudia Sheinbaum

Relatos de vida como o da atual senadora María José Pizarro, filha de Carlos Pizarro, assassinado quando era candidato presidencial do M-19 após sua desmobilização em 1990, dão conta da hospitalidade e do apreço que os jovens do “eme” (como eram conhecidos coloquialmente) colheram em terras mexicanas. Por isso, não surpreendeu a alusão de Petro à “ajuda que o M-19 recebeu no México” por parte da atual presidente eleita.

“Desde muito jovem, tem sido uma grande lutadora social, uma mulher da esquerda que hoje está prestes a dirigir uma das maiores nações do mundo”, ressaltou Petro.

Felicitações a minha amiga Claudia Sheinbaum, juntos trabalharemos para ver a América Latina unida e progredindo”, agregou o mandatário da Colômbia, onde a vitória da candidata da coalizão Sigamos Haciendo Historia ocupou ao longo do dia as manchetes principais dos meios de comunicação.

Violência urbana não dá trégua na Colômbia

A espiral de violência urbana que se abate sobre diversas cidades da Colômbia tirou na madrugada desta segunda (3) a vida de outros três jovens na cidade de Cartago, no sudoeste do país, ciclicamente atingida por ações de cartéis de drogas. Segundo fontes oficiais, os jovens estavam reunidos em uma casa de um bairro marginal da cidade quando foram atacados com armas automáticas de duas motocicletas. Três morreram instantaneamente e um ficou gravemente ferido.

O relatório quase idêntico emitido nestes casos pela polícia atribuiu os fatos a “vinganças entre grupos de microtráfico que disputam o mercado de drogas a sangue e fogo”. A notícia do massacre em Cartago ocorreu justamente no momento em que a agenda informativa dos últimos dias tem sido marcada por uma sucessão de crimes atrozes, especialmente contra mulheres, narrados ao vivo e em meio ao estupor da cidadania.

Leia também | Descumprimento de acordos coloca em risco processo de paz na Colômbia

A história de uma jovem atacada a facadas pelo ex-parceiro em um centro comercial da cidade e a posterior tentativa do assassino de tirar a própria vida ocupou a atenção da mídia nos primeiros dias da semana passada, mas logo essa notícia foi ofuscada pelas imagens de uma menina de três anos que chegou moribunda ao hospital Kennedy, no sul desta capital, após receber uma surra do padrasto, que – soube-se horas mais tarde – abusava sexualmente da bebê e de duas irmãs, de cinco e sete anos.

Embora a maioria dos analistas concorde que essas expressões de violência urbana são fruto de uma acumulação de realidades complexas não resolvidas, como o desemprego e a ausência de um sistema educacional que privilegie o valor da vida, os números chamam a atenção de forma alarmante: só em Bogotá os casos de violência doméstica passaram de 36 mil em 2022 para quase 45 mil no ano passado. De acordo com a vereadora Diana Diago, as mulheres são alvo de 75% das agressões, seguidas por menores de idade.

Assine nossa newsletter e receba este e outros conteúdos direto no seu e-mail: https://bit.ly/3yLEZ6g

As estatísticas, com toda a sua carga de frieza, não deixam de ser um termômetro angustiante para as cidadãs comuns, que cada vez mais repetem uma frase tão irônica quanto descritiva: “o lugar mais perigoso para as bogotanas é a sua própria casa”.

E no campo soam os tiros

Essa exacerbação da violência urbana nas ruas se complementa com o que acontece nos vastos territórios da periferia rural, onde a guerra sem fim entre grupos armados irregulares e as forças públicas cobra diariamente seu tributo de mortos, feridos e deslocados.

O eterno “puxa e afrouxa” entre o governo do presidente Gustavo Petro e as forças insurgentes que mantêm diálogos de paz com o executivo não só cria um clima de incerteza e angústia entre a população civil dos territórios de guerra, como também é aproveitado por outros grupos irregulares para ampliar sua presença territorial e sua influência política à ponta de tiro.

Conheça, acompanhe e participe das redes da Diálogos do Sul Global: https://bit.ly/45747jY

Não é à toa que representantes da Coscopaaz, uma agremiação de camponeses do sul do país, alertaram ontem o governo que, se não colocarem em prática imediatamente os projetos produtivos que prometeram para o desenvolvimento territorial, deixarão de apoiar as conversas de paz e se prepararão para outro longo período daquilo que sabem fazer melhor: sobreviver com suas famílias em meio à guerra.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Jorge Enrique Botero Jornalista, escritor, documentarista e correspondente do La Jornada na Colômbia, trabalha há 40 anos em mídia escrita, rádio e televisão. Também foi repórter da Prensa Latina e fundador do Canal Telesur, em 2005. Publicou cinco livros: “Espérame en el cielo, capitán”, “Últimas Noticias de la Guerra”, “Hostage Nation”, “La vida no es fácil, papi” y “Simón Trinidad, el hombre de hierro”. Obteve, entre outros, os prêmios Rei da Espanha (1997); Nuevo Periodismo-Cemex (2003) e Melhor Livro Colombiano, concedido pela fundação Libros y Letras (2005).

LEIA tAMBÉM

4ª Estado de exceção de Noboa - ministra e polícia do Equador divergem sobre criminalidade
4ª Estado de exceção no Equador é medida extrema e inexplicável de Noboa, dizem especialistas
SAMSUNG DIGIMAX A403
Justiça do Chile condena 5 ex-agentes de Pinochet por assassinato de militantes em 1989
O Genocídio Será Televisionado”
“O Genocídio Será Televisionado”: novo e-book da Diálogos do Sul Global denuncia crimes de Israel
Genocídio e genocidas um tema do presente, passado e futuro
Genocídio e genocidas: um tema do presente, passado e futuro