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Água limpa é um direito humano. Nos Estados Unidos, é mais uma máquina de lucro

Quando se trata de infraestrutura de água, os desafios dos EUA se assemelham aos de um país em desenvolvimento. É hora disso mudar
Bernie Sanders
Carta Maior
São Paulo (SP)

Tradução:

Como é possível que, em meio a uma pandemia, as crianças que vivem no país mais rico da história do mundo estejam sendo envenenadas pela água da torneira? Por décadas, nosso governo tem priorizado os lucros das empresas, a garantir o direito à água potável a seu povo. 

Negligenciamos os investimentos públicos mais básicos para manter os norte-americanos saudáveis e seguros. Agora, no momento em que os EUA enfrentam uma crise de saúde pública sem precedentes, não podemos mais continuar no curso em que as empresas foram autorizadas a comprar, privatizar e lucrar com um direito humano básico.

Veja também: EUA, Coca-cola e PSDB: os interesses por trás do novo marco legal que privatiza a água

A solução não é mais privatização – cabe ao Congresso encerrar décadas de negligência e investir imediatamente bilhões em nossos sistemas públicos de água, para que possamos finalmente garantir água potável para todos.

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Por isso, nos unimos ao Deputado Federal Ro Khanna para apresentar a Lei de Acessibilidade, Transparência, Equidade e Confiabilidade da Água [também chamada de Lei da Água]. Essa legislação abrangente forneceria até US$ 35 bilhões por ano para reformar nossa infraestrutura de água em todo o país.

Quando se trata de infraestrutura de água, os desafios dos EUA se assemelham aos de um país em desenvolvimento. É hora disso mudar

Reprodução: pexels
"Antes da pandemia de coronavírus, quase 14 milhões de famílias não podiam pagar suas contas de água"

Inacreditavelmente, quando se trata de infraestrutura de água, os desafios dos EUA se assemelham aos de um país em desenvolvimento. A Sociedade Americana de Engenheiros Civis atribui à nossa infraestrutura de água potável um grau “D” e nossa infraestrutura de águas residuais um “D ”. A Agência de Proteção Ambiental estima que o esgoto bruto transborda pelo menos 23.000 vezes por ano.

Até 1,7 milhão de americanos não têm acesso a instalações hidráulicas básicas, como banheiro, banheira, chuveiro ou água corrente básica. Quase 200.000 famílias não têm absolutamente nenhum sistema de esgoto. Até 10 milhões de casas em todos os EUA recebem água através de tubos de chumbo. Seis anos desde o início de sua crise hídrica, a cidade de Flint ainda não possui água limpa. Enquanto isso, em Denmark, na Carolina do Sul, as famílias são obrigadas a viajar 30 quilômetros todo mês para coletar água potável.

Veja também: Entenda como a privatização da água no Brasil pode provocar um retrocesso ao planeta

Não apenas os norte-americanos precisam lidar com água potável de baixa qualidade e muitas vezes tóxica, como também temos o “privilégio” de pagar muito caro por ela. Antes da pandemia de coronavírus, quase 14 milhões de famílias não conseguiam pagar suas contas de água, cujos preços aumentaram mais de 40% desde 2010.

Nesse ritmo, mais de um terço das famílias norte-americanas talvez não consigam pagar suas contas de água daqui a cinco anos. Além disso, devido ao colapso econômico causado pelo coronavírus, milhões de norte-americanos, que não sabem de onde virá seu próximo salário, agora correm o risco de perder o serviço de água. Dado que as autoridades de saúde pública alertam que essa doença mortal estará conosco por algum tempo, como as famílias devem lavar as mãos regularmente quando sua empresa de serviços públicos corta seu abastecimento de água?

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Não deveria ser uma ideia radical dizer que todas as famílias devem poder se proteger do coronavírus e de outras doenças praticando uma boa lavagem das mãos e higiene com água limpa e acessível em suas casas. Nossa legislação é projetada para garantir que as comunidades desfavorecidas – incluindo comunidades pequenas, rurais e indígenas – recebam o financiamento e a assistência de que precisam para cobrir todos. A Lei da Água concederia subsídios às famílias e comunidades para fazer reparos na infraestrutura hídrica, substituir as redes de chumbo e filtrar com segurança os compostos tóxicos da água potável. Segundo o projeto, as famílias que precisam de ajuda podem obter subsídios para melhorias nos poços domésticos e sistemas sépticos. As escolas também receberiam até US$ 1 bilhão por ano para melhorias na infraestrutura hídrica para lidar com o chumbo e outros problemas hídricos. E esse projeto ajuda a responsabilizar as empresas de serviços públicos por se envolverem em cortes de serviços, discriminação e violações de direitos civis.

Veja também: Paulo Guedes aproveita-se de crise sanitária para privatizar as águas na surdina

O povo norte-americano não pode esperar mais um dia. Os pais não devem se preocupar que seus filhos sofram sérios problemas de desenvolvimento ao beber água da torneira contaminada por chumbo em suas casas ou escolas. Nosso povo não deve ser forçado a escolher entre pagar pela comida ou a conta da água. Dada a enormidade dessa crise e como o direito à água potável é essencial para uma resposta eficaz à pandemia, uma lei abrangente de alívio à crise deve incluir a Lei da Água.

Os Estados Unidos da América não devem ter água tóxica ou inacessível. Quando as pessoas no país mais rico do mundo abrem as torneiras, a água que bebem deve estar limpa. No momento em que lidamos com um vírus mortal que já matou 120.000 americanos, a lavagem das mãos, o bom saneamento e os ambientes seguros e higiênicos não são opcionais. 

Vamos avançar juntos e exigir que o Congresso finalmente faça os investimentos necessários em água limpa para todos os norte-americanos, colocando a vida humana à frente dos lucros das empresas. Nossas comunidades mais vulneráveis dependem disso.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

*Publicado originalmente em ‘The Guardian‘ | Tradução de César Locatelli

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Bernie Sanders

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