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Dia do México: após tratar mexicanos como ameaça aos EUA, Trump felicita imigrantes

O setor latino é o mais afetado economicamente como resultado da pandemia e os mais atingidos pela Covid-19, junto aos afro-estadunidenses
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

O presidente Donald Trump enviou a saudação tradicional aos mexicanos, felicitando-os pelo 5 de maio, embora pouco antes tenha reiterado que continuam sendo uma ameaça, enquanto a comunidade mexicana migrante através do país continua padecendo as consequências severas não só da pandemia, mas da intensificada campanha anti-imigrantes da Casa Branca, agora justificada como parte da resposta ao coronavirus. 

Em sua “mensagem presidencial” sobre o “Cinco de Maio”, Trump declarou que embora este ano o festejo poderia não incluir as festas e desfiles usuais, “a história subjacente de perseverança e resistência é tão relevante como sempre”.  

Trump explica, no comunicado, que há 158 anos “o exército mexicano montou uma defesa monumental da liberdade, derrotando as forças francesas imperialistas na Batalha de Puebla. Esta batalha nos recorda que os grandes desafios e dificuldades podem ser superadas com a resolução inquebrantável e um espírito determinado”. Concluiu dizendo que “Melania se une a mim no reconhecimento à comunidade mexicana-americana por suas numerosas contribuições excepcionais ao nosso país, particularmente hoje com tantos americanos de ascendência mexicana servindo nas trincheiras de nossa luta contra o coronavirus”. 

O setor latino é o mais afetado economicamente como resultado da pandemia e os mais atingidos pela Covid-19, junto aos afro-estadunidenses

White House
A comunidade latina estadunidense, incluindo a de ascendência mexicana é, junto com a afro-estadunidense, a mais devastada pela Covid-19.

Mas, umas 24 horas antes, Trump havia tuitado que “México tristemente está experimentando alguns problemas muito grandes do coronavírus, e agora a Califórnia, prestem atenção, não quer que as pessoas cruzem a fronteira do sul… Tem taaanta (sic) sorte que eu seja seu Presidente. A Fronteira está muito fechada e o Muro está sendo construído rapidamente!”.   

A comunidade latina estadunidense, incluindo a de ascendência mexicana é, junto com a afro-estadunidense, a mais devastada pela Covid-19 e os efeitos da crise econômica que ela desatou. Os latinos, incluindo os imigrantes, representam um número desproporcional das mortes pelo vírus já que são mais vulneráveis pela pobreza e suas consequências na saúde. 

O setor latino é o mais afetado economicamente como resultado da pandemia, com 61% afirmando que eles ou alguém de sua casa havia sofrido uma perda de emprego ou redução de salário, e 70% não tem economias para uma emergência, reportou o Pew Research Center. 

Ao mesmo tempo que sofrem as consequências físicas da pandemia, os imigrantes mexicanos que junto com outros latino-americanos e caribenhos se encontram sob uma cada vez mais feroz política anti-imigrantes impulsionada pelo governo de Trump, e em parte por isso se mantêm nas sombras quando ficam doentes e mesmo quando morrem – portanto não há cifras precisas sobre os afetados pela pandemia. 

Além do mais, o governo de Trump está empregando a pandemia para impulsionar medidas não apenas para expulsar indocumentados e solicitantes de asilo, mas sim para suspender a imigração legal (com algumas exceções). 

Organizações de defesa dos imigrantes têm denunciado as novas medidas como perigosas e até letais para suas comunidades, sobretudo para famílias indocumentadas e mesmo para os que têm uma família “mista” com um integrante indocumentado, já que estão excluídos da assistência federal – seguros de desemprego, os pagamentos de 1.200 dólares para os cidadãos de baixa renda – nesta emergência de saúde e crise econômica.

Diante dessas graves condições, diversas organizações de base estão criando redes de “assistência mútua” em grandes cidades como Nova York, Chicago e Los Angeles, enquanto igrejas e grupos comunitários, como também esforços mais institucionais, estão buscando a forma de apoiar os supostos festejados deste “cinco de maio” que enfrentam fome, desemprego, agressões de ódio e falta de atendimento aos seus doentes e inclusive aos seus mortos. 

Hoje a Fuerza Migrante, com uma rede de 150 lideranças e grupos comunitários, anunciou iniciativas de apoio urgente para setores imigrantes mexicanos excluídos da assistência federal incluindo atendimento médico e apoio financeiro para os que sofreram a perda de um familiar.

O “Cinco de Maio” converteu-se em algo como o “Dia do México” nos Estados Unidos, algo aparentemente agora celebrado aqui com a pesquisa e a exploração dos herdeiros da batalha de Puebla.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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