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Povo toma ruas do EUA e diz "Já Basta!" à violência policial contra afro-estadunidenses

Nas maiores manifestações populares desde o assassinato de Martin Luther King Jr, em 1968, milhões se unem e exigem fim do racismo estrutural nos Estados Unidos
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Nova York. Uma vez mais explode a ira diante da violência oficial sistemática contra a comunidade afro-estadunidense, com outro grito de “já basta” escutado desde Minneapolis a várias cidades do país.

O presidente Donald Trump ameaçou enviar tropas e disparar contra os amotinados.

“Há revolta porque a polícia não nos protege como dizem que fazem… Estamos perdendo seres queridos todos os dias. Não somos nós, é a polícia, esta é a loucura que eles provocaram. Se tiras (a vida) um ser querido, tens muita gente dolorida. E isto não acaba hoje. Nós não somos os que estamos matando, esses são vocês. Não podemos fazer uma mudança se vocês não mudam” declarou um jovem adolescente nas ruas de Minneapolis durante a revolta de fúria na noite de quinta e madrugada de sexta, em entrevista a video repórteres.

O caso que detonou a nova onda de fúria – só um dos incontáveis – aconteceu na segunda-feira passada em Minneapolis quando um policial branco, acompanhado de três oficias, prendeu George Floyd, um homem afro-estadunidense acusado de um delito não violento, sujeitando-o com algemas em um estacionamento onde fez com que deitasse no chão, ajoelhou em seu pescoço por vários minutos, enquanto o detido exclamava: “não posso respirar”. Morreu pouco depois. “Foi uma execução pública”, declarou um observador.

Mídia Ninja / Minneapolis / Twitter Reprodução

Embora os quatro policiais tenham sido despedidos, o culpado não foi preso até sexta-feira e só depois das revoltas e demandas por todo o país, Derek Chauvin, cuja imagem ajoelhado no pescoço de Floyd viralizou, foi acusado de homicídio seus três colegas estão sendo investigados. 

Nas maiores manifestações populares desde o assassinato de Martin Luther King Jr, em 1968, milhões se unem e exigem fim do racismo estrutural nos Estados Unidos

Vraig Lassig / Reprodução Twetter
Protestos em Minneapolis / No Justice, No Peace

Revolta em Minneapolis se espalha por todo o país

Os protestos explodiram pelo terceiro dia na quinta e na madrugada de sexta em Minneapolis que foram enfrentados com gases lacrimogêneos e balas de borracha por parte da polícia, provocando uma revolta civil que culminou com o ocupação de um quartel policial em um dos bairros mais afetados pela violência oficial, que foi incendiado enquanto as forças de segurança fugiam. 

As autoridades declararam estado de emergência na cidade e se deslocaram elementos da Guarda Nacional. O prefeito Jacob Frey declarou um toque de recolher das 20 horas de sexta-feira até 6 de manhã de sábado. 

Após denúncias, Twitter enquadra Trump

Trump emitiu um tuíte – que foi parcialmente ocultado pelo Twitter / PexelsPouco depois da uma da manhã de sexta, Trump emitiu um tuíte – que foi parcialmente ocultado pelo Twitter ao considerar que violava suas normas por “glorificar a violência” – no qual ameaçou disparar contra os manifestantes que chamou de “matões” (thugs em inglês); criticou o prefeito por ser um “débil radical de esquerda” que não estava conseguindo controlar e que estava disposto a enviar tropas da Guarda Nacional, advertindo que “qualquer dificuldade e assumiremos o controle, mas quando comece o saque, começam os tiros”.

A mensagem foi denunciada por uma ampla gama de figuras como racista (a frase sobre o saque é exatamente a que usou um famoso chefe de polícia de Miami em fins dos anos sessenta ao ameaçar manifestantes); Trump tentou retificá-la sem conseguir. 

“Não posso respirar”

“Cartazes se multiplicaram” / Twitter ReproduçãoEnquanto milhares se manifestavam em Minneapolis, outros protestos explodiram em mais de 10 cidades dos EUA incluindo Nova York, Los Angeles, Memphis, Columbus, Phoenix, Atlanta e Louisville, algumas das quais continuaram hoje a reportar a ocorrência de mais prisões. O cartaz mais comum é “não posso respirar”. 

Em algumas houve casos de violência e dezenas de detenções – entre essas a de uma equipe de jornalistas da CNN em Minneapolis que foram rapidamente libertados com desculpas do governador. 

Com tudo isso renovou-se o debate em torno de um tema que obviamente não foi resolvido depois de repetidas promessas e compromissos ao longo dos últimos anos.

Fracasso de Obama respinga em Joe Biden

O ex-presidente Barack Obama declarou que “isto não pode ser ‘normal’ nos Estados Unidos de 2020”, e pediu um esforço para criar uma “nova normalidade”. Não assumiu nenhuma responsabilidade por seu fracasso em conseguir isso durante seus oito anos na Casa Branca.

O ex-vice-presidente e virtual candidato presidencial democrata Joe Biden denunciou as palavras de Trump e declarou que “isto é uma crise nacional” em que se requer de uma “verdadeira liderança para abordar as feridas abertas pelo do racismo no país”.

O senador Bernie Sanders emitiu uma mensagem afirmando: “Não podemos esperar mais para agir de maneira firme e audaz para extirpar o câncer do racismo sistêmico e violência policial contra gente de cor. Isso tem que parar”. 

Apoio sindical e civil

“Black Lives Matter” / Midia NinjaEm Minneapolis, sindicatos e agrupações sociais estão se unificando em apoio aos manifestantes e às demandas por justiça no caso. Motoristas sindicalizados de ônibus municipais sob ordens da polícia recusaram transportar os detidos às prisões, Alguns sindicatos nacionais, como o siderúrgico (USW) deploraram os fatos como parte de um padrão de violência racista nos Estados Unidos.

“Não creio que as pessoas tenham sido tão violentas como o sistema tem sido contra eles”, explicou Michael McDowell, um fundador de Black Lives Matter em Minneapolis. “Estão reagindo a um sistema violento… Já não vou tolerar isso. Por isso, Minneapolis está ardendo, indicou ao Washington Post.

Floyd, o que revelam os números

Embora o caso de Floyd tenha sido o que detonou essa onda de protestos contra a brutalidade policial e outro violência racista contra minorias, seu caso é só o mais recente. Nas últimas semanas se pode contar o caso de Breonna Taylor, una técnica médica de emergência de 26 anos que foi morta a balaços por policiais em Louisville que entraram à força em sua casa durante uma investigação antinarcóticos em março. Em fevereiro, Ahmad Arbery de 25 anos, foi assassinado por um par de homens brancos quando estava fazendo exercícios em um subúrbio da Geórgia.

E previamente inúmeros casos anteriores, entre esses o de Eric Garner que também foi sujeitado por policiais em Nova York, em 2014, de tal maneira que suas últimas palavras foram iguais às de Floyd esta semana: “não posso respirar”, geraram o surgimento de movimentos novos de direitos civis incluindo Vidas Negras Valem (Black Lives Matter), entre outros.

“Sonhamos uma utopia, mas despertamos gritando”, diz uma nova inscrição em Minneapolis.

David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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