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Foto: Luis Álvarez / Resumen Latinoamericano

Dia dos trabalhadores no Peru: em primeiro lugar, consciência e sentimento de classe

É preciso levar os trabalhadores à luta por seus ideais mais elevados, para que sejam capazes de agir como ferramenta transformadora da sociedade peruana
Gustavo Espinoza M.
Diálogos do Sul Global

Tradução:

Beatriz Cannabrava

O 1º de Maio constitui um convite generoso para escrever sobre o Dia Internacional dos Trabalhadores, seu significado, importância e transcendência.

Fazê-lo hoje no Peru tem um significado especial não apenas pela natureza agressiva da crise do sistema de dominação capitalista que empobrece a vida de milhões; mas também porque constitui uma maneira de afirmar um ideário e um sentimento de classe que devemos procurar estender até torná-lo uma ferramenta de todo o povo.

Vivemos tempos difíceis, nos quais a ofensiva do Capital não se expressa apenas no plano econômico, mas também na esfera mais ampla do pensamento.

A classe dominante não se contenta em manter os trabalhadores amarrados, impondo salários e condições de trabalho deploráveis, mas também se empenha em neutralizar sua capacidade de pensamento. Eles buscam fazer com que eles raciocinem como seus opressores, aceitando docilmente as ferramentas da dominação.

Até algumas décadas atrás, os governos reacionários resistiam em aceitar o 1º de Maio como um Dia do Proletariado. Eles proibiam as manifestações operárias e reprimiam os trabalhadores usando a força. Depois, com novas táticas, aceitaram a data, assegurando que ela “também lhes pertencia”, porque eles “também eram trabalhadores”. Curando-se em saúde, no entanto, optaram por afirmar que o dia não é propriamente o dos Trabalhadores, mas o “Dia do Trabalho”. Assim, buscaram prestar homenagem à atividade em si, à parte de sua forma e conteúdo.

Para melhor aplicar seus mecanismos de exploração e reivindicar o verdadeiro sentido da lei do Capital – a da Máxima Ganância – eles sempre se esforçam para inventar novos mecanismos, aperfeiçoando o modelo de exploração. Assim, eles criaram o neoliberalismo, que se ajusta perfeitamente a seus objetivos essenciais. Graças a ele, multiplicaram até o delírio seus lucros e massificaram a pobreza, universalizando a proletarização de milhões.

No entanto, tudo isso não é suficiente para eles. Hoje, eles buscam obsessivamente domesticar os trabalhadores, desejando que pensem como eles na apreciação da problemática social. Eles buscam, então, que renunciem à sua ótica de classe e que “se entendam” com seus exploradores visando “aumentar a produção”.

Eles incentivam mudanças no sindicalismo de nosso tempo e enviam “mensagens” destinadas a seduzir certos segmentos da Classe. Eles desejam convencê-los de que estes são “outros tempos” nos quais “não cabe a luta de classes”.

Não é preciso buscar a confrontação, dizem a eles, mas a concertação; não é preciso promover o protesto, mas a proposta: e não recorrer à greve, mas à Mesa de Diálogo. Em outras palavras, conciliar e não lutar.

Esta “mensagem” costuma encontrar receptividade em alguns segmentos do movimento operário. E é que o instrumento de luta dos trabalhadores – a Consciência de Classe – não se consolida, nem se afirma de uma vez por todas. Assim como se adquire a Consciência de Classe, assim se perde.

A burguesia – nos disse Aníbal Ponce – é hábil no manejo dos artifícios da consciência operária, “estimulando em alguns a vaidade sempre desperta e em outros a ambição nunca adormecida, é capaz de dominar os fios da alma proletária” e dobrar líderes que poderiam representar os interesses de seu povo.

A Consciência de Classe – a noção exata do papel que o indivíduo desempenha no processo produtivo – não está plantada na terra, nem cai como o Maná, do céu.

Ela é adquirida com a experiência de vida e a luta operária, e amadurece com a formação de cada combatente. Primeiro, surge como Instinto de Classe, depois como sentimento de classe, em seguida como orgulho de classe, até se afirmar como Consciência de Classe. Ela é alcançada quando se compreende o papel do proletariado em toda a sua dimensão social.

Para forjá-la, é indispensável partir do combate pelas reivindicações imediatas dos trabalhadores, mas não ficar apenas nelas. Analisando o tema, Mariátegui nos disse: “Um proletariado sem outro ideal além da redução das horas de trabalho e do aumento dos centavos do salário, nunca será capaz de uma grande empresa histórica”.

Conscientes disso, devemos compreender que a primeira grande tarefa de hoje é semear consciência e sentimento de classe. E isso passa por levar os trabalhadores à luta por seus ideais mais elevados, para que sejam capazes de agir como a ferramenta transformadora da sociedade peruana.

O regime atual e o empresariado temem a luta de classes e os trabalhadores como Classe Independente e com valores próprios. Para enfrentá-los, eles usam duas táticas: promovem a conciliação de classes por um lado, e ameaçam com a Picana Eléctrica por outro.

Eles buscam mimetizar a luta operária com o agir terrorista, e pretendem apresentar o agir independente dos sindicatos como sinônimo de sedição e violência.

Em um cenário como este, é indispensável que lembremos do Amauta: “O trabalhador indiferente à luta de classes, satisfeito com seu padrão de vida, contente com seu bem-estar material, poderá chegar a uma moral burguesa medíocre, mas nunca conseguirá elevar-se a uma ética socialista”.

E a bandeira dos trabalhadores não é outra senão a bandeira do socialismo.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Gustavo Espinoza M. Jornalista e colaborador da Diálogos de Sul em Lima, Peru, é diretor da edição peruana da Resumen Latinoamericano e professor universitário de língua e literatura. Em sua trajetória de lutas, foi líder da Federação de Estudantes do Peru e da Confederação Geral do Trabalho do Peru. Escreveu “Mariátegui y nuestro tiempo” e “Memorias de un comunista peruano”, entre outras obras. Acompanhou e militou contra o golpe de Estado no Chile e a ditadura de Pinochet.

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