Enquanto na Câmara de Deputados se discutia um projeto acerca de “regras do uso da força” por policiais e militares, para enfrentar a delinquência que castiga o Chile, nesta quinta-feira (13) se informava que três agente policiais foram feridos à bala sob diversas gravidades, depois de ser emboscados em um bairro do município de La Florida, em Santiago.
O ataque, em que os carabineiros abateram um atacante e capturaram outro, teve o efeito desejado para a discussão no legislativo, quando setores direitistas alegaram que o governo busca mediatizar a severidade do projeto para comprazer parlamentares oficialistas do Apruebo Dignidad (Frente Amplio e Partido Comunista) que desconfiam e desaprovam a lei, pelos riscos de violação dos direitos humanos, pelo “populismo penal e policial” que avança no país.
O tiroteio teve o efeito também de multiplicar as exigências para que se militarizem os 30 municípios mais violentos do país, onde acontecem a metade dos crimes.
Enquanto aquilo sucedia na capital, a partir da Região da Araucanía, onde organizações mapuche se levantaram em armas contra o Estado para recuperar terras ancestrais, se conhecia três ataques incendiários contra dezenas de máquinas e caminhões florestais.
Nessa zona, há 15 meses rege um estado de exceção constitucional e o deslocamento de tropas que não consegue aplacar a insurgência que inclusive está à ofensiva nas últimas semanas.
Excludente de ilicitude: após aprovação de nova lei no Chile, polícia faz primeira vítima
No último mês, três carabineiros morreram nas mãos de criminosos comuns, o mais recente na semana passado, horas depois de ser aprovada uma lei que endurece as penas de prisão para aqueles que ataquem os agentes e que estabeleceu a legítima defesa privilegiada ao disparar, ao presumir que sua vida e/ou a de terceiros corre perigo.
Entre sábado e domingo último, houve duas matanças de civis nas localidades de Lampa e de Quilpué, próximas a Santiago, uma de cinco pessoas e outra de quatro, que pareceram ajustes de contas entre bandos rivais, e expressões de que a morte de aluguel se instalou junto ao aumento de violência com relação aos bandos e o crime organizado.
“Não vamos resolver [a crise] aprovando novas leis”, afirma o ministro da Justiça, Luis Cordero
Sobre os policiais baleados ontem, o general-diretor de Carabineiros, Ricardo Yáñez, afirmou que “isto não nos vai fazer decair, muito pelo contrário, não baixamos os braços, seguimos em frente. Vamos continuar combatendo a delinquência, porque as pessoas assim o necessitam, assim o requerem, e isto é um apelo para dizer que aqueles que se atrevem vão enfrentar também o uso das armas por parte de Carabineiros”.
Enquanto isso, o presidente Boric, em viagem pelo norte do país, declarava que “a delinquência não nasce da noite para a manhã e hoje estamos fazendo o que durante demasiado tempo se deixou de fazer. Espero que todos, sem oportunismo de nenhum tipo, se somem a esta que é uma causa nacional. Não será fácil, mas esta batalha vamos ganhar”.
Para o ministro da Justiça, Luis Cordero, “o dado mais relevante para explicar a atual crise de insegurança é o veloz aumento de homicídios com imputado desconhecido”. Cordero explica que “entre 2005 e 2013, 70% dos homicídios ocorridos no Chile tinham um imputado conhecido, ou seja, se identificava e castigava o autor”. Em troca, agora, sete de 10 homicídios não têm um imputado.
Contrário à euforia parlamentar de aprovar leis cada vez mais ferozes, Cordero estima que “os problemas de segurança se resolvem reduzindo a impunidade e tendo um sistema de justiça penal eficaz, que supõe a combinação de distintas instituições”.
“Não vamos resolver [a crise] aprovando novas leis”, disse taxativamente Cordero ao La Tercera.
Aldo Anfossi | La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.
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