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“Os direitos dos povos indígenas têm sido entregues à bancada ruralista”, denuncia Cimi

Conselho Indigenista Missionário e outros nomes do ativismo repudiaram a morte de indígenas da etnia guajajara, assassinados no sábado (7)
Redação CIMI
CIMI
Brasília (DF)

Tradução:

O Conselho Indigenista Missionário denunciou em nota divulgada neste domingo (8), o assassinato de duas lideranças da etnia guajajara que retornavam de uma reunião no início da tarde de sábado (7) com a Fundação Nacional do Índio (Funai) e a Eletronorte.

Atingido por quatro disparos, Firmino Prexede Guajajara, de 45 anos, da aldeia Silvino, da Terra Indígena Cana Brava, e Raimundo Benício Guajajara, de 38 anos, da aldeia Decente, da Terra Indígena Lagoa Comprida, foram atacados e atingidos por vários disparos de arma de fogo na BR 226, no município de Jenipapo dos Vieiras, no Maranhão, 500 quilômetros ao sul da capital São Luís.

Segundo informou a liderança Magno Guajajara à agência Amazônia Real, outros dois indígenas ficaram feridos e estão sendo atendidos na Unidade de Pronto Atendimento de Barra do Corda.

No documento de repúdio emitido pelo Cimi, também é denunciada a morte de Humberto Peixoto, do povo Tuiuca, do Amazonas, na última segunda-feira (2). Vítima de espancamento, o indígena que trabalhava na Cáritas Arquidiocesana, faleceu neste sábado (7).

Conselho Indigenista Missionário e outros nomes do ativismo repudiaram a morte de indígenas da etnia guajajara, assassinados no sábado (7)

Direitos Indígenas
Guajajaras protestam contra assassinatos de lideranças

Repercussão nacional e internacional 

Em vídeo divulgado no mesmo dia do assassinato, a líder indígena Sônia Guajajara afirmou que esses crimes “não são casos isolados”, pois “são reflexo do ódio que vem sendo disseminado pela autoridade máxima do país contra nós, povos indígenas”. 

Sônia ainda acusou Jair Bolsonaro de não cumprir a Constituição Federal e não garantir a proteção aos povos indígenas vidas e ao meio ambiente. “Infelizmente o que vemos é o contrário, um comportamento que não condiz com o de um presidente. Exigimos justiça. Esses crimes não podem continuar impunes”, finalizou.

A jovem ativista Sueca Greta Thumberg, que se tornou um dos principais nomes na luta mundial contra o aquecimento global, também alertou sobre os assassinatos dos povos indígenas no Brasil um dia após o atentado. 

“Os povos indígenas estão literalmente sendo assassinados por tentar proteger a floresta do desmatamento ilegal. Repetidamente. É vergonhoso que o mundo permaneça calado sobre isso”, escreveu a ativista no Twitter.

Relação com bancada ruralista

A nota divulgada pelo Cimi ainda relembra a emboscada que matou Paulo Paulino Guajajara no dia 1º de novembro, na Terra Arariboia (MA), quando realizava uma ronda contra invasões e que o crime não foi solucionado, pois os criminosos seguem não identificados nem foram presos.

O Conselho denuncia, por fim, que a série de atentados, ameaças, torturas e agressões ocorridas contra essas populações, têm acontecido paralelo ao discurso racista contra a população indígena brasileira. 

“O presidente Jair Bolsonaro tem dito e repetido, em vários espaços de repercussão nacional e internacional, que nenhum milímetro de terra indígena será demarcado em seu governo, que os povos indígenas teriam muita terra e que atrapalham o ”progresso” no Brasil”, ressalta o documento ao repudiar que “os direitos dos povos indígenas têm sido negociados e entregues à bancada ruralista”.

Confira a íntegra da nota:

Nota do Cimi sobre assassinatos de indígenas Guajajara, no Maranhão, e Tuiuca, no Amazonas

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) vem a público para denunciar e repudiar mais um atentado com vítimas fatais contra o povo Guajajara, no estado do Maranhão, e contra um indígena Tuiuca, no Amazonas.

Neste sábado (7) um grupo de lideranças indígenas Guajajara retornava de uma reunião com a Fundação Nacional do Índio (Funai) e a Eletronorte quando foram atacados e atingidos por vários disparos de arma de fogo na BR 226, no município de Jenipapo dos Vieiras (MA).

Os dois indígenas assassinados são os caciques Firmino Praxede Guajajara, da Terra Indígena Cana Brava e Raimundo Belnício Guajajara, da Terra Indígena Lagoa Comprida; outros dois indígenas encontram-se gravemente feridos. Os disparos foram praticados por criminosos que estavam em um veículo Celta branco.

Lembramos que em 1º de novembro, a liderança Paulo Paulino Guajajara foi assassinada dentro da Terra Indígena Araribóia, também no Maranhão, atacado por invasores durante emboscada onde Laércio Souza Silva Guajajara acabou alvejado no braço e nas costas, mas felizmente sobreviveu. Até esta data o crime não foi solucionado e os criminosos seguem não identificados e presos.

Neste contexto, ressaltamos ainda que na última segunda feira, dia 2, foi vítima de espancamento e violência extrema o indígena Humberto Peixoto, do povo Tuiuca, do Amazonas, que trabalhava na Cáritas Arquidiocesana. O indígena veio a óbito também neste sábado (7).

Tais crimes, contanto ainda com atentados, ameaças, tortura e agressões ocorridas por todo país contra essas populações, têm acontecido na esteira de discursos racistas e ações ditadas pelo governo federal contra os direitos indígenas. O presidente Jair Bolsonaro tem dito e repetido, em vários espaços de repercussão nacional e internacional, que nenhum milímetro de terra indígena será demarcado em seu governo, que os povos indígenas teriam muita terra e que atrapalham o ” progresso” no Brasil.

Bolsonaro repetiu este discurso na abertura dos trabalhos das Nações Unidas em setembro deste ano, quando várias terras indígenas ardiam em fogo, principalmente na região Amazônica. Também no mês de setembro o ministro das Minas e Energia disse que estava preparando um Projeto de Lei para ser enviado ao Congresso com o objetivo de regulamentar a exploração de minérios e outras atividades da agropecuária nos territórios indígenas.

Os direitos dos povos indígenas têm sido negociados e entregues à bancada ruralista, que já tem o controle das ações da Funai em Brasília e nas regiões. Nestes últimos dias, o atual presidente da Funai, Marcelo Xavier, determinou que todos os servidores sejam obrigados a solicitar sua autorização para prestar assistência às comunidades indígenas, além de proibir o deslocamento de servidores a terras indígenas não homologadas e registradas.

Seguindo com o projeto de isolar as aldeias das políticas públicas estatais e de desvirtuar a Funai da missão de proteger e promover os direitos dos povos indígenas, Xavier manifestou desinteresse do órgão indigenista em ações judiciais que discutem demarcações de terras indígenas e substituiu antropólogos de larga experiência técnica em Grupos de Trabalho criados para proceder estudos de identificação e delimitação de terras indígenas por ‘pessoas de confiança’, sem competência para o trabalho.

O Ministério da Justiça, ao qual a Funai é subordinada, está omisso e o ministro Sérgio Moro se nega a receber os representantes indígenas que têm solicitado audiências para resolver pendências territoriais.

A ação propositada do governo federal de instrumentalização da política indigenista, em favor dos interesses econômicos dos ruralistas, mineradores e madeireiros, é grave e irresponsável, atenta contra a Constituição Federal e contra todos os acordos e convenções internacionais de proteção dos povos originários, dos direitos humanos e do meio ambiente.

O atentado contra lideranças indígenas Guajajara, neste sábado, é de responsabilidade das autoridades do governo federal, que têm negado os direitos indígenas, incitado o preconceito e o ódio na população e acobertado a invasão dos territórios e a violência física contra os povos.

Vimos, portanto, conclamar às autoridades a se submeterem à Constituição Federal de 1988, que concebe os povos indígenas como cidadãos brasileiros com seus direitos garantidos. Exigimos imediata e isenta apuração dessa onda de crimes contra os povos, que os criminosos sejam identificados e penalizados nos termos da legislação brasileira.  Que as autoridades não deixem mais esse crime contra as lideranças indígenas ficar na impunidade como sempre tem acontecido.

O Cimi se solidariza com os familiares das lideranças assassinadas e feridas, com os povos Guajajara e Tuiuca e com todos os povos indígenas do Brasil nesse momento de profunda dor e indignação.


Conselho Indigenista Missionário (Cimi)


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Redação CIMI

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