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Diante dos desastres de Trump na pandemia, cresce otimismo de Biden para vencer eleições

Democrata tem sustentado uma vantagem de pelo menos 8 pontos sobre sobre o candidato a reeleição nas pesquisas ao longo do último mês
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

A menos de quatro meses das eleições presidenciais, cresce o otimismo do candidato democrata à presidência, Joe Biden, e de seu partido diante das consequências do desastroso manejo da pandemia pelo presidente Donald Trump, exemplificado hoje com a Casa Branca declarando que “a ciência não deve estorvar” as decisões sobre a reabertura nacional das escolas públicas.

Incrementos em casos de contágios da pandemia são registrados agora em 41 dos 50 estados do país, revertendo os avanços logrados com quarentenas parciais, ao proceder às reaberturas prematuras, enquanto estados que recusaram a implementar medidas de mitigação hoje estão entre os mais afetados (Flórida, Texas, Arizona).

Tudo, repetem especialistas, consequência da ausência de uma política nacional e de coordenação federal para combater a pandemia. Ou seja, o manejo da crise por Trump, o que agora tornou-se, por fim, o epicentro do debate político eleitoral.

Democrata tem sustentado uma vantagem de pelo menos 8 pontos sobre sobre o candidato a reeleição nas pesquisas ao longo do último mês

Twitter Joe Biden / Reprodução
A menos de quatro meses das eleições presidenciais, cresce o otimismo do candidato democrata à presidência, Joe Biden.

Economia e o seguro desemprego

Ao mesmo tempo, outros um milhão e trezentos mil trabalhadores solicitaram benefícios de desemprego na última semana, elevando o total a mais de 32 milhões desde que explodiu a crise – cifra que não inclui centenas de milhares, e talvez milhões de imigrantes e trabalhadores do setor informal que não têm direito a esses benefícios.

Trump está obcecado com minimizar esta crise, reiterando, apesar de todas as evidências, que a pandemia está passando e que a economia está se recuperando. Portanto, exige a reabertura do país, incluindo a reativação das escolas. Foi nesse contexto que sua secretária de imprensa, Kayleigh McEnany, em resposta a alguns meios argumentou que “a ciência não deve estorvar” a reabertura das escolas.

Para Biden e os democratas, por ora, o mais efetivo é deixar que Trump faça campanha contra si mesmo com esse tipo de coisas. Diante da declaração da porta-voz, o Comitê nacional Democrata – a chefia do partido – respondeu: “agora o governo de Trump deseja arriscar ainda mais as vidas dos professores, das crianças, do pessoal e suas famílias só para sovar o ego do presidente. Este presidente prefere aceitar teorias de conspiração e rechaçar a ciência em vez de escutar especialistas em saúde pública. Não se pode confiar nele para tomar decisões sobre as vidas das crianças dos Estados Unidos e suas famílias”.

Biden tem sustentado uma vantagem de pelo menos 8 pontos sobre Trump nas pesquisas ao longo do último mês – algumas sondagens recentes têm incrementado essa margem; nas que perguntaram sobre em quem confiam mais no manejo da pandemia, o democrata sai ganhando.  

Biden também tem arrecadado enormes somas de fundos em semanas recentes, com mais de 242 milhões de dólares só no segundo trimestre, reportado hoje – aproximando-se do total de Trump de 295 milhões nesse mesmo período. Seus doadores mais generosos são os multimilionários que tradicionalmente têm apoiado aos centristas desse partido, entre eles os do setor tecnológico (a viúva de Steve Jobs da Apple e um cofundador do Facebook), Hollywood (Jeffrey Katzenberg) e filantropos como George Soros – todos com aportes de pelo menos 500 mil dólares. 

Reeleição sob risco

Trump está muito consciente de que sua reeleição está em risco. Na quarta-feira substituiu seu chefe de campanha Brad Pascale e colocou nesse posto Bill Stepien — que anteriormente foi assessor chave do ex-governador de Nova Jersey, Chris Christie. Não foi surpresa – se esperava algo assim desde o fiasco em Tulsa no mês passado onde foi organizado o primeiro grande comício eleitoral público para marcar a reinício da campanha de Trump – interrompida pela pandemia – mas onde a arena teve apenas um terço da capacidade preenchida. E ainda mais, a campanha cancelou um comício eleitoral em Nova Hampshire na semana passada com o pretexto de prognósticos falsos sobre uma tormenta, já que havia preocupação de que podia se repetir algo parecido a Tulsa, reportou Político. 

Para Trump, esses comícios massivos são chaves para sua estratégia eleitoral, mas agora tudo indica que até as dimensões da convenção nacional do Partido Republicano em agosto serão reduzidas, com várias figuras ausentes, por temor à pandemia. 

Mas o problema agora não é a equipe de campanha, nem o partido, dizem múltiplos analistas, mas o candidato. Seu manejo da pandemia ao longo dos últimos cinco meses está contagiando as possibilidades de sua reeleição. 

Cautela democrata

Os democratas e outros opositores do presidente que se atrevem a expressar certo otimismo diante desse panorama, o fazem com grande cautela. Todos lembram de 2016 quando se suponha até as últimas horas que os democratas, com sua candidata Hillary Clinton, tinham assegurado – algo confirmado pelas pesquisas – o triunfo frente a quem consideravam um bufão. 

Os estrategistas de Biden sabem que seu candidato não desperta grande entusiasmo nem entre suas próprias bases, e estão apostando no voto anti-Trump mais do que um voto por Biden.  

Além disso, forças progressistas e sobretudo os jovens que têm sido o motor do atual movimento de protesto social, o maior da história desde país, como os que impulsionaram a campanha sem precedentes de Bernie Sanders, entre outros, não estão convencidos de que Biden seja a solução. Apontam, por exemplo, seus extensos vínculos com os multimilionários. 

“Biden está ocupado pelos de Wall Street os quais usam sua influência para assegurar que seja outro presidente estilo Clinton-Obama, meio liberal em temas sociais, mas nenhuma ameaça ao modelo de negócios tóxico de Wall Street, que é o impulsionador fundamental da grave desigualdade de renda e riqueza como também da concentração empresarial extrema”, escreve Robert Buettnera do The American Prospect.

Não é por nada que Biden tem aceitado negociar com forças progressistas dentro do partido, sobretudo com os senadores Sanders e Elizabeth Warren, incorporando algumas de suas ideias à campanha. Uma expressão disso é o plano de 2 trilhões de dólares sobre mudança climática e desenvolvimento apresentado por Biden esta semana. 

Mas todo mundo sabe que essa eleição gira em torno de quem é considerado por uma gama cada vez maior – de conservadores tradicionais a todo o espectro progressivo – como o ‘presidente mais perigoso’ neste país e no mundo hoje.

 

David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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