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Desenvolvimento da África passa por energias renováveis

Revista Diálogos do Sul

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Kandeh Yumkella, representante especial da ONU para a Energia Sustentável, acredita que a África deve apostar nas opções de energia renovável pequenas e mais descentralizadas que cheguem rapidamente à população rural. Foto: Wambi Michael/IPS Kandeh Yumkella
, representante especial da ONU para a Energia Sustentável, acredita que a África deve apostar nas opções de energia renovável pequenas e mais descentralizadas que cheguem rapidamente à população rural. Foto: Wambi Michael/IPS

Wambi Michael*

A diversificação das fontes de eletricidade na África mediante soluções de energia renovável, como solar, eólica, geotérmica e hidrelétrica, é anunciada como uma solução para a pobreza energética do continente.

Entretanto, as delegações presentes à Conferência sobre Energia Renovável, realizada em Abu Dhabi entre os dias 15 e 17 deste mês, observaram que apenas um punhado de países africanos aproveita esses tipos de recurso.

Alguns dos obstáculos possíveis são falta de financiamento, escasso interesse dos investidores e preferência de alguns governos pelos megaprojetos que poderiam não receber a atenção dos investidores privados.

Davis Chirchir, ministro de Energia do Quênia, afirmou à IPS que para muitos países subsaarianos o acesso ao financiamento para projetos de combustíveis fósseis é muito mais fácil do que para os de energias renováveis. “É um grande problema, inclusive quando os preços da energia renovável, como a solar e a eólica, estão baixando”, apontou. Os custos energéticos de seu país começaram a cair após seu investimento em energia geotérmica. O Quênia projeta gerar, somente no Vale do Rift, até três gigawatts de energia geotérmica.

Apesar dos benefícios de longo prazo, muitos dos países da região carecem de recursos próprios para começar a investir nesse tipo de projeto, explicou o ministro. “os grandes projetos renováveis costumam ser mais baratos, mas tendem a exigir custos de capital adiantado. Por isso, para muitos, necessitaremos de um financiamento mais específico” para seguir adiante, afirmou. “No Quênia, nosso investimento em energia geotérmica deslocou 65% dos combustíveis fósseis e baixou o custo para o cliente em 30%”, ressaltou.

Kandeh Yumkella, representante especial do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Energia Sustentável e presidente da iniciativa Energia Sustentável para Todos, disse que, apesar de as fontes de energia renovável diminuírem os custos de geração de energia, a África consome apenas um quarto da média mundial de energia por habitante. “Como podemos ajudar a maioria das pessoas na África que depende do carvão de lenha e do esterco bovino para suas necessidades primárias? Como fazer?”, perguntou.

Segundo Yumkella, a África deve apostar nas opções de energia renovável pequenas e descentralizadas que cheguem rapidamente à população rural, em lugar de esperar até se obter o financiamento dos grandes projetos. “Às vezes os custos de preparação dos projetos antes da chegada dos investimentos variam de 3% a 10% do custo total. Para muitos países africanos isso é muito dinheiro”, acrescentou.

Os governos africanos devem aplicar políticas que apoiem a geração de energia renovável utilizando o investimento privado para a construção de centrais de energia fora da rede, especialmente nas regiões onde é difícil a conexão às redes principais, sugeriu Yumkella.

Adnan Z. Amin, diretor-geral da Agência Internacional de Energias Renováveis (Irena). Foto: Wambi Michael/IPS Adnan Z. Amin, diretor-geral da Agência Internacional de Energias Renováveis (Irena). Foto: Wambi Michael/IPS

“Milhões de empreendedores podem estender as soluções de energia fora da rede enquanto esperamos pelos grandes projetos”, acrescentou o funcionário da ONU. “As pessoas não precisam esperar na escuridão a chegada dos grandes projetos. Podemos aplicar essas soluções hoje mesmo porque as tecnologias estão aí”, acrescentou.

Segundo a Agência Internacional das Energias Renováveis (Irena), inclusive com seu potencial atual, a África continua tendo a menor taxa de eletrificação rural em comparação com os demais continentes. Nas últimas décadas, a eletrificação rural em nível mundial cresceu de 61% a 70%, mas há grandes diferenças no acesso. Na África subsaariana, por exemplo, a taxa é de apenas 18%, em comparação a mais de 70% na Ásia em desenvolvimento.

A África deve duplicar o ritmo de expansão da eletrificação rural e mudar a forma como aborda o tema para conseguir o acesso universal à eletricidade até 2030, segundo a Irena. “Nesta expansão calcula-se que cerca de 60% da geração adicional virá de soluções autônomas e de redes  mínimas, sendo a maior parte de energias renováveis, já que estas podem aproveitar os recursos locais de energia”, afirmou Rabia Ferroukhi, subdiretora de Conhecimento, Tecnologia e Financiamento da Irena.

Os ministros de Energia e os delegados africanos na conferência de Abu Dhabi pediram a ajuda da Irena e dos países com maior conhecimento das energias renováveis para realizar a iniciativa do Corredor de Energia Limpa da África. Esta iniciativa fomenta o uso de energia hidrelétrica, geotérmica, de biomassa, eólica e solar nos países africanos, do Egito, no norte, até a África do Sul, no sul, para aumentar a capacidade, estabilizar a rede e reduzir a dependência de combustíveis fósseis no continente.

A Etiópia, um dos países que investe em energias renováveis, é um dos que propõe o financiamento para o Corredor. O país projeta a geração de 800 megawatts de energia eólica e um gigawatt de energia geotérmica, e está construindo uma usina hidrelétrica de seis mil megawatts, que será a maior de seu tipo na África, ao custo de US$ 4,8 bilhões.

O ministro de Água, Irrigação e Energia da Etiópia, Alemayehu Tegenu, ressaltou à IPS que o Corredor de Energia Limpa ajudará a impulsionar as soluções de energia renovável no continente. O projeto acumulou forte apoio político tanto na África como no âmbito da ONU, assegurou Adnan Amin, diretor-geral da Irena. “Queremos interligar os mercados africanos, criar um mercado regulado maior, porque quando se tem mercados grandes se pode ter grandes projetos que façam avançar a tecnologia”, acrescentou.

*IPS de Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos, especial para Diálogos do Sul


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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