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“Irmão de olho claro ou da Guiné
Qual será o seu valor?
Pobre artigo de mercado
Senhor, eu não tenho a sua fé e nem tenho a sua cor
Tenho sangue avermelhado
O mesmo que escorre da ferida”.
(Paraíso do Tuiuti. “Meu Deus, Está Extinta a Escravidão?)
Ângelo Cavalcante*
Caramba… Não era só uma escola de samba; não foi apenas um enredo; não foi uma noite. O que a Paraíso do Tuiuti fez no desfile do carnaval do Rio de Janeiro já é o principal acontecimento artístico do ano. Mais até, é marco definitivo na própria história do carnaval do país. Combinou com primazia absolutamente única e singular, enredo, harmonia, cadência, organização e originalidade com o fundamental: arte!
Fez mais… Misturou ao melhor do brilho dos seus quesitos uma coragem poucas vezes vista; na delicadeza tocante do desenvolvimento de sua apresentação deu a maior ‘bofetada’ na TV Globo desde o ontológico direito de resposta e que fora concedido a Leonel Brizola no ano da graça de 1994.
“Bons tempos quando havia censura”, sentenciaram os donos da golpista TV. A Paraíso do Tuiuti traduziu em miúdos o próprio sentimento do povo brasileiro; suas tristezas, angústias, decepções, sofrimentos e esperanças e lançou, espraiou na Marquês de Sapucaí; arrebatando os sentidos de toda a população para um incrível e mágico padrão superior de percepção do real, o que seja, o fiar delicado e sofisticado entre arte e política! Carnaval não é brincadeira!
A Tuiuti mostrou que não e provocou engulhos no ‘donos do poder’. As câmeras mostravam e não mostravam; os enquadramentos eram ligeiros, cirúrgicos e politizados a fim de minimizar o ‘estrago’ causado pela ousadia cidadã da Escola. Os comentaristas falavam como se carregassem cadeados nos dentes! Quase uma comédia!
Paulinho da Viola dirá: “Foi um rio que passou em minha vida!”. Foi um rio sim e foi um mar, um oceano de alegrias ver a resistência popular acontecendo; Conseguem imaginar a Europa, os Estados Unidos, a China e o Japão assistindo ao desfile daquelas mulheres lindas? Aquele hipnótico festival de cores? Aquela gente teimosamente alegre e, de repente… Pimba! As tripas do golpe são mostradas com uma clareza, com uma pedagogia tal só comparável com os áudios de Romero Jucá.
Muito bom! Nós ganhamos! Nós, o povo, já ganhamos um dos melhores carnavais da história desse país. Os quase vinte milhões de desempregados podem soltar um sorriso, mesmo que de ‘canto de boca’; os precarizados podem se abraçar; os aposentados e os que querem se aposentar tomem uma cervejinha bem gelada… Ganhamos essa!
E para os golpistas de plantão, aos que bateram panelas, aos que dançaram suas coreografias patéticas e inominavelmente bizarras, aos que se vestiram de CBF vejam o inacreditável, contemplem aquilo que jamais viram, se assustem, se espantem, tenham medo… Isso se chama POVO e para vossos pecados e arrependimentos, ele está mais vivo do que nunca!
Ângelo Cavalcante – Economista, professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), campus Itumbiara.