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Letalidade da polícia no RJ é movida pelo discurso de medo e controle militarizado

Somente a polícia do Rio de Janeiro foi a responsável por 23% do total de letalidade no Brasil, no ano de 2018. Neste cenário, como podemos compreender o que é letalidade policial?
Ana Flávia Eccard
Diálogos do Sul
São Paulo (SP)

Tradução:

Segundo o Relatório Anual de 2019 da plataforma digital Fogo Cruzado, foram registrados no ano passado 7.365 tiroteios na região metropolitana do Rio de Janeiro, o que traduz uma média de 20 tiroteios por dia, dos quais parte significativa conta com a participação de agentes estatais, especialmente a polícia militar. Do total de tiroteios que foram levantados, a capital concentrou 59% do total registrado no Grande Rio em 2019, tendo acumulado um todo de 1375 mortes em decorrência de ações policiais, segundo dados do Observatório da Intervenção (2020).

Além dos confrontos terrestres, houve um aumento, em 2019, de 283% das operações policiais que se utilizam de helicópteros como plataforma de tiro, alvejando indiscriminadamente quem estiver embaixo (FOGO CRUZADO, 2019).

Isto significa que o Rio de Janeiro é atravessado por mortes provocadas pela atuação do Estado todos os dias, o que, por óbvio, limita de forma contundente o direito à cidade dos cariocas. O território passível de utilização e apropriação pelos citadinos é reduzido, ou até extinto, com o estabelecimento de espaços de morte a partir de conflitos diários envolvendo armamentos letais e extermínios de indivíduos, especialmente pobres e negros. 

Somente a polícia do Rio de Janeiro foi a responsável por 23% do total de letalidade no Brasil, no ano de 2018. Neste cenário, como podemos compreender o que é letalidade policial?

Agência Brasil
Segundo o Relatório Anual de 2019 foram registrados no ano passado 7.365 tiroteios na região metropolitana do Rio de Janeiro.

A primeira morte por bala perdida de 2020, segundo notícia veiculada pela BandNews , teria ocorrido ainda na primeira semana do ano, em 06 de janeiro, em uma operação não confirmada pela polícia militar. Para além dos dados alarmantes disponíveis, é preciso destacar que muitos casos não entram nas estatísticas e permanecem mascarados. Se os dados oficiais assustam, a realidade diária da cidade, principalmente das favelas e periferias, aterroriza. 

Neste cenário, como podemos compreender o que é letalidade policial?

Letal é tudo que acarreta morte, portanto, letalidade policial significa a ocorrência da morte pela atuação da polícia, agente do Estado de ampla atuação nas cidades. Somente a polícia do Rio de Janeiro foi a responsável por 23% do total de letalidade no Brasil, no ano de 2018, de acordo com o Ministério Público do Rio de Janeiro.

O aumento da violência policial, cuja letalidade é o índice mais representativo, está diretamente relacionado a uma atuação estatal que resume as políticas públicas urbanas ao recrudescimento das ações voltadas à segurança pública. Esse tipo de atuação estatal é movido pelo discurso de medo na cidade e pela constante busca pelo controle social militarizado e verticalizado sobre setores mais pobres da população.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Ana Flávia Eccard

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