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ToggleCom uma trajetória impecável em seu trabalho de investigador para esclarecer os casos mais impactantes de tráfico de influência, corrupção e impunidade, o promotor Juan Francisco Sandoval — que empreendia uma luta frontal contra as tentativas de frear suas investigações no Ministério Público — foi destituído de seu cargo pela Promotora Geral da Guatemala, pessoa que em descarada aliança com as organizações criminosas no poder sabotou todos os esforços em prol da justiça nesse país.
O promotor Sandoval não só conta com o respaldo de organizações sociais em seu território, mas também recebeu reconhecimentos por parte de entidades internacionais no âmbito da justiça e dos direitos humanos.
Com sua destituição, fica clara a posição das autoridades guatemaltecas em sua decisão de transformar de golpe essa dependência em um refúgio para garantir a impunidade dos delitos do presidente, Alejandro Giammattei, seus ministros, seus próximos, de empresários corruptos e de uma boa parte da assembleia legislativa e do organismo judicial, todos que agem sob a premissa do silêncio e da cumplicidade.
Twitter – reprodução
O promotor Juan Francisco Sandoval
Ilegalidades
A ação — presumidamente ilegal, segundo indicam especialistas na matéria — realizada pela máxima autoridade do Ministério Público, constitui a pedra fundamental para o estabelecimento de um sistema de governo cooptado pelo narcotráfico e pelo crime organizado, sob a guarda-chuva oportunista de um setor empresarial cujo único afã é perpetuar seus privilégios à custa da segurança e da vida do resto da população.
A cidadania, alheia aos bastidores da manhosa estrutura consolidada durante as passadas administrações e reforçada por um ambiente de excessiva tolerância, não tem sabido reagir com a firmeza esperada depois deste golpe arteiro à justiça.
Obscuro negócio das vacinas
Entre as investigações empreendidas pela promotoria contra a impunidade lideradas por Juan Francisco Sandoval, se encontra uma que atinge o mandatário sobre o obscuro negócio das vacinas e o que, supostamente, foi a causa primária da destituição deste promotor.
Resulta bastante óbvio que seu trabalho representou, mais que uma pedra no sapato, uma séria ameaça contra aqueles que violam as leis amparados pelo poder.
O medo imperante entre aqueles que abusaram de maneira descarada dos mecanismos legais para impedir a aplicação da justiça, é hoje uma real ameaça contra a débil estabilidade dos fundamentos institucionais na Guatemala.
Ficou meridianamente claro que os corruptos — reunidos em um pacto perverso — são capazes de cometer qualquer violação à Constituição e às leis com tal de conservar seus bens mal havidos e os privilégios conquistados à força de abusos.
Eles não apenas entorpeceram o trabalho dos investigadores, também estabeleceram um clima de terror e perseguição contra juízes probos, jornalistas éticos e independentes, ativistas de direitos humanos e líderes das distintas comunidades, que arriscam sua vida na defesa da justiça, de seus territórios e de seus direitos.
Como um Quixote solidário, se despede de seu cargo um dos melhores promotores que já passaram pelo Ministério Público, mas as manifestações de repúdio por sua destituição não são suficientes. É urgente uma tomada coletiva de consciência para compreender, em toda a sua magnitude, a catástrofe institucional que o pacto de corruptos levou ao país e, portanto, agir consequentemente.
O medo dos corruptos é um perigo iminente contra a democracia.
Carolina Vasquéz Araya, Colaboradora de Diálogos do Sul da Cidade da Guatemala
Tradução: Beatriz Cannabrava
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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